No meu discernimento vocacional, pesou muito a escolha por uma ordem religiosa, pois a vida franciscana acontece em grupos, denominados de fraternidades. Fui feito para a convivência, mas sinto uma enorme necessidade de ter momentos de solidão. Ficar sozinho nos ensina a arte da convivência. É reconfortante conviver, fazer trocas e partilhar a vida. Porém, os momentos individuais são necessários para viabilizar o equilíbrio e a paz interior. Intercalar convivência com momentos a sós consigo mesmo favorece para que o equilíbrio se estabeleça. Viver bem consigo é como construir um lar interno, onde podemos descansar, refletir e nos reencontrar. Quem não desenvolve essa capacidade corre o risco de aceitar qualquer presença apenas para preencher o silêncio, muitas vezes comprometendo a própria paz. A solidão saudável não é isolamento, mas um espaço de fortalecimento, onde cultivamos nossos pensamentos, organizamos nossas emoções e nos tornamos mais conscientes do que realmente queremos ao lado. Quando entendemos que a nossa companhia já é suficiente, deixamos de buscar relações por carência e passamos a escolhê-las por afinidade e verdade. Isso nos protege de vínculos que drenam energia e de situações que, embora preencham o tempo, esvaziam a alma. Dominar a própria solidão é também abrir portas para relações mais livres, pois não estão baseadas na necessidade, mas no desejo genuíno de compartilhar. É como se a vida ganhasse mais qualidade, porque cada pessoa que fica é uma escolha consciente, não uma fuga do vazio. Esse aprendizado nos dá autonomia para dizer não ao que não constrói e sim ao que acrescenta, permitindo que o nosso entorno seja formado por conexões que nos inspirem. Quando sabemos que a nossa paz não está à venda, entendemos que companhia boa não é qualquer uma, mas aquela que respeita e valoriza o espaço que existe dentro de nós.
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