sexta-feira, 12 de junho de 2015
AGORA,QUE ESTOU VELHO
“Ó Deus, tu me ensinastes desde a minha mocidade, e até aqui tenho anunciado as tuas maravilhas. Agora, que estou velho e de cabelos brancos, não me desampares, ó Deus, até que eu tenha anunciado tua força a esta geração e teu poder, às gerações do futuro.” (Salmo 71.17,18).
O autor do salmo 71 é um homem idoso fragilizado pela perseguição de inimigos, pelo declínio físico próprio da idade, por uma enfermidade que quase o levou à sepultura, e pela rejeição natural que caracteriza a velhice. O salmo é, ao mesmo, uma constatação realista da sua condição e uma lamentação por todos estes fatos, bem como uma declaração de confiança e esperança em Deus, o mesmo Deus da sua mocidade.
Lamentação, porque na solidão da velhice, uma idade em que faltam pessoas com quem conversar, ainda temos um Pai a quem podemos levar nossas queixas e com quem podemos compartilhar nossos sentimentos. Confiança, por que numa idade em que a produtividade é drasticamente reduzida e a inatividade é certa, a fé permanece não só intacta como muito mais madura. Esperança, porque a velhice é como a etapa final de uma escalada rumo ao cume da montanha, acima do qual só temos o céu.
Agora, que estou velho não quero viver do passado, mas sim cumprir a missão que me toca no presente, que é a de ser um testemunho a esta geração e às próximas. Por três vezes o autor menciona sua juventude como coisa do passado e que ficou realmente no passado (vs.5,6,17). O que não ficou lá foram os ensinamentos, que foram conservados, acrescidos e aperfeiçoados, e que devem ser anunciados aos que agora estão desembarcando na estrada da vida.
Agora, que estou velho e de cabelos brancos, e as minhas forças se foram ou estão indo, a tua força será a minha. Por duas vezes o salmista pede: “Não me desampares” (vs.9,18), mas exclama com firmeza: Virei na força do Senhor” (v.16). A sensação de impotência rodeia permanentemente o idoso, mas para o que é cristão não precisa ser assim. Para ele a exortação de Paulo faz ainda mais sentido: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder.” (Ef.6.10).
Agora, que estou velho, não quero resmungar nem murmurar, quero louvar. “Minha boca se enche do teu louvor e da tua glória continuamente, falará todo o dia da tua justiça e das tuas obras de salvação, eu te louvarei ao som do saltério pela tua fidelidade, eu te cantarei ao som da harpa. Meus lábios, assim como a minha vida, que remiste, exultarão quando eu cantar teus louvores.” (vs.8,1522,23).
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