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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

DEPRESSÃO

Há no homem um vazio do tamanho de Deus. Depressão O que é depressão? Creio que muitas pessoas fazem esta pergunta quando passam, ou veem alguém que lhes é querido passar, por esta enfermidade. Aliás, seria a depressão uma enfermidade? Há quem diga que não passa de uma frescura, de um capricho ou, simplesmente, preguiça por parte de quem diz estar sofrendo. Há, também, quem diga que seja algum pecado escondido, algo que precisa ser reconhecido e confessado. Há até quem diga ser um demônio na pessoa. Estariam certas estas teorias? Seria correto afirmarmos tais coisas sem antes conhecermos o que ocorre no cérebro humano de quem passa por depressão? A Bíblia não usa o termo depressão em nenhuma de suas páginas. Logo, não adianta procurar pelo termo nas Escrituras. No entanto, é preciso recordar que, embora a Bíblia também não traga a palavra Trindade, cremos nela por vermos os contornos da mesma nas Escrituras. O mesmo ocorre com a depressão. A Sagrada Escritura não afirma em nenhum lugar que determinado personagem teve depressão. “No entanto, ela frequentemente descreve homens e mulheres que manifestaram muitos dos sintomas da depressão e ansiedade”, afirma Dr. David Murray.[2] Em alguns casos, é difícil afirmarmos se tal personagem passou ou não por depressão. No entanto, já em muitos outros casos, se tivéssemos um médico de hoje nos tempos bíblicos, muita gente seria diagnosticada com depressão. Como bem escreveu o conselheiro bíblico Edward Welsh: Procuremos a direção nas Escrituras. Se buscarmos a palavra ‘depressão’, não encontraremos muitas referências, mas se ampliarmos a busca para ‘sofrimento’, com suas infindas variações, ela ficará repleta de sentido. Cada página terá o potencial de falar diretamente a você[3]. Assim, encontramos vários personagens bíblicos que atravessaram o que hoje se chama depressão. Dentre estes, encontramos Jó, Asafe, Salomão, Elias, Jonas, Pedro, Paulo, Caim, dentre outros. Murray, em seu livro sobre depressão, descreve também como os sintomas da depressão e da ansiedade podem ser vistos em Moisés, em Ana e Jeremias. Ele afirma que “nesses casos, é difícil dizer se os sintomas refletem uma depressão ou uma simples baixa temporária. Dr. Martin Lloyd-Jones argumenta, a partir de evidência bíblica, que Timóteo sofria de uma ansiedade quase paralisante.”[4] Murray ainda destaca os casos de Elias, de Jó e de vários salmistas. Como vive um depressivo? Para quem vive em depressão, descrevê-la é impossível. Senti-la, insuportável. Seria como alguém afogando tentar explicar a sensação de afogar-se. Apenas se tal pessoa for tirada do fundo do rio será capaz de explicar o que lá sentiu. É assim que conhecemos o que sente alguém que passou por depressão. Quando saíram dela e descreveram o desespero do momento. Andrew Solomon, autor de um dos melhores livros escritos sobre depressão, por alguém que passou por depressão, afirma que: No pior estágio de uma depressão severa, eu tinha estados de espírito que não reconhecia como meus; pertenciam à depressão, tão certamente quanto as folhas naqueles altos ramos da árvore pertenciam à trepadeira. Quando tentei pensar claramente sobre isso, senti que minha mente estava emparedada, não podia se expandir em nenhuma direção. Eu sabia que o sol estava nascendo e se pondo, mas pouco de sua luz chegava a mim. Sentia-me afundando sob algo mais forte do que eu, primeiro, não conseguia controlar os joelhos e em seguida minha cintura começou a se vergar sob o peso do esforço, e então os ombros se viraram para dentro. No final, eu estava comprimido e fetal, esvaziado por essa coisa que me esmagava sem me abraçar.[5] Gavin Aitken e sua esposa Eleny Vassão escreveram um livro para ajudar quem sofre com depressão chamado Dor na alma. Ao descrever o depressivo, afirmam que a pessoa é capaz de chorar por horas e nem saber porque está chorando. Neste estado, faltam emoções, sente-se fraqueza física, não se consegue falar de propósito de vida, experimenta-se solidão profunda e angustiante, além de pensamentos suicidas.[6] A rotina de uma vida espiritual se torna quase impossível em tal estado mental. Nesta hora, a comunhão dos santos pode fazer toda a diferença. Estar com quem sofre para sofrer com ele, chorar com ele, e orar com e por ele, pode fazer muita diferença. Como escreveu Murray, “o crente deprimido não pode concentrar-se para ler ou orar. Ele não quer se encontrar com as pessoas e assim procura evitar a igreja e a comunhão. E frequentemente pensa que Deus o abandonou.”[7] A esperança de que algo possa mudar praticamente desaparece. Semelhante a alguém prostrado no fundo de um poço sem esperança de que alguém o encontre ali e lance a corda, o depressivo sofre pela falta de esperança. Baxter (1615-1691), chamando a depressão de tristeza excessiva, afirma que esta atrapalha por demais a esperança. “Tais pessoas gostariam de ter esperança, mas não conseguem. Todos os seus pensamentos são cheios de desconfiança e apreensão, nada veem além de perigo, aflição e desamparo.”[8] É assim que, segundo Baxter, a tristeza excessiva consome o homem, incapacitando-o e governando seus pensamentos. Tornando o ser humano incapacitado, este “morre” ainda estando vivo. Por mais que você fale com ele, exorte-o, chacoalhe-o, nada parece mudar. E a razão é muito simples: a depressão ceifa a alma de uma pessoa. A depressão ceifa mais anos do que a guerra, o câncer e a aids juntos. Outras doenças, do alcoolismo aos males do coração, mascaram a depressão quando esta é a causa; se levarmos isso em consideração, a depressão pode ser a maior assassina do mundo[9]. Talvez, a parte mais triste da depressão seja que, dentro de muitas famílias, sociedades e igrejas, a maioria das pessoas não compreende a depressão, e trata o doente como culpado pela doença. Seria o mesmo que culpar um portador de Síndrome de Asperger ou Esquizofrenia por serem como são por conta de um pecado. Ao ver um comportamento errado, não devemos julgar imediatamente como pecado, mesmo quando for em uma criança. A primeira infância deve ser analisada com bastante cuidado, pois há muitas doenças neurológicas que não são diagnosticadas, ou mesmo percebidas na primeira infância, e que levam crianças a serem disciplinadas como se o comportamento errado fosse fruto de um pecado, e não de um problema/doença neurológicas. Imagine que um conselheiro bíblico, vendo o mal comportamento de uma criança, oriente seus pais a disciplinarem tal criança dizendo que este é o único meio para corrigir o mal comportamento no coração de seu filho. Aparentemente, essa pode ser uma correta e piedosa orientação, pois a Bíblia nos exorta a disciplinar nossos filhos. Mas, e se o comportamento errado de uma criança for fruto de um distúrbio ou doença neurológica como as citadas acima? Uma criança portadora de Síndrome de Asperger nem sempre é diagnosticada nos primeiros anos de vida, e vive como uma criança normal, apenas com alguns problemas comportamentais fruto de uma disfunção neuroquímica cerebral. O que defendo aqui é que nem sempre a solução para a mudança de comportamento é a disciplina ou o pré-julgamento, mas a sabedoria e o bom senso, que nos leva a orar e pedir sabedoria a Deus para encontrar o melhor caminho. Um conselheiro cristão deve estudar e se dedicar em conhecer as doenças neurológicas hoje reconhecidas. Infelizmente, muito daquilo que tem sido considerado pecado nem sempre o é. O que quero dizer com tudo isso é que, assim como é absurdo alguém olhar para um Asperger ou um Esquizofrênico e dizer: “isso é frescura, é pecado”, sem pedir um exame médico que possa explicar tal comportamento, é absurdo olhar para um depressivo e dizer: “isso é frescura, é pecado”, sem antes pedir um exame médico que possa também explicar possíveis causas físicas. Quanto à depressão, concordo com Murray de que um benefício adicional de se ter algum conhecimento a respeito da depressão é que isso vai impedir o perigoso e prejudicial equívoco que muitas vezes leva pessoas, especialmente cristãos, a verem os medicamentos não como uma provisão de Deus e de sua graça, mas como uma rejeição a Deus e à sua graça.[10] Como escreveu o príncipe dos pregadores, Charles H. Spurgeon (1834-1892), há cerca de 150 anos atrás: Está tudo muito bem para aqueles que estão com saúde robusta e cheios de espírito para culparem aqueles cujas vidas são doentias ou cobertas com pálido aspecto da melancolia, mas esta [doença] é tão real quanto uma ferida aberta, e muito mais difícil de suportar porque faz tanto na região da alma que para os inexperientes parece ser um mero caso de fantasia e imaginação doentia. Leitor, nunca ridicularize o nervoso e o hipocondríaco, a dor deles é real; embora muito da [doença] esteja na imaginação [processo de pensamento], ela não é imaginária.[11]

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