terça-feira, 4 de agosto de 2015

Há duas coisas que costumam determinar os caminhos de qualquer pessoa na vida: suas convicções e suas necessidades. As convicções são baseadas naquilo que a pessoa acredita, nas suas crenças. Muito conhecidas são as convicções políticas e as religiosas. As convicções costumam orientar a vida de uma pessoa porque definem os seus objetivos e quais cursos de ação lhes são permitidos. Ao tornar-se cristã, por exemplo, a pessoa não só adquire uma série de crenças (tais como, Jesus morreu por nós na cruz) como deve se compromete a passar a agir com base nelas (amar o próximo como a si mesma). Já as necessidades têm a ver com aquilo que a pessoa precisa e podem ser de natureza física (comida, abrigo ou desejo sexual) ou geradas pelo ambiente social em que vive (p. ex. o desejo de consumir ou de ter poder). Tal qual as convicções, as necessidades também acabam por definir os planos e as ações da pessoa. Por exemplo, o desejo de ter poder poderá fazer a pessoa colocar suas atividades profissionais antes de qualquer coisa e levá-la a negligenciar sua família e/ou perder seus escrúpulos morais. Necessidades e convicções, portanto, definem como a pessoa conduz sua vida. Onde ela investe seu tempo e esforços e até a medida pela qual irá se considerar um sucesso ou um fracasso. Agora, há uma tensão permanente entre essas convicções e necessidades, embora nem sempre a pessoa se dê conta disso. Frequentemente necessidades e convicções entram em choque porque não podem ser ambas atendidas na mesma medida. Algo tem que ceder. Em outras palavras, ou a pessoa segue suas convicções e deixa de lado suas necessidades ou faz o contrário. Por exemplo, um cristão não pode se entregar livremente aos seus desejos sexuais, pois há limites morais que precisa respeitar. O mesmo pode ser dito do desejo de poder, da vontade de consumir e de tantas outras coisas. O dilema humano costuma, portanto, envolver a escolha do que vai ficar para trás: convicção ou desejo. Escolher aquilo que verdadeiramente importa. É isso que vai determinar o caminho que a pessoa vai tomar na vida e, naturalmente, os resultados colhidos por ela. A Bíblia ensina a colocar as convicções na frente das necessidades - é chega a dizer que é isso que garantirá bons resultados para qualquer pessoa. Não há dúvida que, ao se deixar guiar pelas suas convicções, a pessoa precisará fazer sacrifícios. Jesus explicou isso ao afirmar que o caminho para a salvação é estreito e pedregoso, enquanto a estrada para a perdição é larga e bem pavimentada. Escolher entre essas coisas nunca é fácil. O lado humano empurra a pessoa para priorizar suas necessidades, enquanto o Espírito Santo lhe sopra no ouvido para seguir aquilo sua convicção cristã. É uma luta diária. A pessoa vence num dia e perde no outro (aí se arrepende, é perdoada por Deus e volta a lutar). Um perigo grande aparece quando a pessoa se auto-engana: protege sua consciência encontrando desculpas para o que faz ou deixa de fazer. Ela se convence de que é boa, pois não comete crimes graves, por exemplo não mata e nem rouba. E considera seus desejos justos porque ela "merece", "só vai fazer o errado por um tempo" ou seu ato "não é tão ruim assim". Quem age assim acaba sendo levada pelos desejos e vai deixando suas convicções para trás, pouco a pouco. É assim que a pessoa se deixa dominar pelo egoísmo, pela indiferença, pela falta de comprometimento com a obra de Deus, etc. Acho que todo mundo, e eu me incluo nesse rol, faz isso em alguma medida. Esse tipo de comportamento é uma reação bem humana. E quanto mais a pessoa faz isso, mais vai se deixando dominar pelos próprios desejos. Mais eles dominam suas vidas. Há um fato histórico que exemplifica bem esse dilema entre convicção e necessidade. O rei Henrique VIII, aquele que teve seis mulheres e mandou matar algumas delas, teve um grande amigo de juventude, Thomas Becket. Como era amigo do rei, Becket ocupou vários cargos importantes, até que foi nomeado Arcebispo de Canterbury (o mais importante cargo eclesiástico na Inglaterra). Quando Henrique quis se divorciar de sua esposa para se casar com uma mulher muito mais jovem, Ana Bolena, precisou anular o casamento anterior, pois na época não havia divórcio. E recorreu a todos os expedientes possíveis, para conseguir isso, muitos deles até criminosos. E o rei quis forçar seu amigo a tomar medidas que eram erradas considerando suas convicções. E Becket se recusou a obedecer. Resistiu. E acabou assassinado - morreu na escadaria da Catedral onde era pastor. Becket entrou para a história como um homem que não se deixou corrompers. E até hoje é venerado como um exemplo a ser seguido - quem tiver interesse, veja o filme "O homem que não vendeu sua alma". Termino, lembrando que nesses dias está sendo divulgado o relatório da "Comissão da Verdade", que apurou os abusos cometidos no tempo da Ditadura Militar. Nele são relatadas muitas histórias impressionantes, dentre as quais as de padres, pastores e bispos que denunciaram paroquianos seus como comunistas para ficar bem com o Poder Militar. Infelizmente, há casos até dentro da igreja que frequento, a Metodista, para tristeza minha. Esses homens agiram de forma diferente e estão tendo agora seus erros expostos. Terão seus nomes manchados para sempre. Escolheram seguir suas necessidades, na frente das suas convicções, e pagaram um preço muito caro por isso.

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