domingo, 2 de outubro de 2016
ONDE ESTAVA DEUS?
i, recentemente, um curioso artigo, na Comunicação Social que me chamou a atenção, em que o seu Autor, cujo nome não fixei, falava do “tsunami” ocorrido na Ásia, em que pereceram mais de 200.000 pessoas. O seu artigo terminava com uma pergunta, que é um clássico clamor do homem impotente perante o sofrimento inexplicável: Onde estava Deus?
Esta idêntica pergunta, tem sido feita ao longo da história e continua a ser repetida nos dias de hoje, quer na Comunicação Social, quer ainda em livros, ou numa ou noutra celebração pública. A pergunta Onde estava Deus?, revela a grave crise do homem na sua caminhada histórica, reflectindo a sua posição dramática de crise ética e moral, nas suas relações sociais, com reflexos no mau desempenho da economia, que gera a desconfiança no futuro, empurrando muitos milhões de pessoas para o desemprego e miséria.
Apesar do forte laicismo, especialmente no Ocidente, assiste-se hoje ao fenómeno do ressurgimento religioso, que parece indicar ser uma forma de fuga ao futuro incerto e encontrar assim, - esperam os seus seguidores - um meio que proporcione algumas certezas, na incerteza da vida.
Mas a história está, infelizmente, repleta de sofrimento devido às violentas atrocidades desumanas e às grandes transformações sociais, fruto do conhecimento; tudo isto tem sido uma constante no caminhar humano.
O homem que não é religioso, sabe e reconhece que tudo é fruto do egoísmo e da perversidade do carácter humano. Aqueles que são religiosos, sabem que a palavra que se aplica à maldade, chama-se pecado, uma palavra teológica que tenta explicar o sofrimento. Apesar deste conhecimento, a explicação não traz conforto e paz ao coração do homem. A humanidade anseia por uma linguagem concreta de amor e esperança que vá ao seu encontro e lhe dê alento, na sua caminhada. Homens e mulheres querem viver em paz, uma vida digna, com sentido feliz, um velho sonho ainda por realizar.
Mas ao lermos a pergunta com que iniciamos esta reflexão, “Onde estava Deus?”, lembrámo-nos do percurso de Jesus Cristo, durante a Semana da Sua Paixão e Morte. Somos aí confrontados, de forma mais viva, com a violência e ódio da multidão que estão na base do sofrimento de Jesus.
Desde a sua prisão, até ao caminho do Calvário, Jesus, um homem bom e inocente, provavelmente julgado ilegalmente, segue solitário, no transporte da Sua pesada Cruz, sem que alguém tivesse tido, de entre a multidão, um gesto de carinho e de solidariedade.
A pouca e única ajuda, que acabou por receber, e isto porque foi reconhecido que Jesus estava esgotado física e psicologicamente, é a de um homem chamado Simão de Cirene, que não era seguidor de Jesus e que por ali passava, vindo do campo. É ele que, provavelmente, vindo do seu trabalho, compelido, carrega a Cruz, até ao fim, no Monte do Calvário. Recebeu um grande e honroso privilégio. Mateus 27:32 , Marcos 15:21, Lucas 23:26.
Pouco se sabe do passado de Simão, também conhecido por cireneu. E o que se conhece, é que tinha dois filhos, Alexandre e Rufo, que eram seguidores de Jesus, cujos nomes aparecem no Novo Testamento, em Marcos 15:21.
O sofrimento de Jesus e o sofrimento humano
Jesus está na Cruz. Olha os soldados no desempenho do seu trabalho profissional, insensíveis ao sofrimento dos crucificados. Eles aproveitam uma pausa para jogar os dados sobre a túnica de Jesus, para ver qual deles ficaria com os seus vestidos. Mateus 27:35 e Marcos 15:24.
A multidão, que contempla a crucificação, na qual se destacam os doutores religiosos que ridicularizam Jesus, blasfema do Homem que espalhou a bondade, que ajudou muitos em várias circunstâncias, que restabeleceu a saúde a tantos outros e que deu vida aos mortos.
Esqueceram-se depressa da Sua mensagem em que sempre falou do grande Amor de Deus pelo homem e que renovou a esperança numa vida melhor, mais completa, a uma humanidade desiludida e prisioneira do pecado. Jesus está preso na cruz, ferido e solitário. Mateus 27:36ss; Marcos 15:24ss; Lucas 23:33ss; João 19:18ss.
Ao relermos e meditarmos nesta triste situação, fica-nos continuamente uma pergunta tão angustiante e perturbadora, que tem sido feita em sucessivas gerações: “Se Deus existe, como explicar o mal? Se Deus não existe, donde vem o bem?”
É-nos impossível imaginar a agonia e o sofrimento atroz de Jesus, quer físico, quer psicológico, a avaliar pela sua 4ª.palavra: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?
Como deve ter sido grande a Sua agonia. Naquela hora pesou sobre si o pecado do mundo inteiro e Jesus percebeu que Deus, o Seu Pai, a quem chamava Aba – Paizinho – retirava dele a sua face. Marcos 14:36 e Marcos 15:34.
Torna-se evidente, que o sentido deste clamor de Jesus está além da compreensão humana. Quem pode sondar a profundeza da relação íntima entre o Pai e o Filho Amado, que nunca se interrompeu?
Neste clamor a Deus, a quem Jesus, pela primeira vez, não chama Pai, percebe-se que é possível ser-se abandonado por Deus, por algum tempo, mas simultaneamente amado por Ele, porque Jesus nunca deixou de falar em Deus.
O clamor de Jesus, ao pronunciar o texto de Salmo 22:1, assume inteiramente todo o seu conteúdo de sofrimento e, ao mesmo tempo, de esperança inabalável no Pai. É um Salmo de lamento profético, que Jesus conhecia muito bem, porque se refere ao Messias que sofre.
E, ao lê-lo, podemos entender, não só uma referência ao sofrimento de Jesus, mas também de todos os que estão em tribulação, mas que esperam justiça, como seu socorro final. Em Salmo 22:24 lemos: “Porque (Deus) não desprezou nem abominou a aflição do aflito, nem escondeu dele o seu rosto; antes, quando ele clamou, o ouviu. E mais adiante, em Salmo 22:26 Os mansos comerão e se fartarão; louvarão ao Senhor os que o buscam: o vosso coração viverá eternamente.
E se a Jesus aconteceu esta dolorosa experiência, sendo Ele a Cabeça da Igreja, Efésios 1:22 também pode, às vezes, em certo sentido, ser esta uma experiência do povo de Deus, na riqueza, saúde, solidão e nas provocações da vida.
Lembremo-nos da experiência de Job, um servo amado de Deus, a quem O Senhor permite passar por uma grande tribulação, sem que Deus o perca de vista. E como sabemos, Job era um homem inocente, que amava Deus e nunca deixou de o amar, embora não pudesse compreender a razão do seu tão grande sofrimento.
Jesus, ao clamar em alta voz, identifica-se inteiramente, não só com todos os pecados do mundo, que tem trazido sofrimento indescritível ao homem, mas também expressa, de uma forma peculiar, a angústia dos pobres, dos fracos e excluídos deste mundo, que estão inocentes, que vivem desamparados nas bermas dos caminhos agrestes da vida e que são excluídos dos bens económicos e culturais deste mundo. Eles são sacrificados nos altares das exigências materialistas daqueles que vivem insensíveis à miséria dos fracos e doentes que jazem à porta das suas casas, tal como Jesus nos assinala na parábola do rico e Lázaro. Lucas 16:19/31
Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?
Marcos 15:37, encerra a descrição do sofrimento de Jesus, quando nos diz: E, Jesus dando um grande brado, expirou.
Não era normal um crucificado ter energia suficiente para dar um grande brado. Para um homem crucificado e exausto, o normal seria um desmaio, sem nenhum outro sinal de energia.
Mas a morte de Jesus não é uma morte típica. O Evangelista Marcos refere os estranhos sinais da natureza, que se identifica com a angústia do seu Criador, como as trevas que cobriram a terra durante três horas (Marcos 15:33), do véu de tecido forte do templo, que se rasgou em dois de alto a baixo, e em que ... abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de santos, que dormiam foram ressuscitados, e …saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos. Mateus 27:52/53
O centurião romano representante da autoridade Imperial declara: Verdadeiramente este era Filho de Deus. Mateus 27:54. Ao fazer esta declaração, põe em causa a Teologia dos deuses do Império Romano e abre o caminho ao reconhecimento dos gentios ao Evangelho de Jesus.
O Apóstolo Paulo no ano 55, quando vivia em Éfeso, meditando em todos estes relatos dos Evangelhos, escreveu à Igreja de Corinto, na sua primeira carta, numa esplêndida frase cheia de sabedoria: 1ª Coríntios 15:54 Tragada foi a morte na vitória.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
GRANDE
O salmo do pavão Nada me abalará! Desgraça alguma me atingirá, nem a mim nem aos meus descendentes . (Sl 10.6) O salmo do pavão reza assim...
-
"Jesus Cristo é o mesmo, ontem, e hoje, e eternamente." Hebreus 13:8 Jesus nunca mudou a Sua forma de agir ou de pensar, muito me...
-
Quanto tempo dura os diferentes momentos de nossa vida? Os instantes de felicidade quase sempre parecem rápidos, passam num piscar de olh...
-
“Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas me convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas.”...
Nenhum comentário:
Postar um comentário