terça-feira, 24 de setembro de 2024

SERMÃO

 NÃO FAÇAIS VOSSAS BOAS OBRAS DIANTE DOS HOMENS

“Guardai-vos, não façais vossas boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles; de outra sorte, não tereis a recompensa da mão de vosso Pai que está nos Céus.

Quando, pois, deres a esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como praticam os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados pelos homens; em verdade vos digo que eles já receberam a sua recompensa.

Mas, quando deres a esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita, para que tua esmola fique escondida, e teu Pai, que vê o que tu fazes em secreto, te pagará.” (Mateus, 6:1 a 4.).

Como ressalta do texto evangélico que antecede estas linhas, há duas maneiras bem distintas de fazer boas obras: uma, ditada pelo orgulho; outra, inspirada pela caridade.

Aquela, fortemente impregnada do espírito farisaico, que consiste em aparentar virtudes inexistentes, em exaltar a própria personalidade; esta, calcada na sinceridade e na compaixão pelos sofredores, sem outro objetivo senão fazer o bem pelo amor ao bem.

Aquela, visando a compensações, como a consideração e os louvores da sociedade; esta, buscando apenas a alegria íntima do cumprimento de um dever.

Os fariseus do passado, quando se dirigiam ao templo ou saíam à rua para distribuir esmolas, faziam-se preceder por arautos, que lhes anunciavam a presença com estridentes toques de trombeta.

Utilizavam-se desse meio para se fazerem notados pelo povo e adquirirem fama de santos, quando, na realidade, o que abundava neles era a hipocrisia e não a piedade.

Lamentavelmente, criaturas assaz imperfeitas que ainda somos, também nós gostamos de aparecer em campanhas de larga repercussão, mormente quando haja divulgação de nomes dos “benfeitores”, mas, não raro, negamos um minuto de atenção a esses infelizes farrapos humanos que nos batem à porta, furtamo-nos ao mais insignificante favor a quem não no-lo possa retribuir, assim como arranjamos sempre uma desculpa para esquivar-nos a qualquer esforço próprio, quando se nos ofereça ensejo de colaborar, anonimamente, nesta ou naquela tarefa de assistência aos desvalidos.

Ensinando-nos a fazer o bem sem ostentação, silenciosamente, dando com a direita, sem que a esquerda o saiba, Jesus quer desenvolvamos em nós os sentimentos de humildade e de legítima fraternidade cristã, sendo modestos e recatados no benefício que fazemos, a fim de não agravarmos a amargura de nossos irmãos necessitados, porquanto, apesar de sua má condição social, eles também possuem dignidade pessoal, que devemos respeitar.

Assim, pois, socorrê-los publicamente, expondo-os a humilhações, é profanar a caridade, tornando-a apenas uma agência de publicidade a serviço de nosso personalismo egoísta e mercenário.

Enquanto fizermos boas obras apenas para sermos vistos pelos homens, sorvendo, qual delicioso néctar, as palavras de elogio que eles nos dirijam, teremos, na própria satisfação efêmera de nossa vaidade, a recompensa de nossos feitos, sem que nada mais nos seja creditado na contabilidade celeste.

Quando, porém, soubermos agir sob os impulsos generosos do coração, por verdadeiro altruísmo; quando formos capazes de servir e passar, sem esperar, sequer, uma palavrinha de gratidão, então, sim, estaremos desenvolvendo nosso Cristo interno e, sintonizados com o Pai celestial, onde quer que estejamos, viveremos permanentemente na mais perfeita tranquilidade de alma, gozando a gloriosa e inenarrável felicidade de... ser bom!

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