quarta-feira, 5 de março de 2025

CRUZ

 Tomando a cruz

Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Marcos 8.34


Parece-me extraordinário que Jesus tenha deixado de se referir à sua cruz para se referir à nossa cruz. De algum modo, ele já sabia que seria crucificado. Ele agora diz que, se alguém quer segui-lo, deve tomar a sua cruz. Não podemos deixar de observar o mesmo tom de necessidade.


O que Jesus quis dizer? De acordo com H. B. Swete, em seu comentário sobre o Evangelho de Marcos, tomar a cruz é “colocar-se na posição de um homem condenado a caminho de sua execução”. Se tivéssemos vivido na Palestina ocupada por Roma naqueles dias e víssemos um homem carre­gando uma trave transversal ou patibulum, não precisaríamos correr até ele e perguntar: “Com licença, mas o que você está fazendo?” Não, nós o teríamos reconhecido de imediato como um criminoso condenado, porque os romanos forçavam seus condenados à morte a carregar a própria cruz até o lugar da crucificação.


Essa foi a imagem que Jesus escolheu para ilustrar o significado da autone­gação. Precisamos resgatar esse vocabulário para que ele não seja adulterado. Não devemos supor que a autonegação seja abrir mão de luxos durante a Quaresma ou que “a minha cruz” seja algum tipo de dolorosa provação pes­soal. Sempre corremos o risco de desvalorizar o discipulado cristão, como se ele nada mais fosse que acrescentar uma camada fina de piedade à vida secular. Fure a camada e lá estará, debaixo dela, o velho e mesmo pagão. Não, tornar-se e ser um cristão envolve uma mudança tão radical que nenhuma imagem pode ilustrá-la à altura, exceto a morte e a ressurreição – morrer para a velha vida autocentrada, e ressuscitar para uma nova vida de santidade e de amor. Paulo estava elaborando o vocabulário de Jesus quando escreveu: “Fui crucificado com Cristo” (Gl 2.20) e: “Os que pertencem a Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e os seus desejos” (Gl 5.24).


Um último pensamento: Lucas acrescentou o advérbio diariamente à declaração de Jesus: “Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome diariamente a sua cruz e siga-me” (Lc 9.23, grifo do autor).


Para saber mais: Romanos 8.12-14

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