Resido num convento onde estão vários freis idosos e alguns em tratamento de saúde. A luta pela vida se faz diariamente visível. Todos, inclusive eu, caminhamos para o término, mas não para o fim. A vida é infinitamente maior do que o tempo que permanecemos no corpo físico. Confesso que pensar na imortalidade da alma é um alento e uma alegre esperança. A consciência da finitude não é um motivo para medo, mas para profundidade. Quando percebemos que o tempo é limitado, cada gesto ganha propósito. Não estamos aqui para carregar o peso do mundo nem para resolver todas as dores que encontramos no caminho. Há responsabilidades que ultrapassam nossas mãos e expectativas que fogem das nossas forças. A maturidade surge quando entendemos que a mudança real começa na interioridade, nesse terreno discreto onde pensamentos, escolhas e atitudes se formam. É na alma que se desenha a maneira como vemos o outro, como lemos as circunstâncias, como devolvemos à vida aquilo que recebemos dela. Ao tentar transformar o que está fora sem primeiro transformar o que está dentro, criamos desgaste, frustração e até angústia. Mas quando a mudança nasce do coração, ela se torna semente fértil. O mundo se ilumina a partir de pequenas atitudes: uma palavra que acolhe, um silêncio que respeita, um perdão que liberta, uma renúncia que pacifica. Não é preciso grandiosidade para fazer diferença; é preciso autenticidade. A transformação interior é um processo constante. Envolve reconhecer limites, curar feridas, rever posições, abrir espaço para o novo. A cada mudança pessoal, algo ao redor também muda, ainda que discretamente. A quietude interna gera gestos mais sábios, relações mais leves, escolhas mais verdadeiras. E, pouco a pouco, o lugar onde estamos se torna mais habitável, não porque o mundo inteiro se transformou, mas porque nós nos tornamos mais conscientes dentro dele. A vida é breve, mas é suficiente para aprender a ser melhor, para cultivar amor onde antes havia pressa, para construir paz onde antes havia ruído. E, ao final, descobrimos que a maior contribuição que podemos oferecer ao mundo é justamente essa: a nossa própria transformação.
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