PERMITIR

 Infelizmente, tendo em vista a cultura do "pode mais quem é mais forte", "manda quem pode e obedece quem tem juízo" e do "cala boca! Aqui quem manda sou eu", os relacionamentos, nas mais diversas áreas (entre pais e filhos, professores e alunos, amigos, colegas de trabalho, superiores e subordinados, etc.), são predominantemente, com raríssimas exceções, construídos na base da FALTA DE RESPEITO. E isso não é novidade.

A falta de respeito encontra-se escancarada em uma cultura de dominação, ou melhor, em uma cultura que usa a força como forma de se defender da sua própria, mas muitas vezes rejeitada, condição humana de vulnerável, precário e indigente.

Isto posto, acabamos banalizando o respeito, ou melhor, a falta dele. Ou seja, achamos que é normal a falta de respeito em nossas relações, de forma geral, acarretando consequências a nossa vida. Tais consequências são, pelo menos: stress, sentimentos de inferioridade, raiva, mágoa, tristeza e insegurança.

Portanto, se você sente, percebe ou tem consciência de que se encontra em um relacionamento abusivo, seja este em qualquer tipo de relação (amorosa, de trabalho, familiar) tente refletir sobre as questões a seguir:

Será que quando você é desrespeitado(a), você já não se desrespeitou primeiro, ao permitir que a situação chegasse neste estágio? (Note que a partir do momento em que você não se respeita, você já não está respeitando mais ninguém, pois sua relação junto ao outro passa a ser dissimulada.)

O que você espera de um relacionamento onde você não consegue manter ativos os seus limites, deixando que estes sejam violados?

Que medo é esse para que você se sujeite a viver de forma a desperdiçar sua vida? Seria o medo da responsabilidade? Seria o medo de ter que cuidar de si? Seria o medo de se responsabilizar pela sua felicidade e de fato buscar ser feliz pelas suas próprias ações?

Que valor tem sua vida para você, a ponto de deixá-la nas mãos de outra pessoa? Você entende que é o(a) único(a) responsável pela sua felicidade?

Apesar da sua situação atual, o que você pode fazer por você mesmo? Quando você se encontra em um relacionamento abusivo, seja este de que ordem for, você, primeiramente, não odeia o outro, mas odeia a si, pois não se cuida, não se respeita, e entrega a responsabilidade de se cuidar, de tentar ser feliz, para o outro, que está preocupado tão somente em também sobreviver. É preciso carinho para identificar qual o sentido de não se cuidar; qual a mágoa ou carência que torna seu descuidado real, mesmo que doa.

O grande risco de sair de um relacionamento abusivo sem refletir sobre o seu modo de ser, que junto ao outro desenvolveu este relacionamento que restringe, diminui seu mundo e suas possibilidades, é tornar a repeti-lo com outra pessoa, sofrendo novamente, ou pensar que nunca mais será feliz com mais ninguém, pelo medo de sofrer.