Cá estou eu, em mais um domingo, deitado na cama, fitando o teto, tentando escolher as melhores palavras que digam (de um jeito bonito) que sou um grande medroso. Que, apesar da minha falsa maturidade, ainda não aprendi a encarar as mudanças da vida, que não me acostumei com os imprevistos, com tudo aquilo que não saiu como planejei, com o final das histórias, com a necessidade de viver fora da zona de conforto. Tenho idade suficiente para ser pai de uma criança, mas ainda não aprendi sequer a cuidar de mim.
Sendo sincero, tenho um medo absurdo de “dar errado”, sabe? Tenho um medo absurdo de não consegui realizar os meus objetivos, de viver a vida que quero. É que sou uma das pessoas que mais sonham no mundo. Acho que, para viver tudo que quero, precisarei de umas dez vidas, uma emendada na outra. Passar, pelo menos, uns trezentos e cinquenta anos aqui pela Terra. Confesso que já fui do tipo de gente que deixava a vida decidir tudo. Que só se movia depois que tudo estava praticamente resolvido. Ou quando já era tarde demais. Por esse motivo, adiei ao máximo o final das histórias, adiei grandes mudanças, prolonguei diversos sofrimentos e adiei ainda tanta coisa que só precisava de um ponto final. Tudo por medo de fazer escolhas e tomar decisões erradas. Só que, agora, um alarme soou dentro de mim. É como se a vida estivesse me empurrando para fora do avião e dizendo: você já está com o paraquedas nas costas, sonha em saltar, mas está esperando o quê?
Só que uma coisa me consola: eu, diante de tantas reviravoltas que a minha vida já deu, soube me reerguer e recomeçar diversas vezes. Sendo assim, se as coisas desandarem depois deu bater o pé e dizer com propriedade o que quero, tudo bem. Eu arregaço as minhas mangas e começo de novo. Só não posso mais assistir a minha vida passar e não fazer nada parar viver o que quero.
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