Um dos convites mais perigosos de nossos dias é a espiritualidade sem a cruz. Ela promete paz sem arrependimento, prosperidade sem renúncia e uma fé moldada ao gosto humano, mas não à vontade de Deus. Essa falsa espiritualidade não exige transformação, apenas conforto. Não aponta para Cristo crucificado, mas para o “eu” glorificado. E, ainda que use linguagem bem elaborada, recheada de expressões bíblicas, conduz ao afastamento da verdade encontrada nas Escrituras.
Escrevendo ao jovem Timóteo, Paulo exorta: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; continua nesses deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Tm 4:16). O termo “doutrina” vem do grego didaskalia e significa ensino, instrução. Não é uma lista de opiniões humanas, mas o depósito da verdade revelada por Deus. É a sã doutrina, fiel ao evangelho da graça, que protege a igreja de distorções e conduz o povo à maturidade espiritual. Paulo adverte Timóteo a cuidar de si mesmo (a vida pessoal, o caráter, o coração) e da doutrina (o ensino que recebeu e que transmite).
Vida e doutrina não podem ser separadas. Viver bem sem crer corretamente leva à moralidade vazia. Crer corretamente sem viver segundo o que crê leva à hipocrisia. A ordem é clara: perseverar nisso, pois a fidelidade doutrinária é instrumento de Deus para preservar a fé tanto de quem ensina quanto dos que ouvem os ensinos.
Na vida pessoal, não permita que sentimentos passageiros sejam seus guias, mas submeta-se à verdade imutável da Palavra. Examine-se diante de Deus, perguntando se suas convicções estão enraizadas na Escritura ou nos seus desejos e ideias.
Nos relacionamentos, fale a verdade em amor, recuse espalhar boatos e promova edificação. A doutrina molda não apenas o que cremos, mas como tratamos o próximo.
Na igreja, valorize a pregação expositiva e o ensino fiel. Fuja de mensagens que apenas massageiam o ego, promovendo a vaidade. Cuidar da doutrina é amar a igreja, pois só a verdade alimenta.
Na família, conduza o lar à Palavra, não a contos ou modismos. Ensine as crianças o evangelho puro desde cedo, para que não sejam levadas por qualquer vento de doutrina.
Na missão, anuncie Cristo crucificado e ressurreto, não um evangelho diluído. O mundo precisa da verdade, que chama o pecador ao arrependimento e à nova vida em Cristo, pela graça e misericórdia de Deus. Portanto, cuidar da doutrina é cuidar da alma, a sua e a dos que o Senhor confiou ao seu redor.
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