Frágeis
pensamentos sobre a verdade
O
pensamento precisa de espaço para pensar. Para cogitar, faz bem
desembaraçar-se de censuras. Transpor valados não significa
cortejar desastre. Existe vida além do horizonte. Lá, onde vivem os
delinquentes também há amor. Aliás, cria melhor quem ousa
visitar a trincheira dos hereges.
Quem
pensa não inventa a verdade; a verdade constrói o
pensador. Newton não imaginou a lei da gravidade, foi a
gravidade que transformou os seus olhos. Depois que uma maçã
despencou, Newton perguntou: Por que ela cai e não flutua? Dessa
pergunta a humanidade descobriu a verdade que os corpos se atraem na
razão direta das massas e inversamente ao quadrado da distância que
os separa. A verdade já existia, mas precisava de uma mente
pronta para acolhê-la.
Além
da verdade empírica permanecem a estética, a mística e a
ética.
Michelângelo
sentiu
a dor de Maria e foi capaz de expressá-la em um bloco de mármore, a
Pietá; Picasso horrorizou-se com a guerra e Guernica se
eternizou. Beethoven, Bach, Mozart e outros virtuoses ouviram
melodias, escreveram partituras, e as orquestras passaram a encantar
o mundo.
São
João da Cruz, Mestre Eckhart, Teresa de Ávila e muitos místicos
intuiram verdades que os Catecismos, as Confissões de Fé e as
Dogmáticas não abarcaram. Repetiram que a verdade descansa no
mistério, no absurdo, onde a razão não chega.
Ghandi,
Martin Luther King, Madre Teresa de Calcutá, Jimmy Carter encarnaram
a máxima cristã de que a vida eterna pertence a quem se curva para
ajudar o caído. Os juízes e os magistrados são profetas que
pelejam pelo que é justo e correto.
A
verdade, porém, é maior que a capacidade humana de concebê-la. O
saber de todas as bibliotecas mal arranha a superfície da complexa
mecânica do universo. A beleza de todos os museus guarda meros
fragmentos da criatividade do coração de homens e de mulheres.
A percepção de todos os santos é incapaz de discernir o
imponderável do mundo espiritual. Toda a bondade já encarnada não
exaure a nobreza que ainda pode ser vivenciada no mundo.
A
verdade depende da graça para não correr o perigo de ser
instrumento de morte; carece de conectar-se com a vida para não
ficar confinada a uma torre de marfim; precisa ser humilde para não
gerar arrogância.
Toda a
verdade pertence a Deus.
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