A maturidade tem me ensinado a lidar com o mistério que me habita. Ordenar os sentimentos e os pensamentos não é uma tarefa muito fácil. Ser seletivo é uma alternativa eficaz. Assim como colocamos as roupas no varal, podemos colocar as mágoas e as decepções no varal existencial. Não tenho medo de derramar lágrimas, pois sei a preciosidade do alívio que elas proporcionam. Depois de secar as lágrimas, a vida segue de forma leve e criativa. As lágrimas, tantas vezes vistas como sinal de fraqueza, são, na verdade, alívio e verdade. Elas lavam os olhos e desobstruem o coração, permitindo que a dor não permaneça aprisionada dentro de nós. Chorar é humano, e negar as lágrimas é negar também uma forma de cura. Quando damos espaço para que a tristeza se expresse, já estamos dando o primeiro passo para que ela não se transforme em fardo permanente. A imagem de torcer as lágrimas até desencharcar o coração é poderosa, porque revela que não basta sentir, é preciso deixar ir, liberar, esvaziar o peito do peso que o sufoca. Depois desse gesto, é hora de estender a tristeza ao sol, no varal da auto gentileza. E a auto gentileza é esse cuidado que raramente nos damos, mas que é essencial. É tratar a si mesmo com o mesmo carinho que ofereceríamos a alguém amado. É não exigir pressa de recuperação, não cobrar perfeição emocional, não se julgar por estar sofrendo. Ao contrário, é dar-se tempo, respeito e acolhida. Quando escolhemos essa postura, o sol encontra brechas e entra. A tristeza não desaparece de um dia para o outro, mas ela seca, suaviza, transforma-se em aprendizado e memória. E, no lugar do peso, floresce a leveza. A sexta-feira, que tantas vezes é associada à pressa de terminar a semana, pode ser também lembrança de que não precisamos carregar lágrimas sem fim. Há em cada um de nós a força de transformar dor em ternura e de deixar o sol iluminar o que parecia perdido. O coração, quando cuidado com paciência e afeto, sempre encontra um jeito de voltar a sorrir.
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