quinta-feira, 26 de setembro de 2024

ORARDES

 QUANDO ORARDES...

“Quando orardes, não deveis ser como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos dos homens: em verdade vos digo, que eles já receberam a sua recompensa.

Quando quiserdes orar, entrai em vosso aposento e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto; e Ele, que vê o que se passa em secreto, vos dará a paga. E, orando, não faleis muito como os gentios; pois cuidam que pelo seu muito falar serão ouvidos.

Não queirais, portanto, parecer-vos com eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vos lho peçais.” (Mateus, 6:5 a 8.).

Os fariseus, tantas vezes censurados por Jesus por causa da hipocrisia que lhes caracterizava as ações, até quando oravam, deixavam transparecer essa terrível falha moral.

Tinham horas certas para isso e, em chegando os momentos determinados, quer estivessem no templo, quer se encontrassem num logradouro público, recitavam, em altas vozes, suas orações, evidentemente mais para exaltação própria, para se fazerem passar por piedosos, do que para glorificarem a Deus, e daí a razão pela qual afirmou Jesus que, com tal prática, já estavam recompensados.

Ensinando-nos: “quando quiserdes orar, entrai em vosso aposento e, fechada a porta, orai a vosso Pai em secreto, e Ele vos dará a paga”, o Mestre deixa claro que a oração, para ser ouvida por Deus, precisa revestir-se de fervor e sinceridade, e, pois, deve ser feita em estado de alma todo especial, sem que olhares e ouvidos curiosos nos constranjam ou inibam.

Jesus mesmo, quando queria entrar em comunhão com o Pai, buscava os lugares ermos, longe do burburinho das cidades, e ali, em silêncio, fazia as suas preces.

Não queremos, absolutamente, negar valimento às preces coletivas que se fazem nos templos de todas as organizações religiosas, desde que haja recolhimento e os presentes se associem, de coração, ao mesmo objetivo, porquanto o Mestre também orava em companhia de seus discípulos.

O que desejamos frisar é que em locais onde se aglomerem muitas pessoas, onde os mais variados estímulos externos impeçam uma boa concentração, impossível se torna estabelecermos um colóquio íntimo, absorvente, com o Pai celestial, e só nestas condições, livres de qualquer perturbação, é que poderemos abrir-lhe nossa alma, segredar-lhe nossas misérias, falar-lhe de nossas necessidades e pedir-lhe que nos auxilie, como o faríamos em conversa particular com um amigo dileto e merecedor de nossa inteira confiança.

Importa reconhecermos, também, que as preces feitas maquinalmente, apenas de lábios, enquanto o pensamento vagueia, assim como as orações em língua estrangeira, que não entendamos, e, por conseguinte, não nos sensibilizem nem nos edifiquem, pouco ou quase nada valem, por lhes faltar aquele cunho de fervor e sinceridade a que anteriormente nos referimos.

De acordo, ainda, com o texto evangélico em epígrafe, tampouco é a repetição mais ou menos prolongada de certas orações que nos granjeará as bênçãos celestiais.

Para Deus, que é onisciente e sabe o que necessitamos, antes de lhe pedirmos, tem mais significação o apelo inarticulado de uma alma aflita, o quebrantamento mudo de um coração tocado pelo remorso, do que as longas orações que se façam por mero formalismo ou em atendimento a hábitos convencionais, mas em que o sentimento não intervenha.

Bom é que desfaçamos, por último, o equívoco muito corrente de que as orações possuam o mérito de expiar pecados e que, para purificar-nos de nossas culpas, bastam uns tantos “pai nossos” etc., balbuciados à guisa de penitência.

As orações não têm, nem poderiam ter tal eficácia, porque infirmariam os princípios da Justiça Divina, segundo os quais cada um deve colher os frutos de sua própria semeadura.

O Espiritismo elucida-nos que, conquanto não possa mudar os desígnios de Deus, a prece tem, todavia, enormíssimo valor, quando feita com fé, pois atrai a assistência dos bons Espíritos

(santos, anjos ou que outras denominações queiramos dar-lhes), os quais podem infundir-nos um suprimento de coragem para enfrentarmos, com denodo, os obstáculos que surjam em nosso caminho, ou então sugerir-nos boas ideias, em forma de intuição, sobre como sairmos, por nós mesmos, das dificuldades que nos assoberbam. Ela pode dar-nos, também, a paciência necessária para suportarmos, resignadamente, as expiações por que tenhamos de passar, em consequência de nossos erros desta ou de existências pretéritas.

Assim compreendida, a prece é sempre benéfica, jamais fica sem resposta, e constitui o melhor recurso de que os cristãos devem valer-se quando sintam que a vida se lhes torna um fardo pesado demais para as suas forças.


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