terça-feira, 15 de julho de 2025

CORAÇÃO

Os muitos anos de formação e a convivência diária, tendo como cenário os espaços conventuais, ajudaram para que eu me apaixonasse pelo silêncio. Quando posso, simplesmente fujo dos lugares barulhentos. Até a missão de escrever praticamente exige que eu viva abraçado no silêncio. Mesmo optando pelo silêncio, não estou isento de angústias. Nem sempre consigo identificar a origem das minhas angústias, mas acabo convivendo com elas, na esperança que sejam passageiras. Ainda bem que aprendi a não ser um angustiado irreverente. Meus momentos de angústia são rápidos, pois sempre abro espaço para a espiritualidade que é profundamente transformadora. O coração não fala em voz alta, mas sua linguagem é clara. Ele não argumenta, não impõe, apenas revela. Há um momento em que sentimos, com uma nitidez inquietante, o que precisa ser feito. Não é confusão, é certeza. Mas a mente, acostumada a pesar riscos e medir consequências, reage. E nessa tentativa de controlar o que já foi intuído, nasce a angústia. É como se o corpo inteiro gritasse por movimento enquanto a razão puxasse o freio. O conflito não é entre certo e errado, mas entre medo e verdade. Quando ignoramos o chamado da alma, o silêncio vira peso e o dia parece travar em si mesmo. A leveza só retorna quando reconhecemos que há decisões que não precisam ser compreendidas pela lógica, apenas respeitadas pela consciência. O caminho mais sereno nem sempre é o mais seguro aos olhos do mundo, mas é aquele que alinha por dentro. É esse alinhamento que desfaz o nó no peito. Ao longo do dia, pode ser que a mente ainda tente tomar a frente, mas o coração persistente, firme e silencioso continuará apontando o rumo. E basta uma fresta de coragem para que a paz comece a se estabelecer. Convém não maltratar o coração, pois ele sempre quer o nosso melhor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

CAMINHANDO

  “Portanto, santifiquem-se e sejam santos, porque eu sou o Senhor, o Deus de vocês.” Levítico 20:7 Caminhar na vontade de Deus nem sempre é...