O Socorro que vem do Senhor
“Elevo os olhos para os montes: de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” (Sl 121.1,2).
Há situações em nossa vida que se mostram inescapáveis. São ocasiões nas quais parece que o Senhor nos aprisionou em determinada situação, trancou a cela e jogou a chave fora. São momentos que clamamos como Jeremias: "Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura?" (Jr 15.18a). “Até quando, Senhor?”, clamamos. Vamos o tempo passar célere sem que vejamos qualquer solução.
Pressionados por acontecimentos que nos trazem dores e sofrimentos tendemos a pensamentos blasfemos de abandono, como se o Senhor, ao invés de Pai bondoso fosse Pai relapso. Foi exatamente o caminho trilhado pelo profeta, expresso na parte final do verso: “Serias tu para mim como ilusório ribeiro, como águas que enganam?” (Jr 15.18b).
A expressão “ribeiros ilusórios” traduz um termo da língua hebraica que denota os rios temporários de Israel. Tecnicamente falando, o país, até hoje, possui somente um curso
de água confiável: o rio Jordão. Todos os demais são rios classificados como “temporários”, pois podem ou não permanecer sem secar até a próxima estação de chuvas.
Lá chove cerca de quatro meses, não caindo nem mesmo uma gota do céu até o próximo ano. Correria grande risco qualquer que confiasse que encontraria água nesses ribeiros no período de estiagem. Caravanas pereceram pela sede, como que enganadas por falsa certeza, encontrando apenas o rastro deixado pelas águas na forma de um leito completamente seco.
Quando entendemos ao que se aplicava a expressão utilizada por Jeremias, percebemos o quão blasfemo foi o que disse ao Senhor. Contextualizando, é como se dissesse que sua confiança em Deus foi como: “nadar, nadar e morrer na praia”. Desconfiar do Senhor é uma forma de blasfêmia, pois significa, na prática, acusá-lo de ser negligente no trato de seus filhos.
Nossas queixas e lamentações diante de Deus deve ser limites claros estabelecidos. Ultrapassá-los significa impiedade. No caso do profeta, seu pecado fica nitidamente inferido pelas palavras imediatamente seguintes: “Portanto, assim diz o Senhor: Se tu te arrependeres, eu te farei voltar e estarás diante de mim; se apartares o precioso do vil, serás a minha boca; e eles se tornarão a ti, mas tu não passarás para o lado deles” (Jr 15:19). Jeremias havia pecado ao se dirigir a Deus daquela forma.
A maneira de as Escrituras mostrarem a necessidade de limites em nossos clamores está na figura das três vezes. Jeremias fez três intercessões pelo povo. Antes dele, Moisés havia resistido por três vezes ao comissionamento de retornar ao Egito para libertar o povo. Elias se estendeu três vezes sobre o corpo do menino morto, filho da viúva de Sarepta, para ressuscitá-lo. Jesus pediu três vezes: “Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!” (Mt 26:39 -> v. 44). Paulo clamou três vezes para que lhe fosse tirado o espinho na carne (2Co 12.8). Por esses exemplos, claramente se estabelece limites à nossa “insistência” com o Senhor. Certamente, ela se dá não apenas pelo número de vezes que clamamos, mas também a forma com que a fazemos, como o exemplo de Jeremias deixa claro.
Precisamos entender que nosso sofrimento não nos autoriza a sermos desrespeitosos com o Senhor. Antes, devemos aprender a esperar, resolutos de que ele cuida de nós. É necessário aprender a confiar, isto é, “exercitar os músculos” da fé. Deus pode, de fato, todas as coisas.
No entanto, crer verdadeiramente é esperar na vontade do Senhor, qualquer que seja ela. Ele sabe dos nossos limites, de nossas necessidades, e em si é fonte inesgotável de forças para enfrentar toda e qualquer situação. Quando a nossa vontade é pressionada é que aprendemos a nos anular por completo para viver apenas Cristo, reconhecendo em seus propósitos eternos aquilo de melhor para nós. Experiências de fé são sempre acontecimentos individuais, restritos à vida do eleito diante de Deus. São situações quando nos entregamos completamente à vontade do Senhor e esperamos mesmo contra as próprias evidências.
No texto epigrafado vemos o salmista descrever uma situação inescapável. O texto o mostra em um vale, contemplando os montes repletos de inimigos. Por isso clama: “De onde me virá o socorro?” Era situação humanamente que não admitia fuga. Não havia como romper o cerco. No entanto, isso é o que veem nossos olhos físicos. Devemos aprender a enxergar com os olhos da fé, de uma alma regenerada.
Certa vez, o profeta Eliseu e seu discípulos estavam cercados por inimigos. Assim diz a Escritura: “Tendo-se levantado muito cedo o moço do homem de Deus e saído, eis que tropas, cavalos e carros haviam cercado a cidade; então, o seu moço lhe disse: Ai! Meu senhor! Que faremos? Ele respondeu: Não temas, porque mais são os que estão conosco do que os que estão com eles. Orou Eliseu e disse: Senhor, peço-te que lhe abras os olhos para que veja. O Senhor abriu os olhos do moço, e ele viu que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu” (2 Rs 6.15-17).
Precisamos contemplar a existência do ponto de vista de Deus e de sua Palavra, não simplesmente por nossa visão do mundo e suas consequentes conclusões. A realidade primeira é espiritual, pois Deus é espírito. Considerar apenas o físico e material é ignorar o verdadeiro e real poder que dirige todas as coisas. No caso do salmista, quando clama pelo socorro não se trata de mostra de desespero. Apressa-se a dar resposta a seu questionamento: “O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra”. O poder que criou todo o universo está a nosso favor, direcionado pela Providência do Deus bondoso.
Quando enfrentamos problemas humanamente insolúveis, que se prolongam, não raro sucumbimos a muitas ansiedades. Todavia, devemos sempre lembrar do Deus providente que é Pai zeloso. Ao invés de desconfiarmos da vontade de Deus aprendamos a descansar confiadamente. O Senhor é pleno de misericórdia e já deu aquilo de mais importante e incomparável: a vida de seu Filho. Ora, se ele foi capaz de dar o mais valioso não faria tudo para garantir que tal sacrifício não seja em vão? O Senhor nos guarda e cuida dos seus filhos. Jamais duvidemos dessa verdade, permitindo-nos corroer por ansiedades sem fim. Descansemos em nosso Salvador. Tenha um abençoado dia da presença de Jesus
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