quinta-feira, 24 de outubro de 2024

IMAGEM

 É Abominação Atribuir Forma Visível a Deus.

Os que se Apartam do Deus Vivo Criam Ídolos para Si.


(João Calvino )


1. REPRESENTAR A DEUS POR MEIO DE IMAGENS É CORROMPER A SUA GLÓRIA


Como as Escrituras levam em cota o limitado e tacanho conhecimento humano, costumam elas expressarem-se de modo acessível à mente popular, quando seu objetivo é distinguir o Deus verdadeiro dos deuses falsos. Elas contrastam o Deus verdadeiro com os ídolos, e, ao fazerem isso, não estão aprovando o que de mais sutil e elegante os filósofos ensinaram, mas estão, antes, desnudando a loucura do mundo – mais do que isso, a sua completa loucura –, quando, ao buscar a Deus, cada um, a todo tempo se apega às suas próprias especulações.


Por essa razão, a definição que por toda parte se mostra a respeito da unicidade de Deus reduz a nada tudo quanto os homens inventaram para si no que diz respeito à Divindade, pois somente o próprio Deus é testemunha idônea de si mesmo.


Por isso, pelo fato de esse embrutecimento degradante Ter-se apossado do mundo inteiro, de maneira que os homens procurassem representar a Deus de forma visível – forjando deuses de madeira, de pedra, de ouro, de prata ou de outro material qualquer inanimado ou corruptível – temos de nos apegar ao seguinte princípio: Todas as vezes que se atribui a Deus qualquer forma de representação, a Sua glória é corrompida de ímpio engano. Na Lei, depois de atribuir a Si mesmo a glória da Divindade, quando quer ensinar que tipo de adoração aprova ou rejeita, Deus acrescenta imediatamente: “Não farás para ti imagens esculpidas, nem semelhança qualquer” (Ex 20.45), palavras com as quais nos proíbe o desenfreamento de tentar representá-lo por meio de qualquer figura visível. E mostra, de maneira breve, todas as formas pelas quais, desde há muito tempo, a superstição dos homens começou a transformar a sua verdade em mentira.


Ora, sabemos que os persas adoravam o Sol e também sabemos que outros povos estultos inventaram para si outros tantos deuses quantas são as estrelas nos céus. Para os egípcios não houve nenhum animal que não representasse uma divindade. Já os gregos, devemos reconhecer, parece, foram mais sábios do que os demais povos, pois adoravam a Deus sob a forma humana. Deus, porém, não compara essas imagens entre si, como se uma fosse mais apropriada do que outras; ao contrário, repudia a todas as efígies esculpidas, sem exceção, incluindo pinturas e representações por meio das quais os supersticiosos imaginaram que Ele devia estar perto.


2. REPRESENTAR A DEUS POR MEIO DE IMAGENS É CONTRARIAR O SEU SER


Das razões que Deus acrescenta às proibições é fácil concluir o seguinte: Primeiro, em Moisés (Dt 4.15): “Lembra-te do que o Senhor te falou no vale de Horebe: Ouviste uma voz, não viste corpo; guarda-te, portanto, a ti mesmo, para que não aconteça que, porventura, enganado, faças para ti qualquer representação”, etc. Aí vemos como Deus opõe sua voz abertamente a todas as representações, a fim de sabermos que os que buscam representá-lo de forma visível afastam-se dEle.


Entre os Profetas, será suficiente citar só Isaías, que é o mais enfático ao demonstrar isso, pois ele ensina que a majestade de Deus é manchada de vil e absurda invenção, quando o incorpóreo é feito semelhante à matéria corpórea, quando o invisível é representado de forma visível ou quando o espírito é feito semelhante à coisa inanimada ou, ainda, quando o imenso é reduzido a um pedaço de madeira, de pedra ou de ouro (Is 40.18; 41.7,29; 45.9 e46.5). Paulo também raciocina de modo idêntico: “Visto que somos geração de Deus, não devemos pensar que o Divino é semelhante ao ouro, e à prata trabalhada pela arte ou invenção do homem” (At 17.29). Disto fica claro que qualquer estátua que se erige ou imagem que se pinta para representar a Deus simplesmente o ofende, como também afronta a sua majestade.


E não devemos nos admirar do fato de o Espírito Santo, do céu, proclamar esses oráculos, pois Ele compele até mesmo os cegos e idólatras da terra a fazerem essa confissão. A queixa de Sêneca, que se lê em Agostinho, é muito conhecida. Diz ele: “Dedicam os deuses sagrados, imortais e invioláveis em matéria mui vil e desprezível, revestindo-os com a aparência de homem e de feras; algumas até os representam como hermafroditas ( sexos misturados) e corpos diversos, e os chamam de divindade, são figuras que, se recebessem vida, seriam tidas por monstros, quando as víssemos!


Disto se evidencia novamente, mui às claras, que se apoiam em inútil sofisma os que defendem imagens, dizendo que elas foram proibidas aos judeus, porque eles eram inclinados à superstição. Como se pertencesse a um só povo aquilo que Deus, na verdade, revela de sua eterna essência e da contínua ordem da natureza! E Paulo, quando impugnou o erro em representar a Deus por meio de imagem, não estava falando aos judeus, mas aos atenienses.


3. AS MANIFESTAÇÕES E SINAIS QUE MOSTRAM A PRESENÇA DE DEUS NÃO SERVEM DE BASE PARA AS IMAGENS


O fato de, vez por outra, Deus Ter mostrado a presença de sua majestade divina por meio de sinais definidos, os leva à conclusão de que se poderia dizer que Ele foi visto face a face. Porém, todos os sinais com que Deus se manifestou aos homens ajustavam-se mui adequadamente ao seu método de ensinar, ao mesmo tempo em que serviam de advertência aos homens, para dizer-lhes, explicitamente, que a sua essência era incompreensível.


Ora, a nuvem, a fumaça e a chama – se bem que fossem símbolos da glória celeste (Dt 4.11), como um freio interposto, impediam que as mentes de todos tentassem penetrar mais fundo (no conhecimento de Deus). Por isso, nem mesmo a Moisés, a quem Deus, contudo, se manifestou mais intimamente do que aos outros, conseguiu com suas súplicas contemplar a face de Deus, mas recebeu como resposta que o homem não é apto para receber o impacto de tão grande esplendor (Ex 33.20).


O Espírito Santo apareceu em forma de pomba (Mt 3.16; Mc 1.10; e Lc 3.22), mas pelo fato de Ter-se desvanecido rapidamente, quem não percebe que, pelo símbolo de apenas um momento, os fiéis foram advertidos de que se deve crer no Espírito como um ser invisível, de modo que, contentes com o seu poder e graça, não evocassem para si nenhuma representação externa?


O Ter Deus aparecido, de quando em quando, em forma de homem foi na verdade antecipação da futura manifestação em Cristo. Por isso, foi proibido aos judeus, de forma absoluta, abusarem desse pretexto, fazendo para si representação da Divindade sob figura humana.


O próprio propiciatório, onde, sob a Lei, Deus manifestou a presença do seu poder, foi de tal modo construído, que indicava ser a seguinte a mais excelente visão da Divindade: Ela ocorre quando as mentes são alcançadas acima de si mesmas, em admiração uma vez que os Querubins, de asas estendidas, ocultavam a Deus, o véu o cobria e o próprio lugar, tão escondido, de si mesmo o ocultava (Ex 25.17,18,21). Portanto, salta aos olhos que os que tentam defender uma imagem de Deus ou de santos, citando o exemplo desses Querubins, estão enlouquecidos. Suplico, pois: Que significavam essas imagenzinhas senão que não existem formas apropriadas pelas quais se possam representar os mistérios de Deus? Elas foram feitas para, velando com as asas o propiciatório, impedir não só que os olhos humanos vissem a Deus, mas também com quaisquer de todos os outros sentidos e, dessa forma, pusessem um paradeiro à temeridade dos homens.


Além disso, os Profetas, quando falam dos Serafins que lhes apareceram em visão, mostram-nos com a face velada e, com isso, dão-nos a entender que o fulgor da glória divina é tão grande, que os próprios anjos são impedidos de ser vistos em direta contemplação, e as chispas de glória que refulgem são subtraídas aos nossos olhos.


Todos os que julgam com acerto reconhecem, contudo, que os Querubins, de que estamos tratando agora, pertencem à antiga tutela da Lei. Portanto, é absurdo citá-los como exemplo que sirva à nossa época, uma vez que já passou a fase infantil à qual esses rudimentos haviam sido destinados (Gl 4.3).


Certamente, é vergonhoso Ter de reconhecer que os escritores profanos são intérpretes mais capazes da Lei do que os papistas. Juvenal, por exemplo, zombando, censura os judeus que adoravam as puras nuvens e o nume do céu. Certamente, Juvenal fala de modo pervertido e ímpio. No entanto, quando nega existir qualquer efígie divina, fala de modo mais verdadeiro que os papistas, que dizem haver, entre os judeus, alguma representação visível de Deus.


Que os judeus, com entusiástica prontidão, se tenha atirado repetidas vezes, a buscar ídolos para si, com a mesma forma de abundante manancial de águas borbulhantes, aprendemos do fato de ser grande a propensão da nossa mente para com a idolatria. Por isso, atirando contra os judeus a pecha de erro que é comum a todos os homens, não durmamos o sono mortal, iludidos pelas vãs seduções do pecado.


4. A BÍBLIA CONDENA IMAGENS E REPRESENTAÇÕES DE DEUS


Ao mesmo fim se detinha a seguinte afirmação: “Os ídolos dos povos são prata e ouro, são obras das mãos dos homens” (Sl 115.4; 135.15), pois o Profeta conclui que não são deuses não só por causa da sua materialidade – cuja imagem é de ouro e prata – mas deixa claro ainda que é inútil produto da imaginação tudo quanto concebemos a respeito de Deus, pelo nosso próprio sentir. Refere-se ao ouro e à prata, antes que ao barro ou à pedra, para que nem o esplendor, nem o valor nos levem a reverenciar os ídolos. Finalmente, conclui, dizendo que nada existe que tenha menos aparência de verdade do que serem os deuses feitos de qualquer espécie de matéria morta!


Ao mesmo tempo, o Profeta insiste neste ponto: Que os mortais são levados por grande e louca temeridade quando, de maneira precária, conseguindo alento fugaz de instante a instante, têm a ousadia de conferir aos ídolos a dignidade de Deus. O homem se vê obrigado a confessar que é uma criatura efêmera e, não obstante, quer que seja tido por Deus um metal que ele mesmo transformou em deidade! Pois, como nasceram os ídolos senão da desvairada imaginação dos homens?


Justíssima é a zombaria de Horácio, poeta profano, que disse:


“Eu era outrora um tronco de figueira, um inútil pedaço de lenho. Quando um artesão, incerto se deveria fazer um banco, preferiu fazer de mim um deus.”


Deste modo, um homenzinho terreno, cuja vida se extingue quase a cada instante – graças à sua arte – transfere o nome e a dignidade de Deus a um tronco sem vida!


Porém, uma vez que esse epicureu brincalhão a fazer, a fazer gracejo, não deu importância a religião alguma, deixando de lado as suas brincadeiras e as de outros, mais do que isso, traspasse-nos a censura do Profeta (Is 44.15-17), quando afirma que são excessivamente insensatos os que, de um mesmo tronco de árvore, aquecem-se, acendem o forno para assar pão, assam ou cozinham a carne, e do resto fazem um deus, diante do qual se prostram suplicantes a orar. Do mesmo modo, em outro lugar (Is 40.21), não só os acusa como réus perante a Lei, mas também os censura pelo fato de não terem aprendido, dos fundamentos da terra, que, na verdade, nada é mais absurdo do que desejar reduzir Deus, que é imensurável, à medida de cinco pés! Essa monstruosidade que provoca repugnância à ordem da natureza, revela-se como natural nos costumes dos homens.


Devemos Ter em mente que, com freqüência, as superstições são referidas como obras das mãos dos homens, e carecem de autoridade divina (Is 2.8; 31.7; 37.19; Os 14.3; Mq 5.13), para que se estabeleça o seguinte: Que todas as formas de culto que os homens inventam por si mesmos, são abomináveis diante de Deus.


No Salmo 115, o Profeta dá ênfase à loucura que significa o fato de homens – a tal ponto dotados de inteligência – saberem que todas as coisas são movidas só pelo poder de Deus e, no entanto, implorarem auxílio de coisas inanimadas e destituídas de sensibilidade. Mas, pelo fato de a corrupção da natureza conduzir a demência tão grosseira, tanto os povos todos quanto cada indivíduo, em particular, o Espírito Santo, finalmente, fulmina com a seguinte maldição: “Tornem-se semelhantes a eles os que os fazem e todos os que neles põem a sua confiança” (Sl 115.8). Notemos também que são proibidas não só gravuras mas também imagens esculpidas e, com isso, refuta-se a improcedente exceção dos gregos, pois pensam que se saem muito bem se não fazem imagem de escultura, que representem a Deus, ao mesmo tempo que se divertem fazendo gravuras desenfreadamente mais do que qualquer outra gente. Pois o Senhor proíbe não apenas que se faça imagem dEle em forma de estátua, mas também que qualquer representação dEle seja modelada por qualquer tipo de artista, visto que, desse modo, Ele é representado de maneira inteiramente falsa e com grave ofensa à sua majestade.


5. A BÍBLIA NÃO DÁ OCASIÃO A NENHUM TIPO DE REPRESENTAÇÃO DE DEUS


Sei, certamente, que é mais do que vulgarmente popularizado o refrão que diz: As imagens sã os livros dos analfabetos , e isto foi dito por Gregório, o Grande. Contudo, o Espírito de Deus fala de maneira muito diferente, e se Gregório tivesse estudado esta matéria nessa escola, jamais teria dito o que disse.


Portanto, quando Jeremias (10.34) declara que o lenho é o preceito do orgulho, e Habacuque (2.18) ensina que a imagem fundida é a mestra da mentira, certamente devemos deduzir dessas expressões a seguinte doutrina: Que é tolo e, mais ainda, mentiroso tudo quanto os homens aprendem a respeito de Deus por meio das imagens.


Se alguém objetar dizendo que os Profetas repreendiam os que abusavam das imagens para ímpias superstições, sou obrigado a admiti-lo, sem dúvida. Contudo, acrescento: O que é notório a todos é que os Profetas condenam o que os papistas sustentam como seguro axioma, ou seja, para os papistas as imagens fazem as vezes de livros. Os Profetas, porém opõem o Deus verdadeiro às imagens, como coisas contrárias e que jamais podem conciliar-se.


Nas poucas porções bíblicas que acabei de citar, impõe-se a seguinte conclusão: Uma vez que o Deus verdadeiro, que os judeus adoravam, é um e único, de maneira pervertida e enganosa se inventam figuras visíveis que representam a Deus e, por isso, acabam miseravelmente iludidos todos os que buscam conhecer a Deus por meio de imagens.


Se não fosse mentiroso e espúrio todo e qualquer conhecimento de Deus que se busca nas imagens, os Profetas não o teriam condenado de modo tão generalizado. Por isso, sustento o seguinte: Quando ensinamos que é vaidade e enganoso os homens tentarem representar Deus por meio de imagens, não fazemos outra coisa senão referir, palavra por palavra, o que os Profetas disseram.


6. OPINIÃO DE CERTOS REPRESENTANTES DA PATRÍSTICA CONTRA AS IMAGENS


Além disso deve-se ler o que Lactâncio e Eusébio escreveram a respeito desse assunto, pois eles não têm a menor dúvida de que as imagens que se vêem, são todas de seres mortais. Do mesmo modo se expressou Agostinho que, taxativamente, declara como ato abominável não só o adorar imagens, mas também levantá-las a Deus. E ele não está dizendo outra coisa senão repetindo o que muito antes foi declarado no Concílio de Elvira, cujo cânon trinta e sei diz o seguinte: “Resolveu-se que não se tenha nos templos representações pictóricas, de modo que não se pinte nas paredes os que se cultua ou se adora.”


Deve-se lembrar especialmente o que o mesmo Agostinho cite de Varrão e confirma com a sua autoridade. Diz ele: “Os primeiros que introduziram imagens dos deuses, de um lado, removeram o temor e de outro acrescentaram o erro.” Se isso tivesse sido dito só por Varrão, talvez tivesse pouca importância. Porém, ainda assim, devíamos sentir-nos envergonhados pelo fato de um pagão, como que tateando no escuro, Ter alcançado esta luz, isto é, Ter chegado à conclusão de que as imagens corpóreas são indignas da majestade de Deus, porque diminuem o temor dos homens e aumentam o seu erro. Os próprios fatos atestam, de maneira incontestável, que o dito de Varrão é sábio e verdadeiro. Por isso, Agostinho, tomando-o de empréstimo, repete-o como seu. E, no começo, Agostinho insiste em dizer que os primeiros erros a respeito de Deus, erros em que os homens se enredaram, não começaram com as imagens, porém, que uma vez introduzidas (na prática), aviltaram-se ainda mais. Em conseqüência, por esse motivo, o temor de Deus não só diminuiu, mas, até mesmo, se extinguiu, visto que na estupidez das imagens e na sua infeliz e absurda invenção, pode-se facilmente desprezar a majestade divina. Oxalá não comprovássemos, pela experiência, quão verdadeira é esta última afirmação!


7. AS IMAGENS DO ROMANISMO SÃO INACEITÁVEIS


Por essa razão, se os papistas tiverem um pouco de pudor, não digam mais, de agora em diante, que as imagens são os livros dos analfabetos, porque esta afirmação está escancaradamente refutada por numerosos testemunhos da Escritura. Na verdade, mesmo que eu lhes concedesse isso, nem ainda assim, certamente, tirariam muito proveito em defender seus ídolos, pois é notória a espécie de monstruosidade que eles obrigam o povo a aceitar em lugar de Deus! De fato, que são as pinturas ou estátuas que dedicam aos santos, senão corruptíveis exemplares de luxúria e obscenidade, a ponto de merecer castigo alguém que quisesse imitá-los? De fato, os lupanares mostram as meretrizes vestidas com mais decoro e pudor, do que os templos mostram aquelas santas que querem ser aceitas por virgens! As vestes que inventam para os mártires em nada são mais decentes. Portanto, vistam seus ídolos pelo menos de modesta decência para, com um pouco mais de decoro, poderem sofismar dizendo que as imagens são “livros” de alguma santidade.


Porém, diremos também que esta não é a maneira de ensinar o povo fiel nos lugares sagrados, povo que Deus quer que seja instruído com outro tipo de doutrina. Deus ordenou que aí, nos templos, se proponha uma doutrina comum a todos, na proclamação de sua Palavra e nos sagrados mistério. Os que são levados pelos olhos à contemplação de ídolos, em derredor – revelam que seu espírito está voltado bem pouco diligentemente para esta doutrina!


A quem, no entanto, os papistas chamam de ignorantes e cuja obtusidade não lhes permite ser ensinados senão só pelas imagens? Na verdade, chamam de ignorantes àqueles a quem o Senhor reconhece como seus discípulos, aos quais considera dignos da revelação de sua celeste sabedoria e que deseja sejam instruídos os mistérios salvíficos do seu Reino. Certamente, admito que, na atual situação, não poucos são os que não podem dispensar as imagens como “livros”. Contudo, pergunto: De onde vem tal obtusidade senão do fato de serem roubados desta doutrina que, sozinha, é apta para instruí-los? E não foi por outra razão que os que presidiam às igrejas deixaram com os ídolos a função de ensinar, senão pelo fato de os próprios ídolos serem mudos! Paulo afirma que, mediante a pregação do Evangelho, Cristo é apresentado ao vivo e de certo modo é crucificado aos nossos olhos (Gl 3.1).


Qual seria o objetivo de, nos templos, erguerem-se, por toda parte, tantas cruzes de madeira, de pedra, de prata e de ouro, se fosse ensinado honesta e fielmente que Cristo morreu na cruz para tomar sobre si a nossa maldição (Gl 3.13), sacrificando o próprio corpo para expiar nossos pecados (Hb 10.10) e lavá-los com o seu sangue (Ap 1.5), enfim, para reconciliar-nos com Deus, o Pai? (Rm 5.10). Só desse fato poderiam aprender mais do que mil cruzes de madeira ou de pedras (poderiam ensinar), visto que os avarentos, talvez, fixam os olhos e a mente nas cruzes de ouro ou de prata, mais do que em quaisquer palavras de Deus.


8. DO DESEJO QUE OS HOMENS TÊM DE VER A DEUS, DE MODO TANGÍVEL, VEM A FEITURA DE IMAGENS


No que se refere à origem dos ídolos, o consenso público recebe virtualmente o que está contido no livro de Sabedoria, de Salomão (14.15), ou seja, que os primeiros autores dos ídolos são os que conferiram esta honra aos mortos.


Calvino e a Adoração Comunitária


Introdução.

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