Coração
projeto de vida
Se
refletirmos um pouco observaremos que todos os projetos em que nos
fixamos têm como ponto de partida um ato do coração.
Dizíamos
que o ato de amar é um ato do coração, que consiste em recordar, e
que nesse ato conflui a inteligência e a vontade. Por isso o coração
possui uma dinâmica unificadora da pessoa, que a leva a orientar as
demais potências da alma em direção ao ser amado.
Se
refletirmos um pouco observaremos que todos os projetos em que nos
fixamos têm como ponto de partida um ato do coração. Por exemplo,
para optar por uma carreira universitária não basta adquirir um
conhecimento das diversas matérias que estudaremos, nem tampouco é
suficiente saber que contamos com uma série de hábitos e aptidões
que nos assegurariam o sucesso profissional. Mas sim, o que importa é
um desejo de orientar nossa vida para esse objetivo. A escolha
profissional consiste muito mais em uma aspiração de futuro do que
em certas aptidões e conhecimentos, que só se tem quando se está
começando.
Desejos
e aspirações também são uma espécie de recordação. Só se
deseja aquilo que se traz continuamente para a memória, o que não
se esquece. Se for algo que se esquece, deixa de ser desejado. Por
isso, aspirar a algo é um ato de torná-lo presente no coração. O
amor tem muito de desejo, de sede de satisfação. O coração, à
medida que ama, quer amar mais, não se cansa de amar, não se sacia
de contemplar o objeto amado.
Quando
o coração está enamorado, as potências da alma se expandem
encharcadas daquilo que se está constantemente contemplando com o
olhar interior. Um ser enamorado é o que trabalha, estuda, viaja,
descansa e incentiva um tipo de amizade, preferências, diversões
etc. permanecendo ancorado no que ama. A tendência natural dos que
amam é agir assim, serem naturalmente deste jeito, não havendo
necessidade de fazerem grande esforço nem de terem deliberado
propósito em recordar para que vivam orientados interiormente em
relação ao ser amado. No interior do verdadeiro amante, todas as
coisas acabam sempre se referindo ao ser amado, e só assim encontram
um sentido e um significado mais pleno para si mesmo. Nesta
perspectiva, pode-se compreender melhor o conselho da Raposa ao
Pequeno Príncipe: “não se vê bem – disse a Raposa ao Pequeno
Príncipe - senão com os olhos do coração. O essencial é
invisível para os olhos” *. Na vida de uma pessoa que ama, todas
as coisas adquirem seu justo valor e realce quando são
compartilhadas com o ser amado. Tudo o que se quer é para o ser
amado, e sem a sua presença, nada satisfaz plenamente.
Por
isso é que é necessário que o objeto amado esteja à altura das
potencialidades do ser humano! Que seja capaz de satisfazer, à
plenitude, todos os desejos e aspirações humanas. Quando falamos de
projeto de vida nos referimos, sobretudo, a esse manancial de amor no
qual se deseja fixar o olhar interior. Dinheiro, honra, fama, filhos,
obras de caridade, Deus, cada qual desses exemplos constitui a
aspiração de muitas pessoas, porém nem todos são, na realidade,
fins que nos cumulam de amor. Sabemos que o coração não se
engrandece nem se sacia com o dinheiro, nem com a fama, nem com a
honra, mas, ao contrário, tende a apequenar-se. Por outro lado, os
filhos, a família, a amizade e as obras de caridade ao próximo
proporcionam relações de amizade e amor plenas. Contudo, também
exigem muita grandeza de coração, porque podem chegar a ser,
justamente elas, a principal fonte de discórdia e de sofrimento
humano.
A
complexidade dos relacionamentos humanos, essa estrutura dramática
da vida que todos experimentamos cada vez que passamos da alegria à
tristeza, da satisfação ao tédio, da companhia à solidão, do
amor ao ódio, não são outra coisa que a dinâmica, o movimento, do
coração. Trata-se de um processo que exige uma contínua elevação
na escala do amor, que comporta dor e sacrifício. Inclusive o amor
dos bons esposos, que enche o coração de satisfação e plenitude,
tampouco está isento de experimentar esses pequenos ou grandes
"dramas" que se devem superar com um pouco de dor e às
vezes com lágrimas.
Por
isso, para que o amor humano seja pleno, necessita também de
alimentar-se de Deus. Somente Deus pode preencher os desejos do
coração humano e, ao mesmo tempo, deixá-lo aberto aos demais. Amar
a Deus significa buscá-Lo com o coração, recordá-Lo,
contemplá-Lo. Quando o coração se acha fundamentado em Deus, todas
as relações interpessoais melhoram e adquirem um peso, uma
fidelidade e uma riqueza “à prova de balas”.
Qualquer
projeto de vida, de compromisso estável, que se pretenda definitivo,
deve ter em Deus o centro e o norte de toda a dinâmica do amor
interior. Viver na esperança, ser forte, paciente, otimista,
consiste em manter-se firme na recordação de que um dia nos
encontraremos face a face com Deus, plenitude infinita de todos os
anseios do coração.
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