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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

TEDIO

 Pouco mais de dez dias se passaram desde o início oficial da quarentena no país e muitos já estão fazendo das palavras de Jó as suas próprias palavras: “A minha alma tem tédio à minha vida” (Jó 10.1). E quando forem dois ou mais meses de confinamento, como acontece em alguns países? Reproduzirão Jeremias: “Maldito o dia em que nasci” (Jr 20.14)? Ou Elias: “Basta; toma agora, ó Senhor, a minha alma” (1Rs 19.4)? Talvez.

Lidar com o isolamento social e suas consequências não é tarefa fácil para seres essencialmente relacionais e ativos, como nós. Mas o problema é mais profundo do que isso. Não é apenas o “ficar em casa” que está sufocando muitas pessoas, mas sim o tédio de não ter muitas opções disponíveis para aplacar o vazio existencial que outrora era preenchido com ativismos de todos os tipos. Já está claro a muitos que Netflix e redes sociais o dia inteiro não darão conta do recado. Como diz o rock brasileiro, “[…] eu já tentei de tudo, mas não tenho remédio pra livrar-me desse tédio”. 

Um artigo publicado no Psychology Today[1] listou os principais fatores na contemporaneidade que têm causado tédio nas pessoas – oito no total. Vejamos abaixo apenas dois deles e, especialmente, a perspectiva bíblica para lidar com cada fator apresentado.

  1. A falta de constantes estímulos. Ficar confinado em casa, repetindo as mesmas atividades todos os dias sem a perspectiva de fazer algo diferente, pode tornar a vida entediante, sobretudo aos mais jovens, que costumam ser impacientes com rotinas monótonas. A falta de desafios produz a sensação de enfado, cansaço existencial. Contudo, manter-se ativo nesse período de reclusão é fundamental para enfrentar o tédio. Então, use-o a seu favor. Veja-o como uma oportunidade para repensar sua história e fazer novos planos, se for o caso. Grandes inventores e pensadores dos últimos séculos entenderam o tédio como a matéria-prima da criatividade e – eureca! – grandes produtos e serviços surgiram. Mas, acima de tudo, veja o tédio como uma oportunidade para aquietar o coração em Deus. Assim como o salmista, faça “calar e sossegar a [sua] alma”, enquanto “espera no Senhor” (Sl 131.2-3), alimentando-se da Palavra e o buscando em oração. Talvez, o principal ensinamento de Deus a nós nesse período de reclusão seja aprendermos a estar satisfeitos nele, sem a necessidade de ficarmos tapando os buracos de nossa peneira existencial com muitas ocupações. Nesses dias, para muitos dos seus filhos, o Senhor está dizendo: “Marta! Marta!…” (veja Lc 10.38-42).
  2. A falta de autonomia. Outro fator que conduz o ser humano contemporâneo ao tédio é a falta de autonomia, isto é, sentir-se impedido de tomar suas próprias decisões. Na quarentena, muitas decisões são tomadas em nosso lugar. As autoridades dizem o que podemos ou não fazer, onde devemos ir e até mesmo os horários para cada atividade, entre outras recomendações. Esse sentimento de não poder ser o governante de nossa própria vida gera desânimo. Todavia, há uma nova oportunidade aqui. Nossa limitação – ainda que mínima, convenhamos – deve ser um trampolim para refrearmos nossa sede por controle. Talvez seja essa uma boa hora para relembrarmos a nós mesmos quem é o verdadeiro governante de nossa vida: o Soberano Senhor, que “muda o tempo e as estações, remove reis e estabelece reis” (Dn 2.21). Renunciar a nossa pretensa autonomia e descansar no cuidado divino trará alívio e paz. Como o salmista, pregue a você mesmo: “Descansa no Senhor e espera nele” (Sl 37.7). Afinal, ele está “assentado sobre um alto e sublime trono” (Is 6.1).

Enfim, à medida que os dias de confinamento aumentarem, a tendência é que o sentimento de tédio – frustração, sensação de enfado e cansaço existencial – aumente na mesma proporção. O antídoto para livrar-nos dele, ao contrário do que muitos pensam, não é a superocupação nem a busca por controle, mas o descanso no cuidado de Deus.    


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