A rua é igual a tantas outras, principalmente no movimento de pedestre e carros. Mas naquela rua tem um pé de roseira muito especial, com rosas cor laranja. A produção da roseira desconhece interrupção, creio eu. São muitas rosas, até em cachos, exceto no período do inverno. Dias atrás, ao passar pela mesma rua, estacionei e falei com a família, solicitando mudas daquela roseira, quando do tempo da poda. A poda aconteceu e eu fui avisado que podia buscar a encomenda. Agora os ramos já estão plantados, no canteiro do jardim conventual, à espera de um bom clima. Vez que outra, passo por perto do canteiro na torcida pela brotação. Se tudo der certo, teremos mudas daquela roseira que sempre me encantou, pelo colorido e pela quantidade de flores. Quando a maturidade chega, acabamos tendo mais tempo para observar os detalhes, para pensar sem pressa e para olhar sem a preocupação de enxergar. O passar dos anos tem o poder de acomodar muitas coisas e de abrir mais espaço para o afeto. Claro, não basta apenas somar mais anos, é necessário dimensionar a maturidade, abrindo mão de aventuras e de decisões, que em nada contribuem para a felicidade. Durante muitos anos a vida é vivida como se tudo dependesse do amanhã. Os cabelos brancos ajudam para sentir a própria vida e pensar na importância de viver intensamente o hoje. Gosto de ver pessoas que saem de um ritmo acelerado, para ter mais tempo para si e para a família. Mas tem algo que nem sempre levamos em conta: a dor tem um papel importante no processo do viver. Não são poucas as pessoas que, no sofrimento, decidem mudar de vida. A pedagogia da dor é incrível: provoca muitas mudanças e faz valorizar o que estava no esquecimento. O sofrimento permite o acesso à essência, inspirando decisões extraordinárias. Muita gente nasce de novo depois de um período de dor. Portanto, a idade ajuda, mas é a dor que define a maturidade. Não querer sofrer pode soar como não querer amadurecer. Eu não abro mão da maturidade, que é um processo contínuo e infinito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário