Um dos relatos mais trágicos do Antigo Testamento encontra-se nos primeiros capítulos do primeiro livro de Samuel. O povo de Deus foi atacado e derrotado pelos Filisteus próximo à Ebenézer, um vilarejo de Efraim. Mais de 30 mil pessoas foram mortas e a Arca da Aliança levada pelos inimigos, causando grande comoção em todo o povo. O sacerdote Eli, recebendo notícias do fracasso na batalha, da morte de seus filhos e da perda da Arca do Senhor, caiu e morreu. Sua nora, movida por dores de parto deu à luz um filho e o chamou Icabode, que significa “foi-se a glória de Israel” (1 Sm 4).
Em meio à tragédia, veio a Palavra de Deus a Samuel, que exortou o povo a se converter ao Senhor de todo o coração, rejeitar os deuses, consertar a vida e servir o Eterno para terem vitória (1 Sm 7:3). Assim aconteceu, vindo a derrotar os inimigos de forma impressionante.
Samuel, pois, ergue um memorial ao Senhor e o chama Ebenézer, que significa 'pedra de ajuda'. Esse é o nome do vilarejo próximo ao qual o povo estava quando foi atacado e abatido, vindo a perder a Arca Sagrada. Samuel olha para trás, lembra-se da amarga derrota e reconhece a vitória dada por Deus no presente. Toma uma pedra como memorial e lhe dá um nome (Ebenézer) e também um significado: “[...] até aqui nos ajudou o Senhor” (1 Sm 7:12).
Talvez pareça estranho dar ao memorial de vitória o nome do local da derrota, o vilarejo Ebenézer. Poderíamos imaginar que o nome mais apropriado fosse Mizpá, onde Samuel sacrificou ao Senhor e o povo se encontrava quando, atacado novamente pelos Filisteus, obteve uma estrondosa vitória. Ou ainda Bete-Car, onde os últimos inimigos foram perseguidos e finalmente derrotados. Mas o nome do memorial foi Ebenézer, onde sofreram a primeira e terrível derrota.
Ao erigir o memorial, parece-me que Samuel enxerga a mão de Deus não apenas na vitória, mas também na derrota. Não apenas no consolo, mas na disciplina. Não somente quando Ele abraça, mas também quando corrige.
Ebenézer leva-nos a olhar para trás e reconhecer que em meio a terríveis batalhas, dias de derrota e perguntas não respondidas, Deus não se ausentou. Esteve conosco nos dias bons e maus. Sua mão trouxe sobre nós consolo e também disciplina. Sua presença nos acolheu e confrontou. As tragédias nos levaram ao pranto, porém em tudo “nos ajudou o Senhor”.
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