Minha relação com o tempo é saudável. Sou grato pelo tempo que está à minha disposição. Consigo fazer tantas coisas, ao mesmo tempo, que fico até admirado. O tempo é uma dádiva. Todos têm o necessário tempo para fazer o que desejma. Administrar o tempo é uma necessidade que se impõe. Caso contrário, estaremos sempre lamentando. Mas a sensação de falta de tempo é uma das marcas mais fortes do nosso modo de viver. Corremos para cumprir tarefas, respondemos a urgências que se acumulam e, muitas vezes, acreditamos que a vida está sempre atrasada. Mas o tempo não se esgota do mesmo jeito para tudo. Há o tempo do relógio e há o tempo da alma, e eles raramente caminham no mesmo ritmo. Quando tudo parece apertado demais, é justamente aí que o essencial pede passagem. Sempre há tempo para aquilo que é prioridade do coração, ainda que seja em forma de silêncio, de um gesto simples, de um cuidado discreto. O problema não é a ausência de tempo, mas a dispersão dele. Gastamos energia com excessos, com preocupações que não se concretizam, com cobranças que não produzem sentido. E, enquanto isso, deixamos de perceber que a vida se organiza quando escolhemos com consciência onde colocar presença. Há tempo para amar quando o amor é simples. Há tempo para escutar quando a escuta é inteira. Há tempo para cuidar quando o cuidado é verdadeiro. Mesmo nos dias mais cheios, existe uma fresta onde a alma respira. O tempo se expande quando a pressa diminui por dentro. Não se trata de fazer tudo, mas de fazer o que importa. Não se trata de controlar o ritmo externo, mas de alinhar o ritmo interno. Quando aprendemos isso, o dia deixa de ser inimigo e se torna aliado. A vida encontra espaço porque o coração deixou de disputar com o relógio. Há tempo para recomeçar, mesmo cansado. Há tempo para agradecer, mesmo correndo. Há tempo para Deus, mesmo no meio do caos. O que realmente precisa acontecer sempre encontra uma brecha. E quando essa compreensão se instala, o peso diminui, a ansiedade se aquieta e a vida volta a caber dentro do dia. Não porque o tempo aumentou, mas porque a presença se tornou mais sábia.
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