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domingo, 24 de setembro de 2023

PROPOSITO

 Talvez esta seja uma afirmação óbvia, mas o aconselhamento bíblico deve ser intencional. Ele deve ter um propósito definido. Mais uma vez, talvez isso seja óbvio, mas em minha experiência no preparo de outros conselheiros, e também quando eu mesmo procurei crescer em minhas habilidades como conselheiro, o aconselhamento intencional tem sido uma das habilidades mais desafiadoras e importantes entre as que precisamos desenvolver.

A fim de ajudá-lo a entender melhor o que quero dizer com aconselhamento bíblico intencional, vou começar por lhe dizer aquilo que o aconselhamento intencional não é.

O aconselhamento bíblico intencional não é um encontro de estudo bíblico
Quando digo que o aconselhamento bíblico não é um encontro de estudo bíblico, certamente não estou insinuando que a Bíblia, ou mesmo estudar a Bíblia, não é importante no aconselhamento bíblico. No entanto, normalmente, um encontro de estudo bíblico tem um escopo muito amplo.

Vamos tomar por exemplo um grupo de estudo bíblico que se reúne semanalmente. O objetivo de homens e mulheres que participam do grupo para estudar a Bíblia juntos é crescer em seu entendimento das Escrituras e, por meio desse entendimento, crescer e se tornar mais parecidos com Cristo. No entanto, o grupo de estudo bíblico não adapta a sequência de estudos aos problemas e momentos de vida específicos de cada um dos participantes daquele encontro. Os assuntos são previamente decididos e, independentemente do que aconteceu durante a semana na vida de cada um dos participantes ou dos problemas enfrentados na semana por um ou outro daqueles que ali se reúnem, os textos bíblicos a serem estudados já estão escolhidos.

Esse tipo de encontro de estudo bíblico não é aconselhamento bíblico na definição restrita de aconselhamento bíblico, o seja, o encontro semanal de um conselheiro com um aconselhado por uma ou duas horas para ajudar o aconselhado a passar por uma fase de vida especificamente difícil, auxiliando-o  a entender e aplicar a Palavra de Deus especificamente  à sua situação.

O aconselhamento bíblico intencional não é uma pregação
A pregação é maravilhosa e extremamente importante. No entanto, aconselhamento bíblico não é um sermão pregado para uma só pessoa. Acho que todos nós conselheiros, provavelmente, já fizemos isso algumas vezes. Quando olhamos para trás, vemos que alguns encontros foram exatamente isso: eu tinha algumas verdades a dizer, eu as disse e depois passei uma atividade prática para o aconselhado fazer em casa durante a semana.

O aconselhamento bíblico não é uma via de mão única em que o conselheiro comunica a verdade enquanto o aconselhado apenas ouve. Uma pequena ressalva: isso não significa que nunca aconteçam longos períodos de ensino no aconselhamento bíblico. No entanto, se este é o seu modus operandi semana após semana, quero lhe dizer em amor que você não está praticando o aconselhamento bíblico.

O aconselhamento bíblico intencional não é apenas oferecer um ouvido atento e compassivo
Se você está aconselhando alguém, ouvir é de enorme importância. Nunca é demais enfatizar esse aspecto do aconselhamento. No entanto, se você permitir, alguns aconselhados ocuparão o inteiro tempo do encontro falando. Para aconselhar, e especialmente para que aconteça um aconselhamento bíblico, deve haver espaço para transmitir intencionalmente o conselho das Escrituras. Isso pode acontecer ao direcionar a conversa por meio de boas perguntas, levando o aconselhado à verdade bíblica, ou também apontando diretamente para a verdade bíblica e como ela se aplica à situação do aconselhado.

O aconselhamento bíblico intencional não é apenas uma maneira para o aconselhado ocupar uma hora de sua semana
Você já teve um aconselhado com quem se encontrou semana após semana para depois se perguntar: “Por que ele está vindo?” Seu questionamento pode não ser necessariamente por ele não o ouvir ou deixar de fazer as atividades práticas que você pede para fazer durante a semana, mas por ele aparecer todas as semanas e olhar para você sem demonstrar interesse, sem participar ativamente da conversa.

Por exemplo, aconselhei um rapaz durante oito meses no Restoration Men’s Residential Addiction Ministry e, infelizmente, não vi nenhum crescimento ser alcançado. No entanto, ele perguntou se eu poderia continuar a aconselhá-lo ou passá-lo para outro conselheiro. Minha pergunta para ele foi: “Por que você quer levar adiante o aconselhamento? Você foi aconselhado durante os últimos oito meses e isso parece não ter ajudado em nada”. Ele respondeu: “Sabe, o aconselhamento tem sido uma rotina para mim desde os meus 16 anos”. Ele tinha 27 anos de idade quando me disse isso. Continuar com o aconselhamento bíblico porque tem sido uma rotina nos últimos 11 anos não é uma boa razão. Os aconselhados não deveriam pensar no encontro semanal apenas como uma forma de preencher uma hora de seu tempo e marcar numa lista como “feito”, e os conselheiros também não deveriam fazer isso. Abrir espaço em sua agenda encerrando os encontros com um aconselhado nem sempre é uma má administração do tempo. Às vezes, levar adiante por mais uma semana um aconselhamento sem propósito é, sim, uma má administração do tempo.

Se destacamos quatro situações que não cabem na definição de aconselhamento bíblico intencional, então o que é aconselhamento intencional? O ponto principal a que me refiro aqui é que o aconselhamento bíblico intencional é especificamente focado e proposital, em oposição a dizer que o aconselhamento bíblico é proposital de um modo geral ou, ainda pior, é sem propósito.

Três perguntas a que você precisa ter respondido para que o seu aconselhamento seja intencional:
nº 1. Em que ponto o meu aconselhado está atualmente?
nº 2. Em que ponto o meu aconselhado precisa chegar?
nº 3. O que é mais importante para ajudá-lo a dar o próximo passo?

Você precisa ter sempre em mente essas perguntas. No início do aconselhamento, você coletará muitos dados e procurará entender a história do se aconselhado para que possa ter uma resposta consistente para a pergunta nº 1. Se você não coletar dados, estará caindo em uma das quatro práticas  que já vimos que não caracterizam o aconselhamento bíblico ou em uma combinação das quatro.  

Depois de ter adquirido um bom conhecimento do ponto em que o seu aconselhado se encontra no momento, você pode responder à pergunta nº 2. Se você não responder à pergunta nº 2, novamente, você poderá cair em uma das quatro práticas que não identificam o aconselhamento bíblico o em uma combinação das quatro. Existem respostas gerais muito importantes para a pergunta nº 2 como, por exemplo, “tornar-se mais parecido com Cristo”. Essa é uma resposta importante, mas quando estamos aconselhando uma pessoa específica, precisamos de uma resposta específica de como aquela pessoa deve ser mais parecida com Cristo.

Depois de ter as respostas para as perguntas nº 1 e nº 2, você precisa tomar uma decisão sobre o que priorizar. A pergunta nº 3 é uma questão de sabedoria e discernimento para identificar qual é o aspecto mais importante a ser tratado para que aquela pessoa possa dar um passo à frente.

Às vezes, a pergunta nº 3 é realmente muito difícil de responder. É aqui que, como conselheiro bíblico, você fica realmente feliz por contar com a direção do Espírito Santo e a sabedoria do Deus soberano. Dependermos da atuação do Espírito Santo e da sabedoria de Deus não significa que somos preguiçosos. Significa que podemos nos regozijar porque se – ou, melhor ainda, quando – priorizamos incorretamente, Deus permanece capaz de usar nosso fracasso para a Sua glória e para o bem do nosso aconselhado. Deus nunca erra (cf. Rm. 11.33-36 ).

Visto não ser fácil e imediato responder à pergunta nº 3, vejo que, às vezes, os conselheiros bíblicos desistem de tentar respondê-la e simplesmente vão para um tópico que não é o mais importante, mas é mais tranquilo/familiar para eles. Eles preferem escolher passagens bíblicas que são mais fáceis de ensinar e aplicar no aconselhamento, ou podem pedir a leitura de livros e artigos que eles já conhecem muito bem. Eu já fiz isso. Penso que todos nós já fizemos.

Às vezes, leva algumas semanas para realmente descobrir qual é a resposta á pergunta nº 3. Não se preocupe em não ter logo essa resposta. Algumas vezes, é preciso não ter pressa e esperar o tempo certo para aquele aconselhado. Esperar, descansando na atuação do Senhor, não é preguiça nem inatividade. No entanto, como conselheiros, precisamos ter certeza de que estamos sempre ativos em ouvir, fazer perguntas e orar em busca de discernir qual é realmente a resposta para a pergunta nº 3. Não podemos esquecer que para responder bem a essa pergunta, precisamos ter uma resposta específica para cada aconselhado.

Conclusão
Conselheiros, posso encorajá-los a orar pedindo que Deus os ajude a ser intencionais e ter um propósito definido para cada encontro de aconselhamento? 

  • Não basta ocupar uma hora de tempo seu e do seu aconselhado. 
  • Não conduza o encontro como apenas um estudo bíblico geral. 
  • Não se limite apenas a ouvir sem oferecer uma direção clara. 
  • Não seja apenas um professor ou pregador. 

Nosso Deus é o Bom Pastor que nos conhece pelo nome e nos chama especificamente pelo nosso nome (cf. João 10.3 ). Espero que nós conselheiros nos dirijamos especificamente aos nossos aconselhados, em vez de apenas abordá-los de maneira geral como se fossem todos iguais.


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