PIEDADE

 “Exercita-te, pessoalmente, na piedade.” (1Tm 4:7)

Vivemos tempos em que a disciplina é altamente valorizada, como no cuidado com a saúde, no aprimoramento intelectual e no desenvolvimento profissional. Muitos se dedicam com rigor a exercícios, treinamentos e rotinas que exigem foco e esforço constante. Todas essas práticas são dignas e têm seu valor na vida do cristão. Paulo, porém, escrevendo a Timóteo, aponta para uma disciplina ainda mais elevada: o exercício da piedade.

A palavra usada por Paulo para “exercitar-se” é gumnazo, de onde vêm os termos “ginásio” e “ginástica”. Ela transmite a ideia de treino intenso, disciplina contínua e esforço focado, como o de um atleta que se prepara para a competição. Paulo não descreve aqui uma postura passiva, mas um processo ativo e diário de crescimento espiritual.

O alvo desse exercício é a piedade (eusebeia). Esse termo significa uma vida dedicada a Deus, marcada por uma conduta moldada pela fé. A piedade não se restringe a momentos de devoção particular, como oração e leitura bíblica, mas alcança toda a vida: crenças, valores, relacionamentos e escolhas.

Exercitar-se na piedade é um chamado a uma prática desafiadora e profundamente pessoal. Para sermos levados pela correnteza da mentira, da imoralidade e da incredulidade, não é preciso empenho algum; basta deixar-se levar. Mas o caminho da santidade é oposto: viver uma vida impregnada pelo temor do Senhor em tudo o que se é, faz e fala exige um santo exercício cristão, coberto pela graça de Deus. É como nadar contra a correnteza. Por isso, o imperativo “exercita-te” aponta para disciplina, empenho e perseverança, ao que Paulo acrescenta “pessoalmente”. É um chamado para o seu coração.

Piedade é viver de tal forma que a fé permeie o que pensamos, sentimos e fazemos. É buscar que Cristo oriente não apenas o culto dominical, mas também as conversas do dia a dia, as decisões que tomamos e as atitudes mais simples da vida cotidiana.

Exercitar-se na piedade, portanto, é treinar para viver de modo dedicado a Deus em todas as áreas. Isso exige disciplina espiritual: rejeitar o que não edifica, nutrir a alma com a Palavra, fortalecer-se em oração, cultivar comunhão sincera e tratar o próximo com amor.

Na prática, significa organizar a vida para que Deus tenha prioridade em tudo, resistir ao pecado com perseverança e viver com coerência entre fé, palavras e ações. Assim como o atleta se desgasta hoje para colher vitória amanhã, o cristão se dedica à piedade porque ela é proveitosa não apenas nesta vida, mas também na eternidade (1Tm 4:8).

Que nossas vidas sejam marcadas por esse exercício. Que não sejamos apenas ouvintes da Palavra, mas praticantes que perseveram, cultivando diariamente um coração piedoso, mãos dispostas a servir e passos firmes na vontade de Deus.