quinta-feira, 30 de maio de 2024

CRISTO

 OS CORPOS DE CRISTO - Hoje se celebra o dia de Corpus Christi, que na tradição católica refere-se à presença real de Cristo na Eucaristia. Na passagem em que Paulo trata da celebração da Ceia do Senhor, há um trecho que provoca arrepios em muitos irmãos, tanto católicos quanto evangélicos. Ele diz que aqueles que comem do pão indignamente o fazem para sua própria condenação, pois não discernem o corpo do Senhor. Para a tradição católica, no momento em que o sacerdote consagra os elementos, ocorre uma transubstanciação, isto é, eles se transformam no corpo e no sangue de Cristo. Para muitos protestantes, ocorre uma consubstanciação, isto é, o pão continua sendo pão, mas contém a presença real de Cristo. Para os batistas, a Ceia do Senhor é apenas um memorial de sua morte. Independentemente da interpretação que se dá, ninguém quer participar da Mesa do Senhor indignamente, visto que isso seria para sua própria condenação. Crentes e católicos levam isso muito a sério.


O que seria, afinal, discernir o corpo do Senhor? Seria discerni-lo nos elementos eucarísticos, isto é, no pão e no cálice? Acredito que não. Em vez disso, discernir o corpo do Senhor é reconhecê-lo naqueles com os quais Ele mesmo se identifica. É vê-lo nos pequeninos, nos fracos, nos necessitados, nos excluídos, naqueles dos quais Ele disse: “Quando fizestes a um desses pequeninos, a mim me fizestes.” Ao discerni-lo nestes, sentimo-nos na obrigação moral e prazerosa de repartir nosso pão, compartilhando a vida que d’Ele mesmo recebemos.


Recapitulamos, assim, a cena da Santa Ceia. O pão que oferecemos é o nosso corpo, o cálice é a nossa própria vida. Quem não discerne o corpo do Senhor, come e bebe indignamente, pois vive exclusivamente para si. Por que se diz que tais pessoas comem e bebem para sua própria condenação? Porque sua vida autocentrada depõe contra elas. Por isso, conclui Paulo, há tantos fracos, enfermos e tantos que morrem. Não se trata de terem sido castigados por não discernirem o corpo do Senhor, como geralmente se crê, mas por terem sido vítimas dos que não o discerniram (1 Coríntios 11:29). Somos culpados do corpo e do sangue do Senhor à medida que ignoramos as vítimas do mesmo sistema que o crucificou.


Será que somos capazes de discernir o corpo do Senhor nos corpos negros vítimas da violência do estado? Poderíamos discerni-lo nos corpos da população trans? Nos corpos femininos oprimidos pela misoginia? Nos corpos da população originária? Nos corpos dos fiéis de religiões de matriz africana que sofrem intolerância religiosa? Nos corpos dos inocentes alvo dos ataques covardes que Israel fez em Rafah? 


Cristo está onde nosso preconceito nos impede de enxerga-lo.

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