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quinta-feira, 17 de março de 2016

ONDE ESTA DEUS?

Quando Deus criou o nosso mundo, segundo o livro de Gênesis, Ele nos outorgou o mandato cultural, para que cuidássemos da criação, sendo que Ele naquele momento, não fez uma divisão do tipo: Isso é espiritual, isso é carnal. Ou seja, a criação é um todo criado por Deus. Neste contexto, é interessante ver como Jesus agiu no seu ministério. Ele não gastava tempo querendo questionar se a demanda dos que apareciam ao longo do seu caminho era de natureza espiritual ou não. Quando havia pessoas necessitando de algo material, por exemplo, comida, bebida, ele satisfazia aqueles ao seu redor, como se viu no milagre do Casamento de Canaã ou na multiplicação dos pães e peixes. Quando as demandas dos indivíduos eram de ordem espiritual, Jesus os consolava ou expulsava os espíritos malignos que acompanhavam aquelas pessoas. Ocorre que com o passar do tempo, criou-se uma verdadeira dicotomia na visão de muitos, em querer colocar aquilo que seria “sagrado”, daquilo que seria “profano”, o que seria celestial e o que seria terreno. Esse tipo de pensamento começa por tomar forma, filosoficamente falando, com o pensamento de Platão. Ele criou o que se denonominou Teoria das Ideias ou Teorias das Formas, ou seja, haveria duas realidades bem distintas: uma abstrata não-material (mas substancial e imutável), e que possuiria o mais alto grau da realidade, e a realidade material, mutável e conhecida por nós através das sensações. Posteriormente, esse mesmo pensamento foi revisitado por Agostinho, um dos doutores da Igreja, quando falava de 2 cidades: a cidade de Deus e a dos homens, mostrando como a cidade de Deus era algo superior, em contraste ao nosso mundo: “São dois os amores, diz ele, em que um é puro, e o outro impuro; um junta, e o outro espalha; um quer o bem comum em vistas da sociedade celeste, e o outro se vale do bem comum e submete-o a seu domínio por orgulho e prevalência; um submete-se a Deus, e o outro Lhe tem inveja; um é tranqüilo, e o outro turbulento; um é pacífico, e o outro sedicioso; um prefere a verdade aos louvores dos palradores, e o outro é ávido de louvores, quaisquer sejam suas fontes; um deseja ao próximo o bem que para si deseja, e o outro deseja submeter o próximo; um governa os homens para o bem do próximo, e o outro para seu proveito; esses dois amores, de que já se imbuíam os anjos, um nos bons, e o outro nos maus, esses dois amores erigiram duas cidades por entre os homens” (De Genesi ad litt., Lib. XI, c. XV.). Com efeito, se essa forma de pensar é válida, ela pode se mostrar um tanto perigosa quando tomada em suas últimas consequências, no momento em que um religioso pode se esquecer ou negligenciar o fato de que antes de morrer, ele vive neste mundo caído, que demanda a sua intervenção, principalmente com relação ao seu semelhante. Se o céu é algo que nos é ofertado pela salvação em Jesus, não podemos ter aquela ideia equivocada que o Reino de Deus só começa no além-túmulo. Ou seja, o Reino de Deus já se encontra inaugurado (Lc 17,21), mas não consumado, e suas características principais são a JUSTIÇA, a PAZ, a ALEGRIA no Espírito Santo. Assim, como podemos nós esperar que tais características estejam presentes no nosso meio, se não estamos atentos para essa realidade? Podemos achar que o amor ao próximo, a caridade, a honestidade, o caráter e o próprio testemunho seriam coisas de “menos importância”, pois, em geral, elas não ocorrem por meio de milagres ou feitos extraordinários, que parece ser a forma única que alguns pensam que Deus age. Emblemático, neste sentido, foi uma pregação que assisti recentemente de um pastor, onde ele havia ido pregar em uma comunidade paupérrima na África, e o missionário que estava lá, ficou incomodado porque o pastor não começava logo a pregar, apesar do estado de fome, de quase inanição, ali dos ouvintes. Neste caso, o pastor entendeu primeiramente de saciar a fome daquele povo, como expressão do amor de Deus, para após trazer a mensagem bíblica. E por incrível que pareça, na cabeça daquele missionário, a fome e o sofrimento daquelas pessoas eram algo aparentemente secundário, já que o que importava era o número de convertidos, se as pessoas iriam ou não para o céu. Isso me faz lembrar também algo quando me converti. Eu sempre fui um cara que seria o tipo “bom moço”. Mesmo não tendo fé, antes de me converter, eu não era farrista, não bebia, não fumava, não aprontava, etc. Ou seja, tirando o fato de que eu não ia à uma igreja e que tinha dúvidas acerca de Deus, pouca coisa me diferenciaria para alguém de fora que me comparasse a um religioso. Isto porque, muitas pessoas, criam até para julgar a espiritualidade de determinadas pessoas, alguns conceitos prévios do que é certo ou errado. Assim, se teoricamente, você se encaixa neste script, nesta “caixinha”, você recebe aprovação dos irmãos da igreja, se não você, apesar de estar dentro de uma igreja, é visto com reservas, e até em alguns casos com desdém. É o que aconteceu no meu caso, onde um irmão chegou para mim na época e de forma bastante constrangedora e peremptória, começou a dizer que eu “nunca” teria me convertido, pois, segundo a ótica dele, eu não tinha um testemunho para apresentar para os outros do que eu era e do que eu passei a ser. Ou seja, eu não era um ex-drogado, um ex-pai de santo, um ex-isso ou aquilo. Teoricamente, eu era apenas um cara como qualquer outro do mundo, pois não tinha um passado de credenciais que me autorizariam a ser tido como uma “nova criatura”. Será que é por isso que quanto mais mirabolante o testemunho de alguém, mais se enche algumas igrejas? Ironicamente ou não, esse irmão que me julgou de forma tão contundente, hoje está afastado e revoltado com a igreja. O que ocorreu para eu ter permanecido fiel a Deus e ele buscado outro caminho? Não sei. Por outro lado, o Reino de Deus ele se manifesta das formas mais variadas em nossas vidas e não segue esqueminhas pré-moldados por nós. Essa é uma realidade, a meu ver, que passa despercebida por muitos, pois esquecem que o trabalho do dia-a-dia, por exemplo, é uma forma de você estar manifestando o reino de Deus nesta Terra, a forma como tratamos os nossos semelhantes, principalmente aqueles que, teoricamente, não podem oferecer nada em troca. Por isso, que dizem que quando você quer conhecer o real caráter de alguém veja como esta pessoa trata aqueles que estão abaixo socialmente dela ou que não podem oferecer, em tese, algo de lucrativo para esta pessoa. E por que estou escrevendo sobre isso? Essa semana, estava indo para um curso que estou frequentando e liguei o aparelho que caiu por acaso em uma rádio evangélica, que estava anunciando um “culto sobrenatural de Deus”. Eu, parei, e fiquei ouvindo como seria esse tal “sobrenatural”. Segundo o anúncio, o locutor estufava o peito para dizer que viriam a uma igreja de uma cidade-satélite aqui do Distrito Federal, pastores americanos e canadenses, conhecidos por orarem e aparecerem dentes de ouro nas pessoas, e até pedras preciosas e pó de ouro. E aquilo me fez pensar o seguinte: Onde está Deus nisso? Qual o propósito disso? Será que para sentirmos Deus em nossas vidas, precisamos ver milagres e coisas “espetaculares”, fora do normal, sentir uma energia que corta à espinha ? E quando essas sensações não ocorrem? E quando o nosso dia-a-dia é rotineiro e sem tais emoções, Deus não está por perto? Sinceramente, eu não posso acreditar em um Deus omisso, pois acredito em um ser de amor que se insere em nossa História. Ou seja, o Deus bíblico não é um ser como pensa a filosofia deísta, que até afirma a existência de um criador, mas o vê, em geral, totalmente indiferente à nossa dor e sofrimento, já que o deísmo, como regra, nega eventos sobrenaturais, isto porque a razão não aceitaria ideias como milagres, profecias, etc. Em outras palavras, seria como um Deus que criasse o mundo e o deixasse à total deriva, já que nossa realidade seria regido por leis naturais e físicas. Ora, essa visão de mundo é uma visão que talvez se criou diante da dificuldade de alguns em aceitar a existência do mal no nosso mundo, diante de um Deus de amor apregoado pela Bíblia, porém, o Deus anunciado por Jesus é um ser pessoal e não impessoal, distante. E onde está Deus neste nosso mundo tão conturbado? Tão cheio de informações e valores que nos deixam perplexes e até perdidos. Parece que tem horas que o mundo está a nos engolir. Um exemplo ocorreu comigo na semana passada, faleceu a minha tia-avó materna Mariazinha, no Rio de Janeiro, com seus 94 anos. No dia que ela morreu, eu me senti muito mal, não só pela perda dela, mas um sentimento que venho tendo ultimamente: O fato de estar sendo engolido pela rapidez das coisas. A notícia eu recebi na manhã pela minha esposa e foram tantas as coisas ocorridas naquele dia e nos seguintes, que eu nem parei para refletir, para sentir o luto, a tristeza. É um sentimento horrível esse que tomou conta de mim no dia, uma mistura de sentimento de culpa, de falta de insensibilidade, de incapacidade de sair desta roda-viva que tem se transformado as vidas das pessoas hoje em dia, a começar por mim, a ponto de não termos tempos até para lembrar dos nossos entes queridos. Respondendo a pergunta: Onde está Deus? Deus está nas nossas relações, onde o amor está presente, como vemos em I João 4:16, verbis: “E nós conhecemos, e cremos no amor que Deus nos tem. Deus é amor; e quem está em amor está em Deus, e Deus nele.” Concluindo, invoco um pensamento de Randy Alcorn, que disse recentemente: “Enquanto os ateus ocidentais desistem da crença em Deus porque um tsunami em outra parte do mundo causou grande sofrimento, muitos sobreviventes quebrantados do tsunami encontraram a fé em Deus. Este é um dos grandes paradoxos do sofrimento. Aqueles que não sofrem muito pensam que o sofrimento mantêm as pessoas afastadas de Deus, enquanto muitos que sofrem em demasia se voltam para Deus, e não se apartam dEle.” Mutatis mutandis, é o mesmo que nos ensinou Billy Graham, quando questionado por um jornalista onde estava Deus no atentado de 11 de setembro, quando mais de 3000 pessoas morreram no ataque terrorista ao World Trade Center. E ele respondeu que Deus estava no amor e esforço dos bombeiros, no sentimento de empatia e de solidariedade que tomaram a nação como um todo. Aí, repousa a beleza da fé.

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