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quinta-feira, 28 de maio de 2015

CARGOPATIA

Um neologismo, mas é pura verdade. Se a cardiopatia é a doença do coração, a cargopatia é a doença por cargo. Quando se usa o cargo para a projeção pessoal, numa perspectiva narcisista. É impressionante como temos enfermos na busca de cargos. É uma doença que tem atingido líderes de igrejas e denominações. As pessoas cometidas desta doença são geralmente de origem humilde. Elas têm fome e sede por cargos e não pelas cargas. Desejam se afirmar, ter poder e influência. É triste constatarmos elementos tanto no ministério pastoral quanto em liderança de denominação vivendo a luta por cargos, por abrangência em sua liderança, em seu domínio doentio. Confesso que estou abismado por ver lutas políticas, conchavos e arranjos na busca de cargos. Tratando-se de ambiente evangélico é pior ainda. Nesta reflexão gostaria de abordar os seguintes pontos: o desejo de ser reconhecido; o prejuízo da família; os custos da manutenção do cargo e o marketing pessoal. O DESEJO DE SER RECONHECIDO O homem, em sua natureza adâmica, tem fome e sede de reconhecimento, de ser notado e ovacionado. Gosta do pódio. A sua satisfação está em seu próprio egocentrismo. É fruto de uma cardiopatia congênita. A cargopatia cria mecanismos de defesa na imagem daquele que a possui. Aquele que é acometido pela cargopatia trabalha para construir uma rede de bajuladores de plantão, homens e mulheres que o admiram em sua performance. Ele amealha “amigos” que o promovem. Trabalha fortemente para que a sua liderança seja blindada. Ele até diz que “a glória é de Deus”, mas fica muito aborrecido quando não é lembrado pelas pessoas com as quais trabalha. O desejo de ser reconhecido, notado, passa por uma alma egocêntrica, um antropocentrismo incrustado. A estrutura do cargopata é toda voltada para o pódio, para o estrelismo. Aliás, aprecia também o estilismo. Geralmente ele ou ela é narcisista, isto é, tem uma verdadeira fixação por si mesmo, por tudo o que é e faz. O elogio o infla de forma avassaladora. Além do desejo de ser reconhecido, o cargopata ou aquele que sofre de cargopatia prejudica a família e todos aqueles que tentam questioná-lo. O PREJUÍZO DA FAMÍLIA Nesta luta por cargos, o cargopata prejudica os mais próximos, os da sua família. Ele tem mais tempo para os cargos do que para estar com os seus entes queridos e os amigos. Há uma fixação pela proeminência e produtividade. Ele é utilitarista. Ao ser dominado pelo instinto do cargo, ele se esquece do mais precioso abaixo do Senhor que é a família. Ele não tem tempo para a esposa e para os filhos. A esposa fica carente e os filhos desajustados. A sua desculpa é que “está tratando dos negócios de Deus”. Tratar destes negócios significa equilíbrio e descentralização. Há líderes que lutam ferozmente por cargos e perdem a família. Ganham posições na instituição e ficam sem os seus. O lar se torna um hotel. A família sofre com as viagens, reuniões e outros compromissos. Há um desequilíbrio que contribui para a enfermidade dos seus familiares. Paulo, tratando com Timóteo acerca dos deveres dos bispos, dos pastores e líderes, diz: “Deve governar bem a própria casa, mantendo os filhos em sujeição, com todo respeito (pois, se alguém não governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?) (1 Tm 3.4,5). O texto é claríssimo. Infelizmente o cargopata não tem este equilíbrio. A família é muito mais importante do que a luta por cargos ou do que os próprios cargos. Mas há um custo pela manutenção deles. O CUSTO PELA MANUTENÇÃO DE CARGOS O custo pela manutenção dos cargos é muito alto, pois é amar mais o cargo do que o próprio Senhor. Gasta-se tempo precioso. Desgasta a saúde, a família e os amigos verdadeiros. Não vale a pena manter-se na função e perder preciosidades que o Senhor nos concede por Sua maravilhosa graça. Outra perda importante é a capacidade de meditação, de reflexão e crescimento pessoal. A Bíblia só é usada para o seu trabalho ou profissionalmente. A luta pela manutenção dos cargos traz seqüelas terríveis para a vida física, emocional, ética e espiritual. Muitas vezes se negocia pela mentira, a hipocrisia, traição e por outros mecanismos infernais. A pessoa que luta por cargos geralmente é vazia, fútil e imatura. Ela mergulha num ativismo que sempre é prejudicial. Sabemos que o ativismo é uma deformação da atividade equilibrada. Os que lutam por posições são pessoas gananciosas. São implacáveis com os pensam de forma diferente. Têm aparência de piedade ou religiosidade, mas rejeitando-lhe o poder (2 Tm 3.5). Essa luta pelos cargos nos remete para o último ponto, que é o marketing pessoal. MARKETING PESSOAL Foi isto que o jurista Luiz Edson Fachin fez ao visitar os 81 senadores visando a sua eleição para o Supremo Tribunal Federal, o que aconteceu em 19 de maio de 2015, pelo plenário do Senado Federal. O que busca cargos tem sede por marketing, em projetar-se nos meios de comunicação dentro e fora do contexto evangélico. Faz propaganda de si mesmo. Aparece muito bem nos jornais evangélicos, dá entrevistas, percorre as assembléias, promovendo-se a si mesmo. Geralmente eles são jeitosos, bem trajados, sorridentes e muito educados. São tomados pelo personalismo. Eles têm uma personalidade muito forte. São carismáticos. Trabalham para a massificação de seu nome, seu trabalho e seus sonhos. Projetam-se a si mesmos em detrimento da projeção de Cristo Jesus. Estão na contramão de João Batista que declarou acerca de Cristo: “É necessário que Ele cresça e eu diminua” (João 3.30). Na verdade, o marketing pessoal é o que mais temos visto no meio evangélico, inclusive entre nós, batistas. É lamentável, meus amados irmãos. Só há um modo de ficar curado desta cargopatia: é submeter-se ao aprendizado de Jesus, viver aos pés daquele que é manso e humilde de coração (Mt 11.29). É tomar a cruz, segui-lO e servi-lO (Mt 16.24-27). É humildemente levar a carga do irmão (Gl 6.2). O cargopata está doente e precisa de tratamento urgente. Necessita caminhar com Cristo Jesus a cada dia, pois Ele não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos (Mt 20.28). Que sirvamos com os cargos que o Pai determinou por Sua graça e não os cargos do meu capricho, da minha vontade e do meu sentimento doentio, que adoece as pessoas. Que o Senhor nos livre do desejo de ser reconhecidos; de prejudicar a família por causa de cargos; de pagar o preço da cargopatia e do marketing pessoal que exalta o homem e ofusca a Pessoa de Cristo. Que antes dos cargos que venham as cargas. Ao assumirmos posições de destaque, o façamos, acima de tudo, para servir às pessoas e para glorificar o nosso Grande Deus, Autor da nossa salvação!

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