Colecionamos datas, momentos, prazeres. A gente não esquece, mas o mundo sim. Vivemos quase como se fosse um milagre, uma benção, ou até uma perdição. Marcamos território até que a nossa anatomia, de cansada não dê trégua e vá aos poucos envergando. O tempo passa, meu caro. Passa para todos!
Quem com o tempo, consegue ainda sorrir, sonhar, ouvir bonitas canções, costurar fantasias de primaveras bem coloridas, com cheiro de flor no quintal, esse, é como uma luz no meio de todo esse breu.
A gente vê notícias quase sem acreditar, que o mundo faz cara feia para quem outrora foi viçoso, ternurento e audacioso, mas hoje está apenas contemplando a vida da janela. Querer é um verbo conjugado por quem deseja ser lembrado ainda que por breve momento.
A gente jura que a história de cada um é importante. E é, quando tem quem escute. Pouco adianta ter 60 luas, duas voltas de estradas, marcas de esfolados, uma árvore plantada, se não há mais ninguém para discordar de suas vivências. A vida é louca! Quando a gente viveu muito e pode fazer escolhas caprichadas, o reumatismo não deixa a gente dar muitos passos, a escada parece grande demais, os planos e projetos parecem não levar a lugar nenhum, alguns dos que te ouviam já se foram e o sonho é conseguir dormir a noite toda sem nenhum sobressalto.
Vez ou outra a exaustão toma conta, a vista fica turva, as pernas ficam pesadas.
Há dias de receitas novas,de fotos fotos amareladas, de chazinhos. Dias de arriscar no alongamento e caminhar à tardinha pelas calçadas para esticar o corpo. E, apesar de tudo a gente ri e sabe reconhecer o nosso destino. A gente coloca um vestidinho leve, de cor suave, prende o cabelo e agasalha o coração no que sobra.
Sobra saudade.
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