Sou devagar quando se trata de arrumar a mala para viajar. Um dia não dá, o outro também e, assim, a arrumação fica para os últimos minutos. Sempre desejei uma vida leve, sem muitas coisas. Talvez seja por isso que fico me enrolando na hora de organizar a bagagem. Não acumular é um desafio a ser enfrentado diariamente. Quantas vezes transformamos a vida em peso ao acumular o que não nos serve mais. Guardamos lembranças que já perderam o brilho, ressentimentos que enrijecem a alma, objetos que não carregam mais significado, medos que só atrasam o passo. É como tentar atravessar uma ponte estreita arrastando malas que não cabem nela. A leveza não nasce de uma vida sem problemas, mas da sabedoria de escolher o que vale a pena levar adiante. Viver é estar consciente de que tudo aqui é provisório. As conquistas, por maiores que sejam, ficam. Os fracassos, por mais que doam, também ficam. Até os vínculos mais fortes se transformam ao longo do tempo. Esse reconhecimento, longe de ser motivo de tristeza, é fonte de liberdade. Quem se lembra de que está de passagem aprende a valorizar o que realmente importa e a soltar o que não acrescenta. A leveza não é fuga, é profundidade. É andar com o essencial no coração: amor, fé, gratidão. Quando caminhamos assim, a vida deixa de ser corrida cansativa e se transforma em travessia significativa. O problema é que muitas vezes nos apegamos ao que não pode permanecer, acreditando que segurar mais é garantia de felicidade. Mas o contrário é verdadeiro. É na arte de soltar que encontramos espaço para o novo, é na coragem de desapegar que descobrimos novas formas de ser felizes. A existência, tantas vezes marcada por compromissos e pressa, pode ser transformada em lembrança espiritual: não precisamos carregar tudo. Somos viajantes, e a beleza da viagem está justamente em caminhar com liberdade. Se um dia chegamos de mãos vazias e um dia partiremos do mesmo jeito, o que dá sentido à passagem não são os pesos acumulados, mas as sementes plantadas no caminho. E essas não ocupam espaço, porque florescem no coração de quem cruza nossa estrada.
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