domingo, 26 de outubro de 2025

MANSOS

 “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5:5).

Em um mundo que valoriza a força, a disputa e o domínio, Jesus exalta a mansidão. Essa bem-aventurança é um golpe frontal contra a lógica do poder humano. O Senhor não diz que os fortes, os influentes ou os que se impõem herdarão a terra, mas os mansos, os que confiam mais em Deus do que em si mesmos. O verdadeiro valor, segundo Cristo, nasce do coração rendido e submisso à vontade do Pai.
A palavra grega traduzida por “manso” é praus, que descreve a força sob controle. Não se trata de fraqueza, mas de força disciplinada pela graça. Moisés foi chamado de o homem mais manso da terra (Nm 12:3), embora tenha sido firme diante do faraó, dos conflitos e do seu próprio povo. Jesus, o Rei dos reis, se apresenta como “manso e humilde de coração” (Mt 11:29), mesmo sendo o Senhor do universo, dono de toda força e poder. A mansidão, portanto, não anula a coragem, mas a purifica.
“Herdar a terra” era uma expressão carregada de sentido messiânico. Para os judeus, a terra prometida simbolizava a bênção e o descanso. Para os discípulos de Cristo, porém, essa herança transcende o solo físico: é o Reino de Deus, já inaugurado e ainda por vir. Os mansos herdarão a terra restaurada, onde a justiça habita (2Pe 3:13). O manso é aquele que já vive, hoje, como cidadão desse Reino eterno.
Na prática, a mansidão se revela em atitudes simples e profundas, e desejo destacar algumas para nossa reflexão. Manso é aquele que controla a língua quando ofendido, respondendo com brandura quando atacado. Manso é aquele que serve, quando outros buscam ser servidos. Manso é o que confia e descansa na justiça de Deus, quando tudo parece injusto. Manso é quem espera no Senhor, mesmo perante as enfermidades e os mais profundos abatimentos. Manso é quem repousa o coração sobre a trajetória da própria vida, pois, apesar de não conhecer o que o espera amanhã, conhece o Altíssimo, e isso basta.

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