sexta-feira, 28 de novembro de 2025

REALIDADE

 A realidade da vida

“Vi ainda todas as opressões que se fazem debaixo do sol: vi as lágrimas dos que foram oprimidos, sem que ninguém os consolasse; vi a violência na mão dos opressores, sem que ninguém consolasse os oprimidos” (Ec 4.1).
É inquestionável que todos, sem exceção, enfrentam alguma espécie de dificuldade nesta terra. O que certamente varia é a frequência e a intensidade de tais acontecimentos. Devido ao fato inegável que há dores, perdas e tristezas nesta terra, comumente o ser-humano se polariza em um dos extremos: ou se torna negacionista, esquecendo-se que vive em um mundo de dores, ou se torna amedrontado com tudo e todos, esperando sempre o pior.
Colocando isso de outra forma, assume postura otimista ou pessimista. O crente não deve estar nos extremos do pessimismo ou do otimismo, mas ser realista, sabendo que todas as coisas estão nas mãos de Deus. Dessa forma, há dias maus, de sofrimento e dores, mas também dias quando todas as coisas parecem ouvir os nossos melhores pensamentos e desejos. Nossa visão de mundo realista deve enxergar a existência como ela é. Reconhecer que há maldade no mundo e que ela interage nos acontecimentos. Há um diabo e os homens são maus.
Há graus diferentes no exercício da maldade por parte dos homens e por parte dos demônios. Essa verdade é importante para não vivermos uma utópica crença na qual o bem sempre será coroado com a justiça. Muitos vivem um evangelho existencial e eticamente onírico, acreditando que o bem sempre prevalecerá. Essa é uma verdade fundamental e real apenas do ponto de vista da eternidade. Em um mundo amaldiçoado pelo pecado, por vezes, e muitas vezes, é a injustiça que impera e o mal que prevalece.
Temos que ter cuidado para não entendermos com isso que Deus está inativo ou insensível à realidade do mundo que ele criou, ou, que a existência ocorre sem rumo ou qualquer controle. Na verdade, cada sofrimento causado por injustiças se soma a todos os demais como consequências da escolha humana pelo pecado. Deus haverá de vindicar e honrar todos aqueles que creem e se levantará mesmo contra as injustiças praticadas pelos ímpios contra seus pares. No entanto, isso só ocorrerá definitivamente no retorno de Cristo. Até lá, o Senhor inclina a mesa da existência, fazendo convergir todos os acontecimentos deste mundo mal para a realização de seu propósito eterno.
O ser-humano é naturalmente vil e egoísta. As virtudes humanas mais ou menos reconhecidas pelos homens têm prazo de validade e condições próprias para se manifestarem. Há corações mais voltados para as trevas, e aqueles capazes de distinguir trevas não tão densas. Contudo, o que tem que ficar claro é que não haverá um não-salvo que agirá conforme a vontade de Deus. Suas ações, por mais aprovadas que sejam diante dos homens, jamais serão reconhecidas como “boas” diante de Deus. Geralmente o que podemos ver de um pecador é apenas aquilo que ele quer que nós vejamos. Nossa visão se limita ao exterior. Apenas Deus conhece realmente o coração de um pecador. Só ele sabe os meandros da alma de um filho de Adão.
Essa visão é real, mas enfatiza, tão-somente, a capacidade humana de ler os acontecimentos com olhos físicos e mortais. No livro de Eclesiastes, Salomão se propõe a mostrar uma visão humana de toda realidade, o mundo caído como ele é. Tal visão é interessante, pois é o entendimento do sábio. Sábio é aquele que consegue enxergar o que é um mundo sem Deus, a existência de um homem caído sem Cristo. Não há esperança! Não há explicações ou recursos para entender a própria realidade.
Para o ímpio, a vida se assemelha a pensamentos que vão e vem sem maiores consequências, algo que se dissipa com o tempo. Se se desconsidera Deus, a existência é uma miragem. A realidade realmente não existe, é limitada ao momento, um ponto de contato das obras e da experiência no tempo. Viver no tempo e no espaço para o ímpio é uma contradição, pois finalmente o tempo aniquilará o espaço no qual ele vive. A vida seria o desafio de dar sentido ao enorme nada. Para aquele que não admite a existência de Deus como afirmada nas Escrituras, não há o menor sentido na vida. Os dias se passam na vertigem do tempo, na insegurança do fim certo que se aproxima imprevisível.
Não há sentido nas obras, pois nem mesmo elas têm o poder de se eternizar. Não permanecerão vestígios da passagem de um ser-humano após a morte. Mesmo aqueles que produziram grande coisas, marcando com o bem ou com o mal a história, sua lembrança estará cada vez mais soterrada por acontecimentos que vão se acumulando, se sobrepondo com o colecionar dos dias, tornando as vidas pretéritas mais e mais esquecidas e distanciadas no tempo em relação a um presente que parece estar sempre de costas para o passado, correndo velozmente para o futuro. Tudo é apagado pelo tempo.
Para aquele que vive esquecido de Deus no apagamento de sua própria história, consequentemente não há padrão para o certo e o errado, apenas a necessidade de satisfazer suas vontades, por mais terríveis que sejam. Essa é a única forma de sentir o “existir” no tempo que tem nesta terra. A existência passa a ser o sentido da vida, o sentir-se existindo. O mal prevalece e o bem se torna utópico. Contudo, Deus não só existe, como também não se ocultou da vista dos homens, apesar do pecado. Sua glória está estampada em toda Criação, afirmando sua existência. A ordem que há na Criação, a inteligência que se percebe, são provas indeléveis de que o Criador não só estabeleceu leis e princípios que regem todas as criaturas, como também mostram que é ele quem mantem tudo funcionando. A finitude dos seres evidencia que eles não têm capacidade própria de se manter, muito menos, de garantir a ordem de sua própria existência.
É importante, como sábios, entender o que é um mundo sem Deus. É exatamente isso que nos faz valorizar o conhecimento que temos na Palavra. A angústia e a depressão chegam àquele que não tiver uma base sólida de conhecimento da verdade, suficiente para erradicar toda a insegurança e medo da própria existência. Cristo é chamado de “vida” de várias formas no Novo Testamento, porque nele é revelada e está a verdadeira vida. Trata-se de uma existência com conteúdo, não vazia, preenchida com a verdade. O não-crente só tem uma forma de existir: não pensando em sua própria realidade. Se o fizer, perceberá o profundo vazio, a inutilidade de seus atos, a hipocrisia de seu ser, a futilidade de seus dias.
O crente, todavia, percebe que, ainda que aparentemente o mal impere, que os oprimidos e os que sofrem violência não recebam ajuda ou justiça nesta terra, na verdade tudo está firmemente estabelecido por Deus. Ele executa juízo e justiça, até mesmo por meio de alguns atos antecipatórios do seu julgamento final na história. O crente descansa na solidez de uma vida consistente, reconhecendo a validade da retidão e das obras, se feitas em sua união com Cristo. A eternidade já começou a ser vivida por ele.
O mundo passará, bem como toda a sua iniquidade, mas os salvos permanecerão. A vida é o próprio Deus em nós, seu Santo Espírito que já nos fez morada. Jamais estamos sozinhos. A morte que, para o homem caído, é experiência de absoluta solidão, para o crente é a companhia de Cristo nos conduzindo para os braços do Pai. Compreendamos o vazio do mundo, não para sofrermos a desolação de toda insegurança e fragilidade interiores, mas para exaltarmos a verdadeira vida, a única realidade, que só pode conhecer aquele que está em Cristo. Enquanto o ímpio faz planos para esta terra, o crente vive propósitos eternos. Tenha um abençoado dia na presença de Jesus (

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