quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

PERFEIÇÃO

 Perfeição e organização

“Principia numa extremidade dos céus, e até a outra vai o seu percurso; e nada refoge ao seu calor” (Sl 19.6).
Dificilmente vemos o cristão reconhecer a organização como um elemento indispensável à sua santidade. No entanto, é muito importante compreender que não há como viver a santidade bíblica sem ser organizado. É verdade que posso evitar alguns males morais e achar que isso compreende toda minha responsabilidade quanto à santidade. Porém santidade é muito mais do que isso. É algo que envolve a vida cristã por inteiro e implica também o equilíbrio e a organização das coisas.
Isso pode ser percebido já no conceito da paz bíblica, conhecida pela saudação dos judeus: shalom. Denota a bênção de Deus e seu domínio em todas as áreas de nossa vida. A vida cristã exige organização, na verdade, é expressa na reorganização geral de nosso ser já a partir da conversão. Se nosso alvo é a perfeição, ainda que não consigamos atingi-lo completamente nesta terra, seria totalmente impossível entendermos o conceito de perfeição sem organização. A organização sempre implicará estruturação e delimitação de tempo.
Quando aplicamos isso à vida de um pecador redimido, é importante lembrar que muito do que chamamos de “pecado” é avançar os limites e/ou adiantar o tempo das coisas. Ora, uma vez que compreendemos isso, fica nítido o quanto a organização se liga à santidade. São amarras para que não pequemos. O procedimento metódico como fruto do conhecimento autêntico do Senhor nos aproxima da perfeição. O que é perfeito é necessariamente organizado. Deus é organizado, perfeitamente organizado. Nada acontece aleatoriamente nas suas obras e nem na Criação. Os adeptos da física quântica vão dizer que há aleatoriedade no nível subatômico, algo que poderão sustentar até descobrir que estão errados. A Criação, em seu estado de perfeição, tinha estabelecida todas as coisas: o movimento e a cadência de tudo o que se move e de tudo o que é vivo.
A queda trouxe certa desordem ao mundo, como efeito do pecado de Adão, pela ligação indissolúvel do homem à Criação, para que ele sofresse consequências de sua desobediência já na mediação do próprio ambiente em que habita. No entanto, mesmo tal deformidade, o que poderíamos reconhecer como certa desorganização, ainda ocorre dentro de uma ordem que está firmemente determinada por Deus. Enchentes, furacões, secas, raios, incêndios florestais, pragas, epidemias, e coisas semelhantes a essas, fazem parte de uma Criação reorganizada em modelo caído, isto é, que permite certas ocorrências vistas como desorganizações se comparadas ao padrão original, para maldição dos seres humanos.
Aqui já se torna claro o princípio teológico da organização: tê-la implica santidade e perfeição; não a ter determina um mundo de pecado e maldição. Ainda assim, para que haja vida sobre a terra, Deus não permitiu deformidades profundas, garantindo assim a sazonalidade, os limites normais do mar e dos rios, a velocidade adequada para ventos, o índice pluviométrico, a temperatura etc. Tudo isso pode ser repentinamente alterado pela vontade divina, para causar dano e sofrimento a uma humanidade desobediente e rebelde.
Reparemos, portanto, que a organização refletida pela Criação original aponta para duas necessidades básicas: lugar e tempo. Não é por acaso que nossa vida se dá no tempo e espaço. Faz parte do bem viver e da vida santa saber conjugar corretamente as duas coisas. Dessa forma, a pessoa organizada é aquela que tem lugares determinados para todas as coisas. Assim como o sol tem o seu percurso e o mar os seus limites naturais, também a vida do homem deve ser pautada pela organização do seu espaço.
Imagine a dificuldade de alguém que não determina lugar para nada. Passará mais tempo procurando o que precisa do que em horas produtivas de atividade. Certamente, o espaço se conjuga com o tempo. Se a cada translação a terra estabelecesse um percurso aleatório ao redor do sol, não haveria padrão para o tempo, nem mesmo as condições para estabelecer a duração de um ano. É certo que outras consequências haveria, como a fatal alteração da temperatura na superfície terrestre.
A pessoa que não se organiza terá que usar mais o seu tempo, devido à dificuldade de se preparar para qualquer atividade. Colocando isso de outra forma, a pessoa organizada está sempre preparada para usar o seu tempo, iniciar uma atividade, pois o espaço já está organizado, enquanto a desorganizada gastará sempre tempo para se organizar para o trabalho: não está preparada. Reparem, portanto, que o pecado que está no cerne da desorganização é o mau uso de nosso tempo, esbanjando-o devido à irresponsabilidade com seu tempo. Parece acreditar que o trabalho dificultado, assoberbado, avolumado pela desorganização, sempre caberá dentro da quantidade de tempo que se tem para concretizá-lo. É certo que “um abismo chama outro abismo”.
O pecado do mau uso do tempo levará a muitos outros pecados, desde o destempero e a irritação constante por não encontrar aquilo que procura, como o mau testemunho por ser uma pessoa ineficiente. À medida que as atividades aumentem, o desorganizado tenderá a “entrar em parafuso”, pois não conseguirá lidar com múltiplas atividades sem um mínimo de organização. Haverá muita pressão, talvez depressão.
Notemos como a vida organizada tende à paz, à tranquilidade, à uma vida abençoada. Muitos vivem estressados e terrivelmente afetados simplesmente devido à própria desorganização. É importante não confundir as coisas: organização não é sinônimo de santidade, mas é sua parte integrante. Há pessoas que, por temperamento, já são extremamente organizadas, mesmo ímpios, e não santos em nenhuma medida.
Na teoria de Hipócrates dos quatro temperamentos básicos, alguém extremamente organizado seria um fleumático. Este tende a ser metódico, até sistemático, o que pode levar a outros problemas como uma certa paranoia pela organização, como o marido que briga com a esposa porque inverteu a ordem da validade dos produtos na fileira própria dentro da despensa. Falando-se de um nível de organização natural e suficiente, todos não só podem, como devem alcançá-lo. Faz parte da vida cristã!
É necessário agir estabelecendo métodos, a única forma de conjugarmos adequadamente espaço e tempo. Dessa forma, teremos lugares para todas as coisas, tempos equacionados, paz em nossas atividades diárias. Glorificaremos a Deus também pela organização e otimização de nosso tempo. Isso faz parte de nosso bom testemunho, das transformações que Deus realiza em nossa vida. Tenha um maravilhoso e abençoado dia na presença de Jesus

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