sexta-feira, 13 de setembro de 2024

VERDADEIRA

 A VERDADEIRA ESPIRITUALIDADE


Quando se trata de questões abstratas ou intangíveis, é normal que surjam conceitos subjetivos e incertos. É o que ocorre com a espiritualidade. Muitos a confundem com a simples crença em divindades, livros sagrados, doutrinas e rituais. Entretanto, o estudo do Novo Testamento nos leva a concluir que a verdadeira espiritualidade do ser humano é o oposto da carnalidade. 


Nesse sentido, vejamos algumas referências bíblicas: 


“Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual discerne bem tudo, e ele de ninguém é discernido” (1Co.2.14-15). 


“E eu, irmãos, não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo...

Pois, havendo entre vós inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais, e não andais segundo os homens? Porque, dizendo um: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apolo; porventura não sois carnais? (1Co.3.1-4).

 

Nota-se que o apóstolo coloca em oposição os conceitos de “homem espiritual” e “homem carnal”. Ambos podem ser crentes, como era o caso dos coríntios, mas, ainda assim, eram carnais. A conclusão de Paulo a respeito deles se baseava em seus atos e atitudes, ou seja, se alguém é dominado pelo Espírito ou pela carne, isto ficará evidente em seu modo de viver, falar e agir. 


O homem carnal é aquele que pensa somente nas coisas terrenas (Fp.3.19), sendo guiado apenas por desejos e instintos, assemelhando-se, portanto, aos animais (Gal.5.15; Salmos 49.12; 73.22). Outra característica marcante é o seu apego às coisas materiais, pelas quais está disposto a maltratar o seu semelhante. O homem espiritual, por sua vez, é aquele que, em todos os aspectos da vida, prioriza os valores celestiais (Col.3.1-3). 


Na carta aos Gálatas, Paulo continua o desenvolvimento desse raciocínio, ao ensinar sobre as obras da carne e o fruto do Espírito:


“Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne. Porque a carne guerreia contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes opõem-se um ao outro, para que não façais o que quereis. Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei. Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus.

Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e domínio próprio” (Gál.5.16-22).


Não podemos ficar satisfeitos apenas com a crença intelectual, a doutrina e o ritual que, eventualmente, não afetam o caráter nem o comportamento. 


Muitas vezes, a espiritualidade é confundida com religiosidade. Desse modo, fica fácil dar aparência espiritual a atitudes carnais, como aconteceu em alguns episódios bíblicos.


Vejamos, por exemplo, o que fizeram Acabe e Jezabel, para possuírem a vinha de Nabote:


“Apregoaram um jejum, e puseram a Nabote diante do povo... e os homens, filhos de Belial, testemunharam contra ele, contra Nabote, perante o povo, dizendo: Nabote blasfemou contra Deus e contra o rei. E o levaram para fora da cidade, e o apedrejaram, e morreu” (1Rs.21.12-13).


A proclamação daquele jejum, bem como o uso da lei de Moisés atribuiu ares de espiritualidade a um procedimento judicial tendencioso que levou um inocente à morte.


Em Provérbios, Salomão narrou uma cena de sedução, na qual uma mulher adúltera usou argumentos religiosos para convencer um moço ingênuo: 


“E eis que uma mulher lhe saiu ao encontro com enfeites de prostituta, e astúcia de coração…

E chegou-se para ele e o beijou. Com face impudente lhe disse: *Sacrifícios pacíficos tenho comigo; hoje paguei os meus votos*.


Por isto saí ao teu encontro a buscar diligentemente a tua face, e te achei...

Vem, saciemo-nos de amores até a manhã; alegremo-nos com amores…

Assim, o seduziu com palavras muito suaves e o persuadiu com as lisonjas dos seus lábios” (Pv.7.10,13-15,18,21).


Passando para o Novo Testamento, outra cena nos mostra o mesmo disfarce espiritual: 


“Então Herodes, chamando secretamente os magos, inquiriu exatamente deles acerca do tempo em que a estrela lhes aparecera. E, enviando-os a Belém, disse: Ide, e perguntai diligentemente pelo menino e, quando o achardes, participai-mo, *para que também eu vá e o adore*” (Mt.2.7-8).


Lendo o início do capítulo, percebemos que o rei estava cercado pelas autoridades religiosas, a quem perguntou sobre as previsões messiânicas das Escrituras. Além disso, afirmou que pretendia adorar o Messias em Belém. Tudo isso poderia convencer muitas pessoas acerca da espiritualidade de Herodes, mas ali estava um assassino cruel que pretendia apenas conservar o seu poder político. 


Da mesma forma, os fariseus, saduceus, escribas, sacerdotes e doutores da lei eram religiosos, mas não eram espirituais, pois usaram todos os argumentos e recursos disponíveis para perseguir e matar o Senhor Jesus. 


Afinal, todas as repreensões do Mestre contra eles se resumem a essa falha essencial. Até certo ponto, suas obras religiosas eram muito boas, mas não estavam ligadas a um relacionamento com Deus. Na continuação desse modo de vida, chegaram ao cúmulo de matarem o próprio Filho de Deus. 


Com isso, não estamos combatendo as práticas relacionadas à fé, mas apenas destacando que elas não são um fim em si mesmas. 


Mas, voltando ao ponto central deste assunto, a verdadeira espiritualidade é o contrário da carnalidade que, por sua vez, está muito ligada à satisfação do corpo. 


Nesse sentido, vejamos o que Paulo escreveu: 


“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis.

E todo aquele que luta de tudo se abstém; eles o fazem para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, uma incorruptível. Pois eu assim corro, não como a coisa incerta; assim combato, não como batendo no ar. Antes *subjugo o meu corpo*, e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar reprovado” (1Co.9.24-27).


Nota-se, portanto, que a espiritualidade relaciona-se ao domínio do Espírito sobre o corpo. Como ilustração para isso, Paulo utilizou a disciplina dos atletas, a qual envolve exercícios constantes e a renúncia a determinadas comidas, bebidas, a certos relacionamentos e aos exageros de todo tipo. Tudo isso é essencial para que se alcance a vitória e o prêmio nas competições esportivas. 


É importante ressaltar que os mencionados ensinamentos bíblicos não sugerem a anulação do corpo, mas o controle sobre ele. Não podemos cair no extremismo de algumas seitas que proíbem o casamento e uma série de alimentos criados por Deus (1Tm.4.1-5). Afinal, não somos adeptos do gnosticismo que demonizava a matéria, nem praticantes do ascetismo, cuja essência inclui o autoflagelo. Nada disso. O que a bíblia nos ensina é uma submissão tal ao Espírito Santo, que o nosso corpo seja mantido sob o seu domínio, tornando-se servo de Deus (Rm.12.1). Enquanto vivemos neste mundo, não estamos imunes nem isentos das coisas terrenas, mas não podemos ser dominados por elas. 


Assim, é necessário que o cristianismo que professamos se traduza em um modo de vida disciplinado, em busca da santificação constante. Esta é a verdadeira espiritualidade.

 

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