O ser humano é realmente espaçoso, pois consegue guardar dentro de si muitas coisas, inclusive tudo aquilo que não lhe faz bem. Para esquecer aquilo não ajuda em nada, é necessário um esforço e uma atenção especial. Tenho procurado deixar no esquecimento as palavras desnecessárias que ouvi, os comentário tecidos por pessoas excessivamente negativas e os julgamentos sem procedência. Procuro lembrar que estamos de passagem e que a vida é um instante. Afinal, guardar mágoas é como insistir em carregar pedras enquanto se caminha por uma estrada que já é curta por natureza. A mágoa ocupa espaço interior, consome energia, endurece o olhar e aprisiona o coração em um tempo que já passou. Ela não muda o que aconteceu, não corrige o outro, não repara a dor. Apenas prolonga o sofrimento dentro de quem a carrega. A vida, tão breve e delicada, não foi feita para ser atravessada com esse peso desnecessário. Somos passageiros, e tudo o que é passageiro pede desapego. Isso não significa ignorar a dor ou fingir que nada feriu. Significa escolher não permanecer preso ao que já cumpriu seu impacto. A maturidade espiritual começa quando entendemos que perdoar é um ato de libertação pessoal. Não se perdoa porque o outro merece, mas porque o coração precisa de espaço para respirar. A mágoa cria ruído onde poderia haver silêncio, cria rigidez onde poderia haver fluidez. Quando solta, a alma encontra descanso. O tempo aqui é curto demais para ser gasto ruminando ressentimentos. Há encontros que não se repetem, gestos que não voltam, oportunidades de amar que passam rápido. E a mágoa nos distrai do essencial. Ela rouba o presente ao nos manter presos ao passado. A vida pede leveza porque tudo muda, tudo passa, tudo se transforma. Quem aprende a soltar mágoas aprende também a valorizar o agora, a cuidar melhor das relações, a escolher a paz como caminho. O coração que se liberta do ressentimento se torna mais sensível, mais humano, mais disponível para o que realmente importa. Não guardar mágoas é um gesto de sabedoria, um reconhecimento de que a vida é curta demais para ser vivida em guerra interior. Estamos de passagem, e a travessia se torna mais bonita quando escolhemos levar apenas o que cabe na alma: aprendizados, gratidão e amor.
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