quarta-feira, 1 de outubro de 2025

GESTO

 

 Cresci numa família que foi muito ajudada e que nunca deixou de ajudar. Agradeço a Deus por ter sido educado a não sobrar nenhum grão de arroz no prato. Não conheci a abundância quando era criança. Pensar nos outros, principalmente naqueles que mais precisam, é algo intrínseco, não sei viver sem ajudar. Afinal, a vida é breve demais para ser vivida apenas em torno de conquistas pessoais ou metas individuais. O que permanece de verdade não são os títulos acumulados, mas os gestos de bondade que marcaram o caminho. Estender as mãos é mais do que ajudar materialmente. É um modo de viver que se traduz em presença, em atenção, em disponibilidade para acolher o outro no momento em que ele mais precisa. Muitas vezes, quem está ao nosso lado não pede nada além de escuta, de um olhar que confirme sua dor ou de um abraço que devolva força. O ato de estender as mãos é expressão concreta da compaixão que nos habita. É sair de si e reconhecer que o outro faz parte de nós. Ao contrário do que se pensa, não precisamos ter muito para oferecer. Uma palavra de incentivo, um gesto de paciência, uma oração silenciosa podem ser suficientes para reerguer quem se encontra desanimado. O coração amadurece quando descobre que a grandeza da vida está na partilha. E é justamente no doar-se que também recebemos. Porque ao estender as mãos, criamos laços que nos sustentam, e é nesse encontro que encontramos sentido. O mundo atual, tão marcado por correria e individualismo, precisa de pessoas que cultivem essa disponibilidade. É no simples que a vida se torna extraordinária. Não é a grandiosidade do gesto que importa, mas a sinceridade com que ele é realizado. Cada nova jornada recorda que sempre haverá alguém precisando de uma mão estendida, assim como nós mesmos tantas vezes precisamos. E talvez seja isso que dá beleza à jornada: a consciência de que ninguém caminha sozinho e de que, no fim, o que realmente vale é o amor que fomos capazes de oferecer. 

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