quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

APROVADO

 Testado e Aprovado

“Ensina-nos a contar os nossos dias, para que alcancemos coração sábio” (Sl 90.12).

Certamente, só percebemos a eficácia de um produto quando o utilizamos. Por mais que seja esteticamente bonito ou sua aquisição tenha satisfeito um desejo de consumo que tínhamos, um equipamento só se mostra uma compra necessária e importante se seu funcionamento cumpre perfeitamente aquilo que o fabricante afirma que faz. Não adianta termos algo que não usamos.

Aplicando esse princípio à vida cristã, para que serve a fidelidade se não vivemos situações nas quais a utilizamos? Na verdade, a vida comum de um crente mostra uma subutilização da fé, da confiança que temos no Senhor. Em período de calmaria, até mesmo um ímpio se passa por fiel. Apenas quando são exigidas de nós a fé, a fidelidade, a confiança, é que percebemos até que ponto realmente a possuímos.

Quando a crise se abate, se sofro uma perda significativa de pessoas ou bens, quando nossa resiliência ou resistência é exigida muito além daquilo que normalmente estamos acostumados, então vemos se possuímos fé, confiança, até onde vai a nossa fidelidade. O mundo afirma: “todo homem tem seu preço”. Aquele que já recebeu o tesouro eterno em Cristo Jesus não pode ser comprado por nada mais, pois não há nada mais valioso, nada que valha a pena trocar por ela.

Vivemos época quando os crentes não possuem fé suficiente nem mesmo para enfrentar os problemas corriqueiros. Os consultórios de psicólogos estão cada vez mais cheios de crentes fragilizadas interiormente, que nunca foram ou são curados na alma. 

Recentemente ouvi o relato de um crente cuja mãe teve dezessete filhos, tendo morrido cinco ou seis. Disse que ela mesmo nasceu em uma picada aberta no mato, pois não deu tempo de chagar à cidade. Como o marido havia saído para procurar socorro, sem retornar a tempo, a própria parturiente fez seu parto. Ao concluí-lo, pegou a criança, levantou-se e voltou para casa. À tarde, já estava à beira do fogão fazendo comida. Como diz Salomão: “Se te mostras fraco no dia da angústia, a tua força é pequena” (Pv 24.10). Não confundamos fraqueza com fracasso. Todos somos humana e naturalmente fracos, e devemos reconhecer isso.

No entanto, não somos fracassados! Há muito o que fazer e temos no Senhor poder para isso. Quando reconhecemos nossa fraqueza, então é que somos fortes (2 Co 12.10). Não se deixe jamais convencer de fracasso, de que você nada pode, que tudo o que fizer será em vão. Essa não é a vida que o Senhor tem para você. 

Somos mais do que vitoriosos em Cristo Jesus. Se nos dedicarmos a servi-lo, será a vontade divina a nos conduzir, fortalecer, orientar e capacitar. Creia nisso! Os fabricantes de equipamentos de defesa não perdem a chance de divulgar a eficácia de seus produtos, especialmente quando utilizados com êxito em algum conflito armado. Assim, divulgam o sucesso do emprego de tal ou tais equipamentos ou armamentos, através de slogans que utilizam comumente as palavras: “testado” e “aprovado”.

É possível transportar tal ideia para a experiência do reino de Deus. Aliás, o apóstolo Paulo já fez isso há muito tempo, quando disse: "Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas” (1 Tm 6:12). Como seria o caso de um produto já consagrado pelo seu uso, acredito que principalmente os servos de Deus, aqueles que já viveram muitos invernos, mostram em sua história as obras peculiares da atuação do Espírito Santo. Segundo as Escrituras, todo servo de Deus “experiente” tem que ser sábio. 

Isso não é uma possibilidade, mas uma exigência. O crente tem como incumbência aprender a contar os seus dias de forma a alcançar um coração sábio. Primeiramente, é importante que compreendamos que experiência não é sabedoria. Na verdade, a experiência prolongada com alguma coisa gera um especialista. 

Um exemplo disso é a utilização do termo “escriba” nas páginas do Novo Testamento. Ele não era mais visto como mero copista, mas como um “mestre da Lei”, pois o contato constante com os ensinamentos da Antiga Aliança fez dele profundo conhecedor do assunto. Falando-se do homem natural, a mesma realidade se observa. Ele vai se tornar especialista naquilo que pratica no transcorrer dos anos.

Assim, é possível que encontremos pessoas muito habilidosas em coisas pecaminosas, como mentir, trair, seduzir, enganar, chantagear etc. Pode ser que sejam achadas pessoas longevas que naturalmente descobriram que tais práticas sempre acarretam prejuízos, e, por isso, aprenderam a não se entregar a elas. Nestes casos, aprende-se a evitar o dano, o que não significa necessariamente concordar com princípios aprovados, base da verdadeira sabedoria. Esta é peculiaridade exclusiva daqueles que foram alvos da graça transformadora divina, modelados paulatinamente pelo Espírito Santo de Deus. 

Paulo, escrevendo aos coríntios, afirmou sobre a realidade do crente: “Vós sois a nossa carta, escrita em nosso coração, conhecida e lida por todos os homens, estando já manifestos como carta de Cristo, produzida pelo nosso ministério, escrita não com tinta, mas pelo Espírito do Deus vivente, não em tábuas de pedra, mas em tábuas de carne, isto é, nos corações” (2 Co 3.2,3). Uma obra-prima de um escritor torna-se best-seller e, com o passar do tempo, um clássico. Serve de referência sobre o assunto.

A vida de um crente, como carta escrita pelo próprio Espírito Santo, quando se torna amarelada pelo tempo, não indica sua obsolescência ou algo ultrapassado. Imitando a figura paulina, as vidas dos crentes são como romances escritos por Deus, cuja história tem como tema lutas, embates e guerras. Diferem dos escritos pelos homens por ser, de fato, história e existência.

Olhando para os salvos por este prisma, poderíamos dizer que a vida de todo crente que já viu branquear os próprios cabelos tem que ser em clássico. Suas histórias estão repletas de realizações da Providência; suas experiências instruem os mais jovens a respeito de situação semelhantes que podem ser enfrentadas por aqueles que largaram bom tempo depois, estando, ainda, próximos da linha de partida.

Tanto na figura bélica como na literária, fica claro que todo eleito, na velhice, tem que evidenciar a verdadeira sabedoria. Não pode haver lugar para a arrogância, pois a vida no Espírito, com o passar dos longos anos, fez desbotar todo o orgulho. Conhecedores dos “arcanos” de Deus, rendem-se ao conhecimento supremo do Senhor Criador e Salvador de suas vidas. Em uma sociedade que valoriza apenas aquilo que é jovem, e, hipocritamente, exalta os que trazem nas próprias faces várias marcas da linha do tempo, devemos publicar o nosso reconhecimento pela nobre vida que têm os nossos irmãos mais antigos. 

Deleitemo-nos com as muitas obras de Deus realizadas nas suas histórias. São combatentes aprovados, clássicos do Espírito Santo. Tenha um abençoado dia na presença de Jesus 

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