sexta-feira, 1 de julho de 2022

CARNE

 CORTANDO NA PRÓPRIA CARNE

Quando um não cristão faz piada com elementos da minha religião, não me sinto ofendido. Em vez disso, pergunto-me se a postura de alguns cristãos não estaria dando munição para que se fizesse chacota de sua fé. Pior do que fazer piada é tornar-se motivo de piada. Mas quando vejo um cristão ridicularizando a crença alheia, reforçando estereótipos, sinto-me ultrajado. Não é porque fazem conosco que temos o direito de fazer com os outros. Pelo contrário! Quem já foi vítima não tem o direito de fazer vítimas. 


Portanto, não se refira a muçulmanos como terroristas, nem a fiéis de religiões de matriz africana como macumbeiros. Assim como Jesus não se referiu ao centurião romano que suplicou pela cura de seu servo como pagão idólatra. Em vez disso, Jesus elogiou sua fé, ao mesmo tempo em que criticava severamente a fé performática dos religiosos fariseus. Algo análogo pode ser dito acerca da violência perpetrada por policiais. Se um policial age fora da lei, entrando em comunidades periféricas atirando a esmo, matando inocentes, eu certamente protestarei. Mas se um policial morre no exercício de sua função, eu certamente lamentarei, e verei com bons olhos qualquer homenagem que se faça a ele. Mas não vejo razão de protestar.  


A quem vou dirigir meu protesto? Àqueles que vivem à margem da sociedade? A alguma instância superior do crime organizado? Acha mesmo que eles repensarão suas ações por causa do meu protesto? Se um trabalhador morre numa operação policial desastrosa, meu protesto é legítimo, posto que não é papel da polícia matar trabalhadores. Mas se este mesmo trabalhador morre pelas mãos de bandidos, meu protesto é absolutamente inócuo. Lamentar sim, protestar, não. Meu protesto só será válido se for direcionado aos que deveriam ter garantido a segurança desse trabalhador e não aos criminosos que ceifaram-lhe a vida.

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