terça-feira, 17 de setembro de 2024

IMUTABILIDADE



 

O estudo que fazemos sobre o ser de Deus, seu caráter, suas obras e seus atributos denominamos "Doutrina de Deus", o estudo da doutrina revelada nas Escrituras Sagradas sobre a natureza de Deus e Seus decretos. Nosso esforço é iniciar uma série de pequenos artigos com o propósito de ajustar ou esclarecer de alguma forma nosso entendimento sobre os atributos divinos. Tendo em vista a necessidade desse ensino, de forma seqüenciada, abordaremos pedagogicamente esses atributos: incomunicáveis e comunicáveis. Segundo Heber Carlos, no seu livro “O Ser de Deus e Seus atributos” atributos incomunicáveis são definidos como aqueles que distinguem Deus como Deus, sendo impar naquilo que Ele é e faz. Esses atributos são a marca distintiva do Altíssimo que o tornam absolutamente inigualável. Eles são exclusivos de Deus e não há nenhuma correspondência aos mesmos na criatura. Esses atributos não podem ser transferidos aos seres humanos, pois a finitude destes impede que os possuam. Continuando, ele mesmo, afirma que os atributos comunicáveis indicam a natureza pessoal de Deus, que se evidencia na sua atitude relacional para com aqueles que estão fora do ser divino, isto é, pode ser encontrado em nossa personalidade traços dos atributos divinos. [1] 

 

Conceito


Em Latim, a palavra imutável quer dizer in ou im, não + mutabilis, mutável ou alteração. Imutável é semelhante a inalterável, constante e fiel. Significa de forma objetiva, que Deus nunca muda em Seus atributos ou conselhos. A palavra imutável revela o ser de Deus, Seus atributos, Suas promessas, Seus decretos e Sua concessão de dons.


 Segundo Washer [2], "O que Deus é, Ele sempre tem sido, e sempre será. Ele não muda em Sua mente, ou sobrepõe um decreto sobre o outro. Ele não faz uma promessa e depois muda Seu voto". Ele é independente e auto-existente, sobremaneira auto-suficiente. 


De acordo com Berkhof [3], a imutabilidade de Deus significa: "Ele é exaltado acima de tudo quanto há, é imune de todo acréscimo ou diminuição e de todo desenvolvimento ou decadência em Seu Ser e em Suas perfeições. Seu conhecimento e Seus planos, Seus princípios morais e Suas volições permanecem sempre os mesmos." Deus não muda, mas também ele não é estático, como na filosofia de Aristóteles. O pensamento de Berkhof se contrapõe com o de Aristóteles, afirmando assim que a imutabilidade divina não deve ser entendida no sentido de imobilidade, como se não houvesse movimento em Deus.

 

Exposição Bíblica


As Escrituras Sagradas revelam a imutabilidade de Deus, ela é contrastada com a mutabilidade dos seres humanos. O criador imutável e infalível contrasta com a sua criação falível e completamente mutável. Revelando com isso a grandeza do seu Ser, que com palavras apenas é impossível definir quem Deus é. O pressuposto dos atributos comunicáveis baseia-se na imutabilidade divina, a Sua misericórdia dura para sempre, o Seu amor é incondicional, a Sua justiça não falha, a Verdade é eterna. 

 

Malaquias 3.6 "Pois eu, o Senhor, não mudo; por isso vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos."

 

Tiago 1.17 "Toda boa dádiva e todo dom perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação."

 

Salmos 102.27 "Mas tu és o mesmo, e os teus anos não acabarão."

 

Isaías 41.4 "Quem operou e fez isto, chamando as gerações desde o princípio? Eu, o Senhor, que sou o primeiro, e que com os últimos sou o mesmo."

 

Isaías 46.10 “O meu conselho permanecerá de pé” 

 

Possíveis dificuldades e soluções


Encontramos nas Escrituras Sagradas textos que aparentemente permite o pensamento que Deus pode arrepender-se ou sofrer uma mudança de idéia. Deus não é imóvel, isto é, Ele não é um ser parado e afastado do mundo que ele criou. Deus de forma pessoal interage com suas criaturas, especialmente o homem. Esse relacionamento exige um comportamento ao nível do entendimento da criatura. Denominamos tais representações como "antropomorfismos", isto é, para uma compressão sobre Deus, foi dada a Ele uma forma. Os decretos de Deus são imutáveis, no entanto, pode haver um questionamento: não é dito que Deus se arrependeu? Parece ter havido uma mudança em seu decreto em Jonas 3.10: “Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não fez”. Aparentemente deve haver uma contradição, pois vemos no Livro de Números 23.19 que: “Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa”.


 Segundo Thomas Watson [4], sobre essa alegação ele diz: "O arrependimento é atribuído a Deus figurativamente. Pode haver mudança na obra de Deus, mas não em sua vontade. Pode desejar uma mudança, mas não pode mudar sua vontade. Deus pode mudar sua sentença, mas não seu decreto. Era o que tinha depositado em seu propósito desde a eternidade." Notamos que no hebraico há duas palavras para definir arrependimento, uma associada ao arrependimento humano e outra que significa “uma tristeza profunda ou um grande pesar” que está associado a Deus, ou seja, uma forma “antropopática” de se referir ao Criador. 


Nas palavras do Franklim Ferreira [5] observamos: “E se a Escritura fala do seu arrependimento, de Sua mudança de intenção, e da alteração que faz de sua relação com pecadores quando estes se arrependem, devemos lembrar-nos de que se trata apenas de um modo antropopático de falar. Na realidade, a mudança não é em Deus, mas no homem e nas relações do homem com Deus. A doutrina da imutabilidade de Deus precisa ser confessada com toda a veemência, contra qualquer pensamento que afirme que Deus está sujeito a qualquer mudança em seu conhecimento e vontade, de modo que suas decisões dependam em alguma medida das ações do homem.” 

 

 Aplicação


Como podemos entender acima, Deus é imutável! Suas promessas, seus decretos, seu Ser e Seus atributos. Maravilhoso entendimento! Garante-nos uma vida mais convicta e segura, respeitar e louvar a imutabilidade de Deus é algo relevante e supremo nos dias de hoje. Que como Corpo de Cristo, possamos viver uma vida coerente com essa realidade da IMUTABILIDADE DIVINA que transcende e contrasta ressaltando a nossa fraqueza.

A Ele toda Glória, Rm 11.36.



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