No primeiro capítulo do livro de Habacuque, o profeta denuncia o sofrimento do povo de Deus perante o ataque dos caldeus, narrando a aflição do povo com a violência, destruição, prisão e humilhação. E pergunta: "Até quando, Senhor, clamarei eu, e tu não me escutarás? Gritar-te-ei: Violência! E não salvarás? Por que me mostras a iniquidade e me fazes ver a opressão?" (Hc 1:2-3).
O profeta pede que Deus mude as circunstâncias e anule o sofrimento, porém a resposta de Deus é diferente: o Senhor lhe diz que o povo sofrerá ainda mais e que as dores apenas começaram. Habacuque se desespera e aguarda na torre de vigia. Lança-se à oração (Hc 2:1).
Perante essa crise profundamente desesperadora, ele reconhece algo novo sobre Deus, e diz: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é minha fortaleza” (Hc 3:17-19).
O profeta percebe que Deus não perdeu seu poder diante do caos. Deus não deixa de ser Deus quando diz 'não'. Habacuque pede que o Senhor mude as circunstâncias, mas Deus lhe convida a crer que Ele é Deus apesar e além das circunstâncias.
No capítulo 2, Habacuque exclama aquilo que iria levar Paulo, após 600 anos, a fundamentar a carta aos Romanos, e Lutero, após 2.100 anos, a iniciar a Reforma Protestante: “O justo viverá por fé” (Hc 2:4). Deus não nos convida a ver, mas a crer. Deus nos convida a ter fé. E, como Paulo afirma: “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10:17).
À semelhança de Habacuque, nossa tendência é buscar com maior intensidade o livramento do sofrimento diário. Isto é natural, e o Senhor deseja que seus filhos clamem por socorro, cura e intervenção do Alto! Deus, porém, vê além da linha do horizonte. Por vezes Ele usa o sofrimento temporário para que tenhamos nossa atenção voltada para o que é eterno. Os maiores aprendizados não ocorrem nas savanas tranquilas, mas nos desconfortáveis desertos. Mas é certo que as vezes não conseguimos entender os motivos do Pai, mas cremos e confiamos nele, e entendemos que há sempre um propósito maior que a dor.
“Ainda que a figueira não floresça...” nos ensina que todos os planos de Deus, mesmo em meio ao sofrimento e caos, são planos de amor. E que reconhecer isso nos dá a mais santa e poderosa mensagem: há Deus!
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