segunda-feira, 24 de novembro de 2025

OLHOS

 Quando a glória brilha em nossos olhos

“Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro” (Fp 1.21).
Parece ser uma clara evidência de que o homem não foi criado para a morte o fato de o ser humano existir como se jamais tivesse que passar por ela. Certamente, quanto mais longe de Deus estivermos, mais apegados à presente vida estaremos. Nossos dias percebem uma mudança brutal na perspectiva que o chamado crente tem da morte. Durante toda história da Igreja, nota-se uma visão extremamente consoladora e confiante dos crentes ao pensarem em seu último suspiro. Olhavam para a morte como uma passagem, não qualquer transição, mas o assumir a glória eterna.
A vida prometida por Deus para nós em Cristo é infinitamente superior à presente existência. Todavia, a sensação nitidamente perceptível na igreja atual é que, aparentemente, para o crente a vida eterna bem poderia ser, simplesmente, o prolongamento infinito dessa miserável existência. Os que se chamam crentes em nossos dias olham para a morte com medo, pois mal conhecem o Autor da vida. Não pretendem servi-lo com integridade de vida, mas usá-lo em sua busca de coisas relativas a esta terra, meramente físicas, materiais e passageiras. Vivem sem contemplar as maravilhas do porvir, sem acumular tesouros nos céus, sem buscar as coisas próprias do lugar onde Cristo vive. Há muito deixaram de perceber que a morte é a solução definitiva de nossos problemas! É quando não haverá mais dor, problemas, atritos, preocupações, apenas vida abundante para ser vivida. A morte deveria ser uma aspiração para o cristão, não desejo mórbido, mas anseio de vida eterna e gloriosa com o Senhor.
Quando Paulo escreve as palavras supracitadas, ele estava preso, provavelmente, em Roma, no início da década de sessenta do primeiro século. Em poucas palavras, o apóstolo descreve de forma dramática e profunda o que é a vida e a morte para alguém que conhece profundamente a Jesus. Vida, para Paulo, é Cristo! Com isso, quer dizer que nada mais cativava sua atenção, a não ser o seu Salvador. Sua vida só fazia sentido quando considerada à sombra da cruz. Nada desta terra, suas alegrias e riquezas, suas glórias e prazeres, era importante para o apóstolo. Ele considerava possuir o tesouro inigualável, pelo qual valia a pena renunciar a qualquer coisa desta terra, mesmo as mais preciosas, se necessário, quando prejudicavam a carreira da fé.
A verdadeira vida só é encontrada quando o Senhor ocupa os quatro cantos de nosso coração, momento em que somos libertos das amarras da vida na carne, a existência que leva ao pecado por considerar as coisas materiais e naturais à vida física o mais importante. Quando os tesouros espirituais da comunhão com Cristo refulgem aos olhos de alguém, é impossível desprezá-los.
Considerando a prisão de Paulo, tal assertiva se reveste de ainda maior significação. Ele não falava da teoria, mas de sua prática constante e diária. Seu testemunho quanto às dificuldades que enfrentava, foi: “Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas, uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez”. O apóstolo podia levantar a gola de sua túnica e mostrar a marca das pedradas, dos açoites e outras cicatrizes. É a expressão do que disse em outro lugar: “eu trago no corpo as marcas de Jesus” (Gl 6.17).
É exatamente por causa de viver Cristo é que o seu morrer é lucro. Significa vida eterna com o Salvador. Não havia temor da morte, antes esta era a própria expectativa da glória. Da forma como Paulo constrói o verso nos dá a nítida impressão que ele está destacando que a verdadeira vida é recebida na morte, e que Cristo é o seu real lucro. Na verdade, viver Cristo significa experimentar apenas vida, intensificada em sua plenitude quando o Senhor nos chamar a comparecer a sua presença nos mais altos céus.
Cuidado para não estar exageradamente apegado à esta terra. Isso que experimentamos aqui é uma existência amaldiçoada pelo pecado. Aprenda a ter uma correta perspectiva da vida e da morte. Não seja um daqueles que fala de “livramentos” de acidentes ou doenças, meramente louvando a Deus por continuar nessa miserável existência. É como se dissesse: “quase fui parar no céu, mas, graças a Deus, o Senhor me livrou disso!”. Se o Senhor fez com que permanecêssemos aqui, não foi para que continuemos a “desfrutar” dessa existência em pecado, mas porque temos ainda coisas a fazer para a glória dele. O morrer para nós é lucro.
Ora, se é assim, continuar por aqui seria prejuízo, sacrifício que devemos aprender a fazer para servir o Senhor no cumprimento de todo o propósito dele para a nossa vida. Aprendamos a viver Cristo em nossas vidas. Para nós, há apenas vida: “já passamos da morte para a vida”. Olhar para a morte é ter o brilho da glória intensamente refletido em nossos olhos. Tenha um abençoado dia na presença de Jesus

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