QUANDO vejo uma árvore sozinha, no alto de uma colina ou no meio de um descampado vasto, aquilo me agarra a vista.
Sempre achei que aquela era a imagem mais bonita da solidão.
Há alguma poesia velada nas árvores sós.
É bonito porque aquela árvore ali quieta e digna sempre me pareceu um ato solene de liberdade. É como se ela me dissesse: estou bem, estou sã, continuo sombreando e dando frutos aqui.
“O exílio não me pesa”, diz a árvore.
Isso me chama atenção porque, ao menos para mim, a solidão necessita de intermitências.
Dia desses vi novamente uma árvore frondosa e só.
E meu sentimento foi outro.
Busquei e não vi mais solidão. Vi um retrato claro das companhias tão óbvias quanto escondidas. Humildes e cúmplices.
Havia a árvore e o vento, a árvore e o mato, a árvore e seu chão firme, a árvore e o céu vasto, casto e azul. A árvore e os insetos, a árvore e os pássaros. A árvore e os passantes que se sentam ali para descanso. A árvore e o tempo. A árvore e a noite, a lua, as estrelas e os barulhos dos carros passando de longe. A árvore e eu.
Havia uma multidão naquela clareira.
E eu, ainda que na beleza de uma solidão posta em um monte verde e livre, vi as minhas companhias. Os outros e eu. Meus amigos e eu. Os amores e eu. Os vínculos de sangue e eu. Os laços de alma e eu. Deus e eu. O mundo que me espera e eu, que o espero com esperança.
E nas solidões de concreto, escuras, duras e densas, está tudo.
Estão todos e eu.
Talvez estar vivo seja ser companhia.
E viver seja companheirar.
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