CANTAR

 

 

 Confesso que já estava com saudades do cantar dos sabiás. Eles andavam sumidos e, consequentemente, silenciosos. Agora o cenário está ficando completo: os ipês estão florescendo e os sabiás anunciam um novo tempo. O cantar ainda é tímido. Certamente estão ensaiando, mas a sinfonia, tenho certeza, alegrará as manhãs. Os humanos andam cantando menos. Talvez estejam se acostumando com os ruídos do cotidiano. Fico imaginando: se as críticas emitidas diariamente fossem melodias, o mundo se tornaria uma grande orquestra. Gosto de cantarolar durante o dia. São refrãos que embalam a vida e aliviam os fardos que andam pesando, de tempos em tempos. Estamos num período em que as pessoas andam se alterando facilmente. Tomara que a calmaria não demore para retornar. É exigente conviver com pessoas que se alteram facilmente e, assim, comprometem a capacidade de dialogar. Nesta mesma linha de pensamento, é importante prestar atenção num detalhe: procure saber e sentir onde você cabe. Se tiver que se apertar excessivamente para caber, talvez não seja o seu lugar. A obrigação, muitas vezes, não nos permite fazer escolhas. Mas onde for possível optar, é melhor não insistir em permanecer em lugares onde não há mais espaço afetivo. Não me refiro aos espaços físicos, mas àqueles ambientes onde a espontaneidade corre o risco de ser comprometida. A vida precisa de uma atenção contínua, caso contrário os dias seguem e a realização acaba não acontecendo. Se estiver muito apertado para permanecer em alguns lugares, não seria a hora de repensar as escolhas feitas? O tempo não volta atrás e nem sempre temos uma nova chance. É importante avaliar, com calma, e rever alguns posicionamentos. Não é difícil adoecer mentalmente. Toda prevenção é bem-vinda. Os sabiás vão intensificar o canto, nos próximos dias. É muito bom escutá-los. Sejamos imitadores, o mundo precisa de melodias e não de ruídos.