quarta-feira, 9 de julho de 2025

ESCOLHAS


As brincadeiras na chuva povoam as minhas lembranças. Não tínhamos medo de nos molhar e nem nos preocupávamos com possíveis resfriados. De fato, a infância marca nossa existência, pois na inocência vivíamos a leveza dos encontros e da criatividade misturada com a humildade. Os anos passam e os registros permanecem. Hoje compreendemos que não há como impedir que certas nuvens se formem no céu. Elas chegam com a força de quem não pede licença e se instalam no tempo com a autoridade do imprevisto. Mas há uma parte da vida que nos pertence, mesmo quando o destino nos alcança. Às vezes, é impossível fugir da chuva, mas podemos escolher com que roupa a enfrentaremos, com que humor atravessaremos a avenida molhada, com que olhar receberemos o aguaceiro que insiste em cair. Há destinos que nos visitam, mas não nos aprisionam. A liberdade não está em controlar o céu, mas em decidir se correremos para um abrigo ou dançaremos de pés descalços sobre a calçada. Muitos se iludem achando que viver é esperar pelo sol. Mas viver é aprender a habitar os dias cinzentos com a mesma inteireza dos dias claros. É ter guarda-chuva, mas também coragem de se molhar quando o coração pede leveza. É ter fé suficiente para aceitar que há coisas que não escolhemos, e sabedoria para entender que isso não nos impede de sermos autores de nossa própria história. Por vezes, a vida nos leva por caminhos que não foram desenhados por nós, mas cada passo ainda é nosso. O que fazemos com o que nos acontece é o lugar mais sagrado da liberdade. O destino pode ser a chuva, mas molhar-se é decisão que nasce do íntimo, lá onde nem mesmo o tempo consegue impor seus limites.

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