Por muito tempo a cura significava a superação de uma doença. Hoje, mais do que nunca, entendo que a cura é um processo contínuo, que vai além das doenças. Emocionalmente precisamos nos curar a todo instante. Por exemplo, não guardar mágoas é uma cura bem-vinda. Muitas vezes acreditamos que curar é apagar da memória tudo o que nos feriu. Como se a dor pudesse simplesmente desaparecer, como se as marcas não deixassem nenhum sinal. Mas a verdade é que cada experiência dolorosa deixa rastros, e negar isso seria também negar a própria história. Curar é diferente: é olhar para as feridas com honestidade e perceber que, embora tenham existido, elas já não têm poder de ditar nossas escolhas. É reconhecer que fomos atingidos, mas não permanecer aprisionados ao passado. A cura acontece quando conseguimos ressignificar o que nos aconteceu, transformando dor em aprendizado, perda em maturidade, cicatriz em testemunho de superação. Não é processo rápido nem indolor, mas é caminho que nos devolve a liberdade. Enquanto não curamos, carregamos o peso do dano como se fosse parte inseparável de nós. Mas, quando o coração encontra paz, o que antes era motivo de paralisia se torna fonte de força. A vida é generosa nesse sentido: sempre oferece chances de recomeço, mesmo depois das quedas mais duras. O cotidiano, quase sempre situado entre a pressa da semana e a proximidade do descanso, pode ser lembrança de que a cura é contínua, feita de pequenos passos. É quando escolhemos não deixar que o ressentimento nos defina, quando nos damos permissão para sorrir de novo, quando aceitamos que não temos como mudar o passado, mas temos como decidir o presente. Curar é libertar-se do poder da dor sem precisar negá-la. É continuar caminhando com mais leveza, porque já não estamos presos ao que nos machucou. No fim, as cicatrizes não são sinais de fraqueza, mas marcas de quem teve coragem de viver e de se reconstruir.
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