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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

SOBROU?

Em muitas ruas de cidades empobrecidas, é comum, no começo da tarde, pessoas chamarem os moradores ao portão de sua casas com uma indagação: -- Sobrou? A pergunta é feita por pessoas que, não tendo comida em suas mesas, pedem aos que, tendo-a, podem oferecer o que lhes sobejou. Quem tem e diz "sim" é solidário. Bom seria que a solidariedade precisasse se exercitar em palavras de conforto e ânimo aos que estão desolados mas não pela fome. É valiosa a solidariedade dispensada a quem está na dependência química. É confortador notar um gesto amigo que atenua o peso de uma tragédia. É digno de registro a acolhida a quem vê no próprio corpo as feridas deixadas pela perda. É dramático quando as mãos se estendem em busca de alimento como vozes sem conta perguntando se sobrou. É um insulto à humanidade quando o que sobra vai para o lixo. E uma expressão de severa desumanidade não escutar o "sobrou?" que alguém, estranho ou próximo, profere. É aviltante para quem precisa comer ouvir explicações sobre a sua condição ou condenações para o seu triste estado, por causa de crônica insensibilidade ou preconceitos enraizados. Ninguém deveria precisar ir em busca do que sobrou. Humanos são os que vão ao encontro dos que não têm. Solidariedade não devia precisar ser ensinada, porque a nossa igualdade uns com os outros a impõe. Solidariedade devia ser algo natural em nós, pelo que a falta dela nos deveria envergonhar. Solidariedade não devia ser elogiada, mas praticada como dever moral de cada um de nós, Solidariedade é gesto de pessoas espirituais, que são aquelas que almejam ir além de satisfazer os desejos da sua pele.

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