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domingo, 6 de setembro de 2015
FURUNCULOS
“Tá doendo, mãe”
“Vai doer mais ainda se eu não espremer”
Esse é o trecho de um diálogo repetido várias vezes durante a minha infância. Era aparecer com um amarelaço na pele para que a sentença fosse proferida: o menino “tá com furunco”. A noite, depois do banho, o ritual era preparado: uma toalha, uma bacia com água quente, uma agulha e as mãos da minha mãe prontas a espremer a minha pele até que houvesse uma espécie de erupção naquela chaga fétida e purulenta.
Esquentava a agulha, furava o local e espremia, espremia, espremia…
Quanto mais achava que tinha terminado, mais pus minava daquele buraco. Meus reclames doloridos pareciam motivar minha mãe a espremer com mais força. É estranho pensar que uma cura possa causar dores quase que insuportáveis.
Essa memória da minha infância auxiliou a compreender um pouco mais sobre algumas dores que Deus permite que eu viva. São minhas chagas, abertas e necessitadas de cuidados, que me fazem gritar e pedir socorro ao Ser que tudo criou.
Quando permito, Deus realiza curas. E elas são diversas e ainda muito ignoradas em função de uma razão exagerada em que a ciência tudo pode satisfazer, ou de uma fé muito fundamentalista que não enxerga o evidente.
Entendi que para curar é preciso sofrer. Há efeitos colaterais quando o tratamento é apenas via oral. Nos últimos meses enquanto terminava minha graduação, alguns professores ministravam verdadeiras drágeas (leituras) que provocavam os mais diversos efeitos colaterais. Curar a ignorância dá dor de cabeça, sono, irritação…
Há curas que necessitam a realização de “cortes”. Cortar o açúcar, o leite, as gorduras, o álcool, o tabaco, o orçamento…
Após abrir feridas é preciso mexê-las. A anestesia é momentânea. O sofrimento ocorrerá de outra forma durante a recuperação. Mesmo após processos de cura, ainda é possível que a dor volte com mais intensidade, mas é por tempo determinado. Os pontos, em breve, serão retirados.
O médico Jesus recomenda que o tratamento seja realizado de modo continuado.
Imagino o que teria acontecido se minha mãe tivesse se preocupado mais com meus gritos do que com a minha saúde. Ao espremer furúnculos, dona Ana Izabel me ensinou que quem ama não tem medo de fazer sofrer para fazer feliz.
Pediu a Deus a cura e mesmo assim ainda sofre?
Talvez essas dores intensas, geradas com uma vida de oração e de renúncias, sejam sinais de que Jesus já está espremendo furúnculos. Seus gritos pedem que pare, mas Ele já tem liberdade suficiente em sua vida para decidir continuar e curar essa enfermidade de uma vez por todas.
Vai doer. Mas vai passar…
…pra sempre!
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