“Não julgueis, para que não sejais julgados” (Mt 7:1).
“Não julgueis, para que não sejais julgados” é um dos ensinos mais mal compreendidos do Sermão do Monte. Frequentemente, este texto é usado para defender que nenhuma avaliação deve ser feita sobre outra pessoa, mas não é disto que Jesus trata.
O problema não é avaliar, discernir ou aconselhar o outro. O problema é julgar com arrogância, como quem olha de cima. É falar precipitadamente, sem as informações acertadas. Trata-se da tendência humana de perceber com clareza o erro alheio e ignorar o próprio coração. A imagem da trave e do argueiro nos versos seguintes (3 a 5) ilustra essa hipocrisia que se instala quando tratamos o outro sem antes tratarmos de nós mesmos.
Vivemos em uma cultura de apontamentos rápidos, críticas duras e condenações apressadas. Palavras se tornam armas, opiniões viram sentenças e o coração se fecha para a misericórdia.
Jesus nos alerta que o olhar excessivamente duro nasce de um coração que não se reconhece pecador. Antes de corrigir o irmão, devemos encarar a verdade sobre nós. É preciso humildade para admitir a trave que carregamos, confessar pecados e perceber que também precisamos de graça.
Ao mesmo tempo, Cristo não nos chama à indiferença. Ele diz que, depois de removermos a trave, “então verás claramente” para ajudar o outro (v.5). O próprio Jesus nos ensinou a confrontar o pecador e a aconselhar quem caminha no rumo errado. A postura cristã não é a de quem cala diante do pecado, mas a de quem fala com amor, verdade e mansidão. É olhar o outro sem superioridade, com o desejo sincero de restaurar, e não de ferir. O discípulo do Reino aprende a unir discernimento e compaixão, verdade e graça, firmeza e ternura.
Que possamos, à luz das palavras de Jesus, olhar o próximo com misericórdia. Que o Senhor molde nosso coração para que deixemos de lado a crítica impiedosa e abracemos a humildade, a honestidade e o amor. Que cada encontro com o outro seja marcado não pelo julgamento que afasta, mas pela graça que aproxima e transforma.
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