quarta-feira, 6 de julho de 2022

QUIMICA

 A QUÍMICA DO CORAÇÃO - Se nos conhece tão bem, por que Deus prova nossos corações? -

No mesmo salmo em que Davi afirma que “de longe” Deus entendia seus pensamentos, ele pede: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos” (Sl.139:2,23). Ora, se Ele nos conhece tão bem, a ponto de saber o que pensamos, mesmo antes que a palavra nos chegue à boca, por que deveria nos provar? Não há nada que façamos que Lhe passe despercebido. Ele esquadrinha nosso andar e o nosso deitar; conhece todos os nossos caminhos. Ele criou o nosso interior, moldando-nos no ventre materno. Os Seus olhos viram nosso corpo ainda informe. Portanto, conhece profundamente nossa composição orgânica e psíquica. Todos os nossos dias foram previamente ordenados por Ele. Quem nos conhece tão bem quanto Ele? Então, por que nos provar?
Uma das razões pelas quais Deus nos prova é revelar-nos o estado do nosso coração. Ao provar-nos, Deus deseja nos conduzir pelas sendas do autoconhecimento. Não é Ele quem precisa nos conhecer, mas nós que necessitamos nos conhecer mais. Tornamo-nos estranhos a nós mesmos. Iludimo-nos, achando que nos conhecemos, porém somos sempre surpreendidos com facetas desconhecidas de nossa personalidade.
Segundo o diagnóstico divino, o coração humano é enganoso, mais do que todas as coisas, e incorrigível. “Quem o conhecerá?”, indaga o Senhor. “Eu, o Senhor, esquadrinho o coração, e provo a mente, para dar a cada um segundo os seus caminhos, e segundo o fruto das suas ações” (Jeremias 17:9-10).
O pior dos enganos é o auto-engano. Nosso coração sempre nos prega peças. Seu grau de corrupção chegou a tal ponto que se tornou incorrigível. Em outras palavras, não tem jeito.
Uma das razões que levou o coração humano a chegar a tal estado é explicado pelo sábio rei Salomão:
“Visto que não se executa logo o juízo sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto à prática do mal.” Eclesiastes 8:11
A justiça divina não admite impunidade, mas requer que todo erro seja devidamente tratado. Porém, a aplicação desta disciplina sempre visa o bem e a restauração de quem errou. Entretanto, às vezes, tal disciplina parece tardar-se. E a razão desse retardamento proposital está explícita nas Escrituras: “Ele é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se” (2 Pedro 3:9). É a Sua misericórdia que suspende temporariamente o juízo, dando-nos tempo para que nos arrependamos (Apocalipse 2:21). Mas o homem, em sua alienação espiritual, entende isso como uma licença para pecar, um salvo conduto para continuar em rota de colisão com a vontade de seu Criador. Por isso, seu coração fica inteiramente disposto à prática do mal. Ele não percebe que a justiça de Deus tarda, porém não falha (Naum 1:3).
Podemos crer em nossa própria avaliação?
Dado o estado lastimável do coração humano, como acreditar em sua capacidade de avaliação? Seríamos aptos a julgar com isenção? De acordo com Salomão, “o que confia no seu próprio coração é insensato” (Provérbios 28:26a). Quando julgamos os outros, geralmente somos severos em nossos critérios de avaliação. Mas quando julgamos a nós mesmos, somos sempre condescendentes. Como bem disse em outro provérbio, “todos os caminhos do homem são inocentes aos seus olhos, mas o Senhor pesa os motivos” (Provérbios 16:2). Há, portanto, uma instância que só Deus pode julgar: nossas motivações.
Deus não Se deixa impressionar por performances. Ele avalia aquilo que nos motivou. É possível fazer a coisa certa, mas pelos motivos errados. Aos olhos dos homens, parecemos santos e irrepreensíveis, porém, aos olhos de Deus estamos deixando a desejar.
Quando olhamos para dentro de nós, deparamo-nos com motivações inconfessáveis. E para tranquilizarmos nossa consciência, sempre buscamos justificativas. Em vez de buscar nos reconciliar com Deus, buscamos nos reconciliar com o travesseiro.
Nossa avaliação só é válida quando concorda com a avaliação do próprio Deus. Não temos o direito de nos opor aos Seus próprios critérios. Se Ele disser que algo é mal, não há o que se discutir. Vale aqui a admoestação de Isaías:
“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal, que fazem da escuridade luz, e da luz escuridade, que põem o amargo por doce, e o doce por amargo.” Isaías 5:20
Entre confiar em meu próprio paladar e confiar no que Deus diz, prefiro confiar cegamente em Sua Palavra. Meus sentidos não são inteiramente confiáveis. Devemos viver por fé, e não por vista. E viver por fé nada mais é do que submeter-se inteiramente à avaliação de Deus.
Achamos que somos profundos conhecedores de nós mesmos, de nossa natureza. Além de nossa típica condescendência, somos muito superficiais. Temos medo de nos aprofundar. Alguns dos nossos erros são patentes, porém outros nos são ocultos.
“Quem pode entender os próprios erros? Purifica-me dos que me são ocultos.” Salmos 19:12
Para sermos restaurados temos que trilhar o caminho do arrependimento e da confissão. Arrepender-se é concordar com a avaliação de Deus, sem tentar justificar-se. Confessar é expor a ferida para que seja tratada. Mas como podemos nos arrepender e confessar aquilo que nos é oculto? Seria como se automedicar, sem saber de que enfermidade está acometido. Temos que passar por exames médicos, que vão diagnosticar com precisão a doença que precisa ser tratada. Sabendo disso, Davi orava ao Senhor: “Sonda-me, ó Deus...” (Salmos 139:23). Não é Ele que necessita nos sondar para ver quem realmente somos. Esta sondagem visa nos fazer conhecer as facetas ocultas do nosso ser. Ele nos sonda para nos revelar o que está encoberto, e assim, nos possibilitar o arrependimento.
“Disse eu no meu coração: Isso é por causa dos filhos dos homens, para que Deus possa prová-los, e eles possam ver que são em si mesmos como animais.” Eclesiastes 3:18
“A luz que a tudo manifesta” é acesa nos recônditos mais escuros do ser, possibilitando-nos enxergar toda a poeira acumulada na mobília da nossa alma (Efésios 5:13). Ora, ninguém pode fazer uma faxina na casa com as luzes apagadas.
Como Deus sonda o nosso coração?
A análise química de uma substância é feita a partir da reação que ela tem a um determinado elemento. Por exemplo: a água e o álcool têm aparência semelhante, mas cada um reage de maneira diferente ao fogo.
Deus se utiliza de vários elementos reagentes para nos provar. Nossa reação vai revelar o que há em nosso coração.
Um dos elementos usados por Deus para nos provar são situações que nos fazem sentir humilhados. Foi assim com o povo hebreu durante sua marcha de quarenta anos pelo deserto do Sinai. Confira o que disse o Senhor:
“Guarda-te de não te esqueceres do Senhor teu Deus, não cumprindo os seus mandamentos, os seus juízos e os seus estatutos que hoje te ordeno, para não suceder que, depois de teres comido e estares farto, de teres edificado boas casas e habitado nelas, e depois de se multiplicarem as tuas vacas e as tuas ovelhas, e aumentar a prata e o ouro e tudo quanto tens, se ensoberbeça o teu coração e te esqueças do Senhor teu Deus, que te tirou da terra do Egito, da casa da servidão; que te guiou por aquele grande e terrível deserto de serpentes abrasadoras, de escorpiões, de terra árida e sem água onde fez jorrar para ti água da pedra dos rochedos, que no deserto te sustentou com maná, que teus pais não conheceram, a fim de te HUMILHAR e PROVAR, e afinal te fazer bem. Não digas no teu coração: A minha força e o poder do meu braço me proporcionaram esta riqueza.” Deuteronômio 8:14-17
Não se trata de sadismo! Deus não tem prazer nisso. Seu propósito sempre é de nos fazer bem. “Humilhar” aqui não é pisar, espezinhar, mas ensinar a reconhecer nossas limitações, e consequentemente, nossa dependência de Sua graça. Situações potencialmente humilhantes podem nos precaver da soberba resultante de um espírito autossuficiente. Lembre-se de que a soberba precede a queda.
Outro elemento usado por Deus é a repreensão.
A razão pela qual Deus nos repreende é o Seu profundo amor por nós. É por se importar com o nosso bem, que Deus nos chama a atenção: “Filho meu, não rejeites a disciplina do Senhor, nem te enojes da sua repreensão, porque o Senhor corrige aquele a quem ama, assim como o pai ao filho a quem quer bem” (Provérbios 3:11-12).
O sábio e o tolo agem de maneiras distintas quando repreendidos:
“O que ama a disciplina ama o conhecimento, mas o que odeia a repreensão é estúpido.” Provérbios 12:1
Há duas maneiras de o tolo reagir à repreensão: ou ele se enoja, sentindo-se ofendido, ou fica indiferente. Às vezes a indiferença é pior do que sentir-se ofendido. O indiferente ouve, mas não escuta. A repreensão fica como água empoçada no asfalto. Mas o sábio reage diferentemente:
“Mais profundamente entra a repreensão no prudente, do que cem açoites no tolo.” Provérbios 17:10
A tabela periódica de Deus está repleta de elementos com os quais Ele testa o coração humano: elogios, críticas, autoridade, prosperidade, adversidades, etc.
Como reagimos, por exemplo, a um elogio? E quando somos severamente criticados? E ainda: quando nos é delegada autoridade? Dizem que o poder é capaz de mudar os homens. Discordo! O poder não muda ninguém. Apenas revela o caráter antes disfarçado de virtudes.
Controle das variáveis
Deus sabe até onde podemos suportar e tem o controle de todas as variáveis. Dependendo das circunstâncias, a substância pode reagir ao elemento de maneira diferente.
Se Jesus não estivesse em jejum por quarenta dias no deserto, a tentação de transformar pedras em pães não faria qualquer sentido. Imagina se Ele houvesse saído de uma churrascaria gaúcha... Seria mais sugestível transformar pedras em sobremesa.
Jesus foi tentado ao extremo. Todos os seus limites foram postos à prova. E não pense que sua boca não se encheu de saliva quando ouviu a sugestão do Maligno. Embora não seja Deus o autor da tentação, Ele tem o controle de todas as variáveis. Deus prova, mas não tenta.
Reconhecendo os limites
Ora, se agora sei onde sou mais fraco e vulnerável, devo me precaver, evitando ao máximo me expor a situações melindrosas. Quem reconhece suas limitações, não vai querer correr riscos desnecessários. O penúltimo capítulo de Provérbios nos adverte para isso:
“Duas coisas te peço, ó Senhor; não as negues a mim, antes que eu morra: Afasta de mim a vaidade e a palavra mentirosa; não me dês nem a pobreza nem a riqueza, mas dá-me só o pão que é necessário, para que de farto eu não te negue, e diga: Quem é o Senhor? Ou empobrecendo, não venha furtar, e profane o nome de Deus.” Provérbios 30:7-9
Eis um homem que não confiava em seu próprio coração. Agur, autor dessas palavras, sabia que não estava pronto nem para a riqueza, nem para a pobreza. Ele preferia não correr riscos. Não se trata de covardia, mas de prudência.
Confiemos mais no Espírito da Graça e menos na força dos nossos braços e em nossa força de vontade. E que sejamos continuamente motivo de glória para o nosso Pai Celestial.

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