Total de visualizações de página

domingo, 28 de abril de 2024

TENTAVA

 Você já se perguntou por que, quando tentava contar a alguém sobre um desafio ou uma dificuldade que estava vivendo naquele momento, o ouvinte imediatamente se apressava em tentar resolver o problema sem realmente ouvir a sua história? E você já fez isso com alguém? 


Quando falamos sobre escuta empática, acolhimento, apoio emocional ou comunicação não-violenta, por exemplo, um assunto fundamental é ouvir o outro sem interromper e não pensar nas soluções ou respostas neste primeiro momento. E eu mesma acho muito difícil aplicar isso na prática, confesso. 


Então venho me perguntando porque algo que parece simples é difícil assim? 


Estamos programados para a interação social. Um elemento fundamental para ter sucesso nessas interações é a empatia; uma coisa muito boa e importante, geralmente. Mas essa empatia pode virar um problema quando estamos em ressonância com uma pessoa na dor, especialmente quando se trata de uma pessoa que nos importa muito. Quando isso acontece, a dor da outra pessoa vira a nossa própria dor. E então tentamos resolver o problema para reduzir esse sofrimento nosso. Ou seja, essa vontade de "consertar" a dor do outro na hora, não é algo que fazemos focando no outro, que talvez, mais do que tudo, precisa alguém para desabafar, principalmente. “Apenas queria ajudar"... a mim mesma/o.


Para realmente ajudar o outro, precisamos aguentar o desconforto na hora de escutar com empatia, sentindo todo o sofrimento na nossa própria mente e talvez até no nosso corpo. 


O que complica lidar com sofrimento é o fato que na nossa civilização (ocidental) cultuamos a ausência de sofrimento (físico ou mental) e definimos a felicidade ou o bem-estar como um estado completamente livre de emoções ou sensações “negativas”. A própria TCC (Terapia Cognitiva Comportamental), que admiro e respeito muito, está principalmente focada em resolver crenças e pensamentos não funcionais, que podem trazer sofrimento. Isso é muito importante quando o sofrimento impede o funcionamento normal de uma pessoa. Porém, em momentos de ouvir alguém nos contando de uma dor, por exemplo, e sentindo esse sofrimento dentro de nós mesmos, precisamos ter a flexibilidade psicológica que nos permite aguentar esse estado e aproveitar dele - e assim, de fato, ajudar o outro! 


A dor é uma consequência natural de viver. Até é considerado psicologicamente saudável, ter pensamentos e sentimentos desagradáveis. Pois eles normalmente têm a nos ensinar muito. 


O objetivo de vida saudável na Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT), uma abordagem que ando estudando mais ultimamente, por exemplo, não é tanto sentir-se BEM, mas SENTIR bem. 


Ter flexibilidade psicológica ajuda a aceitar e incorporar emoções e sentimentos complexos sem perder a nossa integridade, o nosso bem-estar ou a nossa felicidade. 


“Flexibilidade psicológica pode ser definida como ter contato com o momento presente - como ele é, e não como o que ele dize que é - como um ser humano consciente, plenamente e sem defesas desnecessárias e persistir como, ou mudar, um comportamento a serviço dos valores escolhidos.” - Hayes et al. 


É um processo de atenção, de compaixão, aceitação e de compromisso.


Se você, como eu, está com dificuldades em aguentar a dor de alguém próximo, querendo sempre resolver os problemas do outro, está na hora de trabalhar na sua flexibilidade psicológica; na definição dos seus valores e compromisso, na melhoria da sua compaixão - principalmente com si mesma/o - na aceitação, e na sua atenção no momento presente. 




Nenhum comentário:

Postar um comentário

RECOMECE

 Se você quer um conselho recomece.  Não há presente maior na vida do que o dom de poder recomeçar.  Recomece, seja na mudança de pensamento...