sábado, 7 de março de 2015

MULHER DESCARTÁVEL

Não se deixe levar pelo consumismo e pelos ditames impiedosos da moda e nem dos desejos masculinos. Hoje é o Dia Internacional da Mulher. Utilizada como isca de consumo pelo capitalismo, ela é peça de destaque no jogo de sedução da publicidade. A propaganda vende quimeras. Não se compra apenas sabonete ou roupa. Compra-se, sobretudo, o sonho de ser uma entre dez atrizes que se banham com aquele produto ou a fantasia de tornar-se tão sedutora quanto a jovem que entra no jeans. Destituída de mente e espírito, a mulher é reduzida a formas e trejeitos. Ninho de serpentes, moças retorcem-se no prostíbulo televisivo, enquanto no filme e na telenovela e adultério é propalado como direito à liberdade. Nos programas humorísticos, a mulher é imbecilizada e ridicularizada. Não só homens fazem da mulher objeto do desejo. Basta observar capas de revistas femininas. Mulher se compara a mulher na busca de melhor performance social, sexual e estética. Se, além da roupa, a moda dita um corpo esquálido, a anorexia impõe-se como salário da vaidade. A medicina cria um novo ramo para atender ao luxo da ditadura estética, como se o corpo que foge ao modelo imperante portasse doenças e anomalias. Essa cultura da glamourização move a lucrativa indústria de cosméticos, publicações, esportes e academias de ginásticas. Sua isca é a mulher confinada à aparência e destituída de direitos, subjetividade, ideias e valores. Dócil aos caprichos do mercado, o corpo vai a leilão na feira de amostras das revistas masculinas. Como estranhar que, nas esfera da realidade, as relações sejam conflitivas? Em Minas, o machismo com frequência arvora-se em carrasco, ceifando vida de mulheres. Não há de ser essa propagação do feminino como mero objeto de consumo que suscitará no homem respeito e alteridade Uma coisa é uma coisa. Manipula-se, usa-se, descarta-se. Enquanto a mulher aceitar esse jogo de marketing, movida pela quimera de ser tão bela quanto a fera, será difícil cegar os olhos do machismo - tanto o masculino, que a submete, quanto o feminino de quem aceita ser submetida. A exposição erótica da mulher é uma humilhação do feminino, pois torna a beleza resultado da soma de atributos físicos. Marcelo Mastroianni, que entendia de mulheres, e com quem visitei Moscou em 1986, considerava o mais fascinante numa mulher a coerência de sua história de vida. Mas isto não está à venda. É UMA CONQUISTA.

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